Capítulo Oito

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- Khione, você está bem? - Meliorne questiona por ver as lágrimas em meu rosto.

- Já ouviu falar em deuses da magia?

- Sim, são lendas antigas.

- Não são lendas Meliorne. Áster, Estella e eu somos eles.

- É o que Arwen diz no manuscrito?

- Sim, devemos voltar a Niran e contar o que está escrito aqui aos demais. Depois de todos lerem veremos o que faremos. - Nos teletransporto de volta para o castelo e somos recebidos por gritos.

- Kastian! Kastian! - As exclamações de desespero ficam cada vez mais altas se misturando a um choro estridente. Corro até o quarto de minha irmã para ver o que está acontecendo e a cena que presencio é simplesmente terrível, minha cunhada está expelindo um líquido preto viscoso por todas as cavidades de seu rosto, seus olhos estão saltando da órbita e pedaços de seu corpo estão desaparecendo assim como vi Lyssa sumir em minha frente. - Não, Não, Khione, faça alguma coisa. - A dor e o desespero nos olhos de Estella parte meu coração.

- Acho que posso fazer algo, desde que me contou sobre o que viu em Elphia procurei lembrar ou saber sobre o laço de almas. Existe uma forma de Kastian viver e pensei muito antes de ter certeza que viria aqui revelar isso quando me chamou, Estella.

- Mãe, por favor, diga de uma vez, faça de uma vez, seja o que for.

- Podemos ligar a alma dela a de outro místico, assim ela viverá, mas existem consequências já que não é a primeira vez que Kastian se livraria da morte.

- O que aconteceria?

- Ela teria que passar uma década em descanso, reclusa de qualquer contato com pessoas, dentro de uma câmara com os elementos de sua criação, no caso dela em um berço natureza. Sua alma também só pode ser ligada ao místico vivo que ela mais ama.

- Faça. Espero que eu seja o místico vivo que ela mais ama, então enlace minha alma a dela, uma década é suportável para passar o resto da minha vida ao seu lado.

- Estella, você entende que se por algum motivo ela morrer depois disso, você morrerá também?

- Não me importo, faça antes que seja tarde mais.

- Muitas coisas podem dar errado, estamos lidando com a morte, tentando contorna-la pela segunda vez.

- Mãe! eu não me importo, o que me importa é que ela tenha chance de viver.

- Certo. - Lilith diz se aproximando da cama onde Estella e Kastian estão. - Deite do lado dela Estella, feche os olhos e respire fundo. - Suas mãos deslizam pelos corpos de ambas, vejo o rosto de minha irmã se retorcendo provavelmente de dor e agonia. Kastian agora está desacordada e uma névoa esbranquiçada paira por cima dela. - emortuos quid esset ad vitam revoca, spiritum ad ultimum spiritum communica, vinculo amoris, animae et curae, nunc simul in perpetuum iungitur. - Um redemoinho cobre-as por inteiro, o espírito negro de Estella é trago para fora e se parte ao meio, entrando pelas narinas das duas, porém somente o demônio desperta.

- Funcionou? - Pergunta ofegante e com suor cobrindo a testa. - O rosto de Lilith está abatido e visivelmente decepcionado. - Lilith me diga que funcionou, por favor. - Sua voz é quase como um sussuso clamando aos ouvidos.

- Sinto muito meu amor, eu sinto tanto. Acho que não se pode contornar a morte por duas vezes, ninguém nunca tentou.

- Não, não, não. - Ela se agarra ao corpo sem vida de Kastian, seu peito sobe e desce em hiperventilação. - Me responde, acorde, por favor, não está na sua hora ainda, não está na hora de ir. - Seu choro descontrolado não cessa, a abraço porém ela me lança para longe em desespero. Alguns pedaços de Kastian estão desaparecendo, e em breve provavelmente seu corpo inteiro irá sumir, então me afasto e deixo minha irmã em seus últimos momentos com sua falecida mulher. Tento expressar o que estou sentindo mas há apenas um vazio que habita em meu peito, não sou capaz de chorar, creio que minhas lágrimas se esgotaram por hoje. Irei sentir falta dela, Kastian se tornou uma parte muito importante de nossa família e não acredito que a perdemos tão cedo. Do que adianta sermos deuses da magia imortais se não podemos dar a imortalidade as pessoas que mais amamos, terei que ver uma de minhas mães morrer, terei que ver Mykal morrer, e talvez meus futuros filhos também, isso não é justo, essa dor é pior do que a apreensão de saber que poderia morrer.

