Seis mundos: Vinganças e retaliações (Parte 2)

Capítulo Treze

- Eos lhe contou? Você tem acesso a outros mortos?

- Queria eu ter. Não, ela me disse enquanto ainda era viva.

- Por que nunca revelou isso a Kastian?

- Pensei que Eos havia contato para ela assim como contou para mim.

- Então, prossiga. - Fecho a cortina do box e espalho um jato de água em meu corpo para dispersar o sabão. Me enrolo na toalha e sento na cama pronta para ouvir.

- Não faria diferença você com o sem roupa, sou um espírito. - Ela ri.

- Até alguns meses você era minha mulher, não há nada que já não tenha visto, mas evita distrair sua fala. - Rio de volta.

- Touché. Vocês tentaram ligar a alma de Estella a de Kastian, correto?

- Sim, foi o que fez com que ela não morresse completamente.

- Não, não foi.

- Não?

- Em partes não. A energia vital de Estella com certeza ajudou a estabilizar Kastian a um nível de coma sem riscos, porém não seria suficiente para trazê-la de volta ao normal. Antes mesmo de ela começar a morrer estive por perto, nossas almas são como uma e não podem viver sem a outra, como a minha em partes ainda está aqui, de certa forma ela não pode morrer completamente.

- Isso significa que ela não morre totalmente e sim fica naquele estado vegetativo sem previsão de melhora?

- Basicamente. Sei que disse que meu espírito continuará aqui até que o dela se vá também, entretanto, não é toda verdade. Esse meu estado tem um prazo de validade.

- Depois disso Kastian também se vai e não poderemos fazer nada a respeito...

- Sim. Por sorte temos entre três a seis meses até que isso aconteça.

- Como sabe o tempo específico?

- Como falei, Eos me contou certas coisas antes de morrer. Uma delas foi o extenso manual de: como agir caso você ou sua irmã morram separadamente uma da outra.

- Assuntos excelentes a serem discutos por mãe e filha. - Ironizo.

- Vão se provar úteis, então agradeça pelo meu desconforto na época. Todas as magias mais obscuras e poderosas vem dos demônios, acredito que todos já tenham notado. O aprisionamento, a ligação de almas, necromancia, entre outras que não aprendemos por terem se perdido com o tempo. A ligação de almas vai muito além da matéria física de um espírito, o próprio nome já sugere isso. Eos descreveu detalhadamente os processos que deveria fazer caso viesse a morrer antes de Kastian, pois como a ligação foi feita por ela, seu tempo de tolerância seria bem mais curto que o meu.

- Aparentemente a receita de como não deixar sua irmã morrer caso você morra não funcionou como o esperado.

- Não, funcionou bem até demais, ela está viva. Passei os últimos meses gastando todos os recursos espirituais que consegui com ela. Se não fosse por isso Kastian teria morrido na primeira semana após meu óbito. Infelizmente não consegui estabiliza-la sozinha, Estella teve seu papel nisso.

- A sua ligação não deveria ter sido cortada quando a de Estella se concretizou?

- É mais complexo do que isso. Uma vez ligada a alguém, nunca mais será desligada dela. É impossível ter ligação com duas matérias vivas, mas aparentemente isso não se aplica a quando uma morre.

- Ok, porém se você já fez tudo que lhe cabia, e já executou tudo que Eos te contou, o que veio fazer aqui? Não tem mais nada de conhecimento que possa ajudar.

- Não fiz tudo. Falei que te ajudaria a descobrir algo que a trouxesse de volta mais rápido, e talvez tenha uma leve ideia de como. Se meu espírito for colocado em seu corpo, talvez o alinhamento de nossas almas permaneça estável o suficiente para que ela viva normalmente.

- Certo, é uma possibilidade. Tem ideia de como fazer isso?

- Não, e é aí que você entra. Ouvi vocês falando que Psyche está trabalhando com necromancia, se conseguissemos trazer Eos de volta dos mortos por apenas alguns dias, podemos fazer esse processo, ela com certeza deve saber como.

- Você enlouqueceu de vez, não é mesmo?

- Sei que parece loucura, todavia, fazemos isso ou Kastian pode piorar a ponto de morrer nos próximos meses.

- Ela está estável, minha mãe disse que ela ficará em coma por dez anos no berço natureza, que é o que a está dando força vital no momento, no lugar de você ou Estella.

- Tenho grande respeito e admiração por Lilith, mas creio que apenas o berço natureza não será capaz de mantê-la por dez anos. Na verdade nem por um.

- Precisamos trazer Eos de volta.

- Nenhum de nós entende o suficiente de necromancia para isso, vamos precisar de Psyche. Agora como iremos capturar aquele demônio?

- Uma excelente pergunta.

- Ela está tendo lapsos, então pode ser que seja mais fácil do que antes.

- Lapsos?

- Sim. Como se não fosse ela agindo por si só, como se alguém ou algo a estivesse controlando.

- Ela está trabalhando com espectros, não me surpreende que eles queiram domina-la.

- Isso está a deixando mais vulnerável, com toda certeza. Então temos que agir com rapidez e inteligência. Assim, com uma baixa chance de sucesso, tentaremos captura-la.

- Espero que tudo dê certo ao menos uma vez.

- Não temos muitas escolhas, tem que dar certo.

- Exatamente. Nos vemos amanhã, vou ficar um pouco com minha irmã. E vocês tem muito o que preparar para os funerais.

- É extremamente estranho que você ainda esteja aqui, porém fico feliz de poder vê-la algumas últimas vezes. - Lyssa se vira para ir embora, contudo tento segurar o queria seu braço caso sua matéria estivesse presente pedindo para que espere um pouco. - Não tive oportunidade de me desculpar de forma correta com você.

- E nem precisa. Fiz o que tinha que fazer e você fez o que seu coração lhe mandou fazer. Foi errado, foi cruel, foi esmagador, mas foi melhor ter seguido o que queria antes de termos nos casado, do que se arrepender no altar ou dias depois do casamento. Seria pior. E sobre minha morte, eu escolhi pular na sua frente, você não tem culpa disso, foi minha escolha. - Assinto com a cabeça.

- Obrigado Lys. - Abri um sorriso de canto com pesar.

- Disponha. Se conseguir consertar toda essa bagunça, terá válido a pena morrer por você.

- É uma grande responsabilidade. Prometo que farei meu melhor.

- Sei disso, você sempre faz. - Ela anda até a porta e antes de ir olha para trás. - De preferência quando tudo acabar, construa uma praça com uma estátua gigantesca minha e me nomeie uma heroína. Agradeço. - Ela ri e se vai.

- Com certeza. - Digo para o vento, rindo também. Os próximos dias voltarão a ser como a meses atrás, sangue, vingança, ódio e rancor. Mas sinto que está prestes a terminar, de um jeito ou de outro, com a recuperação dos reinos, ou com a morte de todos nós.