015| O sol já nasceu na fazendinha

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No fim das contas ele entregou o cartão Black em minhas mãos juntamente com a senha, obviamente aproveitei mais ainda dá situação e pedi a maior barca de açaí que tinha disponível.

Escolhi um filme da Barbie mesmo tendo a plena ciência de que o Dimitri iria me julgar pelo resto da minha vida, mas poxa, é Barbie!

— Tem outro filme mais interessante não? Algo tipo cinquenta tons de cinza.

— Prefiro Barbie — Respondi ao dar play em Barbie e a escola de princesas.

Barbie era simplesmente um patrimônio cultural junto às três espiãs demais, acho que nunca perdoei a Fátima Bernardes, mesmo não sendo culpa dela, em tirar a TV globinho do ar.

Dimitri encarava o filme com uma expressão de tédio, a cada dança ou música ele fazia questão de revirar os olhos e demostrar que estava odiando o filme.

Uma luz roxa e cintilante cortou o céu ao ponto de ser vista através da cortina do quarto, um som estridente ressoou logo em seguida indicando que uma chuva forte estava prestes a chegar.

— Eu vou pegar uma vela com a minha avó.

Caminhei até a porta, mas outro trovão ecoou e me fez voltar automaticamente até colidir com o corpo morno do Dimitri.

— Não me diga que você tem medo de trovões — Debochou.

— Cada um com seus medos Dimitri. Você não tem medos?

— Antes só tinha o medo de perder a minha família — Ponderou ao fechar a cortina quando o ventou abriu a janela — Mas atualmente outra coisa anda me assustando.

— Tipo?

— Nada relevante.

Outro raio seguido de um trovão atravessou o céu e fez a energia da casa cair, aguardei alguns segundos, mas outro raio caiu e dessa vez atingiu o chão ao ponto de fazer o chão da casa estremecer com o estrondo.

— Merda.

Corri até o quarto dos meus avós e eles já estavam de pé, meu avô ia sair para ver como estava os animais, mas a minha velha nunca ia deixar ele sair nessa tempestade.

— Pelo amor de Deus Cecília, você sabe que tem para-raio na fazenda.

— E isso vai impedir um raio de cair em cima da sua cabeça mula teimosa?!

Aproveitei a briga deles e corri até a área onde ficava os cavalos, os animais estavam todos assustados a cada trovão que ressoava pelos céus.

Ajudei o Pedro, outro teimoso que iria ganhar uma bronca, a tirar os cavalos e éguas da baia e guiá-los até o silo onde eles estariam mais protegidos dos raios e que também era aprova de sons.

A chuva caiu de uma sorte tão forte ao ponto do aroma de grama e terra molhada invadir as minhas narinas, Pedro e eu corríamos de volta para o casarão quando um raio caiu e atingiu a árvore próxima a onde estávamos.

— Cuidado Arthur! — Pedro gritou ao me puxar antes que a árvore caísse em cima de mim.

Voltamos para o casarão sendo recepcionados por uma Cecília furiosa e um Joaquim resmungão, a minha avó puxou minha orelha e me guiou até o banheiro para tomar um banho quente e remover as roupas molhadas pela água da chuva.

— Tenho a leve impressão que você gosta de se arriscar.

Dimitri parecia uma alma penada ao me olhar pela escuridão iluminada apenas com um velho candieiro, por sorte estava vestido com pelo menos uma cueca boxer.

— E eu tenho plena ciência que você ama o meu jeito — Rebati com um sorriso de lado deixando visível a minha covinha.

Caminhei de volta para o meu quarto e mesmo sem fome fui obrigado pela minha avó a beber achocolatado, um espirro singelo escapou dos meus lábios e eu rezei para que não fosse o princípio de uma gripe.

Refém por acasoWhere stories live. Discover now