- Ora, ora, se não é a assassina em massa de demônios. - A voz grave ressoa em meus ouvidos. - Vim dar meus pêsames a Estella e a todos vocês, perder Kastian não deve ser fácil. - Dá uma gargalhada. - É claro que também estou extremamente triste, aliás, ela foi meu brinquedinho por algum tempo, é meio impossível que eu não tenha me apegado nem um pouco. - Respiro fundo e por um segundo imagino estar delirando, não me admiraria, é algo que já aconteceu várias vezes no último ano.

- Espero que não esteja mesmo aqui e que seja fruto da minha mente perturbada, por que caso contrário vai sair daqui em um pote de cinzas.

- Sejamos sinceras, você já tentou me matar antes e foi bem falha, o que te faz pensar que dessa vez terá êxito? Entretanto, minha querida ruivinha, não vim aqui para discutir sobre como você adoraria me matar e fincar cada uma de suas unhas pontiagudas na minha pele, vim dar um aviso.

- Se estiver viva enquanto tenta falar, boa sorte. - Me preparo para ataca-la, porém novamente ela ri.

- Nem tente, isso é só uma projeção, não sou estúpida o suficiente para aparecer no seu reino, cheio de seus aliados, e sozinha. Vamos ao que interessa, você tem uma semana pra sair dos mundos e vir para terra definitivamente, não só você, mas sua família inteira. Lilith, Áster, Estella, Meliorne, Demir, Mykal e se vocês quiserem, o caixão de Kastian. caso contrário serei obrigada a retirá-los de uma maneira não muito agradável para vocês, infelizmente. Seja esperta, estou tentando fazer as coisas pacificamente dessa vez.

- Por que acha que iríamos sair daqui? Não temos medo de você Psyche, está sozinha, sem ninguém na terra e sem muitos poderes provavelmente. É apenas um demônio banido vagando por uma terra sem espécie.

- Isso é o que você pensa minha querida, para o seu azar não é a verdade. Tudo que você pensa que sabe sobre mim, tudo que já aconteceu até hoje foi milimetricamente planejado, todas as mortes, todas as traições, a sua vida sempre esteve na palma da minha mão, acha mesmo que foi pura coincidência encontrar Estella no meio da mata enquanto ambas fugiam de demônios? Acha que foi coincidência que fomos direto para Elphia? Que Lyssa se libertou sozinha do âmbar? Tenha um pouco de inteligência, tudo está exatamente no lugar que eu sempre quis que estivesse e devo admitir que você me ajudou muito no caminho. Por exemplo, agora que a rainha Kastian está, bom, no mesmo lugar que sua irmã, só me resta eliminar o resto da sua família, o que considerando os fatos não vai ser difícil. Então não complique mais a situação, se entreguem, vivam na Terra e ficarão em paz, vocês não me interessam o suficiente para que os persiga por outros lugares além dos seis mundos. Eles são meus por direito, e não vou abrir mão tão facilmente. Está avisada, tem até o fim da semana, se escolher resistir, vou lhe dar uma prévia do que estará por vir. - No instante em que seu holograma some ouço um gritos na parte externa do castelo, onde estão as habitações de nossos povos. Espectros negros flutuam pela superfície entrando em alguns habitantes e logo em seguida tirando de dentro deles o que acredito ser sua alma. Não aguento mais surpresas, não aguento mais descobrir coisas de que não tinha conhecimento, não aguento mais cada dia esse sofrimento, é hora de desistir, certamente Arwen estava errado, não é minha missão trazer a paz e a harmonia aos mundos, pois desde que cheguei só trouxe sua destruição.

Seis mundos: Vinganças e retaliações (Parte 2)Where stories live. Discover now