Conjurando destinos - A herdeira de Hécate

Prólogo

Uma dor intensa me invadia de dentro para fora de uma forma que parecia que estavam arrancando meu coração, caída no chão de joelhos as lágrimas escorriam enquanto segurava o peito e a dor só aumentava a cada segundo que se passava, meus músculos se contraiam como se tivesse levado uma surra imensa, minha mente estava nublada e por alguns minutos que pareceram horas fiquei assim. 

Gradualmente minha mente foi clareando e então pude entender o que havia acontecido, eu havia acabado de perder uma parte de mim, a melhor parte de mim e ali outra dor tomou conta de mim e se misturou a raiva que estava sentindo, o tiraram de mim, tiraram meu irmão e eu nunca iria perdoar aqueles monstros. 

Senti um lampejo de magia saindo de mim e irradiando pelo local onde estava, como um tsunami levando tudo e todos que estavam no caminho. Alguns foram arremessados para longe, outros bateram em pedra, outros em árvores, alguns caíram no chão e por cima dos outros, alguns com vida ainda e outros sem ela, mas aquilo pouco me importava. Senti meu corpo flutuar e as lágrimas que caiam dos meus olhos pareciam rasgar minha pele como lâminas. 

Me dirigi para o centro do acampamento matando qualquer um que vinha me atacar, já não sentia remorso ao fazer aquilo, afinal não tinha me restado muita coisa e as poucas coisas que me restaram estavam nas mãos daquele desgraçado. Ao chegar lá, me deparei com a pior cena que podia presenciar: Kyle estava caído no chão e seu coração estava na mão de Juan; Emilly estava desacordada nos braços de Philips e Rachel estava abraçada ao corpo do meu irmão. 

— Ora, ora, vejam quem resolveu se juntar a nós finalmente — Juan olhou para mim rindo enquanto segurava o coração de Kyle ainda batendo em suas mãos. — Lili veio para a festa, o que achou do presente que te preparei?

O olhei com raiva imensa e segurei minha lança com força enquanto sentia e via uma aura roxa saindo de mim para o ambiente, vi meus amigos tremerem ao me encarar e por alguns instantes vi os olhos de Juan vacilar, então sorri e fui me aproximando lentamente. 

— Você cometeu um erro enorme ao fazer o que fez Juan… — Enquanto me aproximava, fiz uma barreira mágica ao redor dos meus amigos e os afastei dali. — Eu lhe avisei que nunca mexesse com minha família. 

— Você poderia ter evitado tudo isso se tivesse se juntado a mim, Lili, veja a destruição que você causou com sua teimosia em continuar ao lado daqueles que nos abandonaram. 

— Não delegue aos outros erros que você cometeu, nunca foi sobre estar ao lado dos deuses e sim sobre proteger a nossa raça e garantir nossa sobrevivência nesse mundo caótico…  

— Não me venha com falsa moralidade agora Lilith, esse lugar nunca foi nosso e nós nunca teremos direito a uma vida que não seja dedicada a servir aqueles merdas que infelizmente temos como pais e mães! 

— Talvez você tenha razão nessa parte, mas por que destruir nosso refúgio e matar milhares de inocentes? — Paro a alguns metros dele e o encaro nos olhos — Você é igual aos deuses, só se preocupa com o próprio umbigo…

— NÃO ME COMPARE AQUELES DESGRAÇADOS — Ele grita e arremessa o coração de Kyle longe. 

Nesse momento consigo recuperar o coração de meu irmão parando-o no ar e o trazendo para mim por meio da telecinesia, guardo-o junto ao meu peito e sorrio para o ser desprezível a minha frente me colocando em posição de batalha. 

— Tem razão, você não é igual a eles… — Avanço em sua direção com a lança que foi bloqueada pela espada dele e o olho nos olhos — Você é pior do que eles. 

Ali uma luta entre nós dois se inicia, o chão ao nosso redor treme a cada vez que as armas se encontram e alguns raios são lançados ao nosso redor, provenientes do poder dele. Alguns golpes são acertados de ambos os lados, mas nenhum dos dois parece ligar para isso, nosso foco era acabar um com o outro ali mesmo. 

A luta que começou no chão agora estava a alguns metros de distância do mesmo, uma cratera enorme estava embaixo de onde estávamos e até o céu estava inconformado com aquele embate, pois uma pesada chuva começou a descer e nos molhar. Um clarão no céu tirou minha visão por alguns segundos ao qual pude sentir a lâmina da espada dele perfurando meu ombro direito causando uma dor aguda, a lança que ia caindo foi segurada pela mão direita e atravessou o peito de Juan. 

Olhei para os seus olhos com pesar, mas, ao mesmo tempo, com ódio e dor. Observei a vida se esvaindo naqueles olhos azuis brilhantes. Quando tive a certeza de que estava perto de fazer a passagem, falei com ele. 

— Talvez em outra vida… — algumas lágrimas caíram dos meus olhos — Você me escolha ao invés da sua vontade de dominar o mundo…  

— Lili… Eu queria te dar o mundo… — A voz dele sai como um sussurro com um pouco de sangue que escorria do canto de sua boca. 

— Eu já tinha o mundo e você me o tirou, adeus Juan. 

Foram minhas últimas palavras para ele antes de puxar minha lança e enfiar novamente em seu peito, fazendo com que sua morte fosse mais rápida. Quando a puxei novamente, ela voltou a ser uma cobra prateada e grudou no meu braço, segurei o corpo daquele que amei e desci com ele até o chão, colocando-o com cuidado ali na terra molhada. Meu coração voltou a doer intensamente e gritos saíram da minha garganta. 

A chuva começou a se intensificar, como se o céu estivesse chorando junto comigo, como se compartilhasse a mesma dor. Olhei para cima e proferi insultos a Zeus e a metade do panteão olimpiano, expressando meu descontentamento e dor.

Após longos minutos, olhei para o corpo de Juan e tirei do bolso duas dracmas de Ouro para os seus olhos. Levantei-me e fui andando meio cambaleando para onde estava o corpo de Kyle. Tirei do meu peito o coração dele e o coloquei no lugar. Fechei o local com magia e abracei o corpo do meu precioso bebê com força enquanto chorava. 

— Você prometeu… Prometeu que não me deixaria… — Faço carinho em seu rosto enquanto as lágrimas descem e o molham. — O que faço agora…? Kyle para onde irei agora? 

Não sei ao certo quanto tempo passei ali abraçando ele até Rachel me abraçar por trás, fazer carinho nos meus cabelos e me entregar mais duas dracmas de Ouro. 

— Você deve colocar… — Sua voz sai chorosa e baixa. 

— Você coloca uma e eu outra, ok? — Suspiro e entrego uma moeda para ela. 

Juntamos as moedas nos olhos de Kyle e beijamos sua testa. Não poderíamos ter um funeral digno naquele momento, pois não tínhamos nem um abrigo para nos abrigar, quanto mais mortalhas para aqueles que se foram. Então, levantei e espalhei minha magia pelo acampamento, envolvendo os corpos dos mortos, para poderem ser preservados até podermos dar um funeral digno a todos…  

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