12. Era uma vez dois garotos perfeitos.

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Eu tenho este lugar para o qual venho sempre que preciso me acalmar. De alguma forma, sempre acabo pensando demais quando não deveria, e pensar demais não me acalma. Pensar demais tem o efeito contrário. Essa noite, porém, acho que estou me saindo bem. 

Já faz alguns dias desde o incidente. Desde que briguei com Namjoon. Desde que meu pai se embriagou novamente, depois de tantos meses estando sóbrio. Desde que não vou à faculdade e desde que estou vindo a este lugar todas as madrugadas, quando posso ficar realmente sozinho e onde posso encarar o céu estrelado em vez do teto do quarto. Lá é um pouco barulhento; aqui é perfeito. 

Coloco as mãos embaixo da cabeça e encaro o céu enquanto penso em nada. Pela primeira vez depois de tanto tempo, posso aproveitar um momento em que não tenho nada com que me preocupar. É legal, apesar de ser um pouco solitário. 

Volto para casa quando penso que já é hora. A casa ainda está escura e o prédio inteiro ainda está dormindo quando finalmente deito na minha cama. Nunca tive problemas para dormir, mas dessa vez leva um tempo maior que o habitual para que eu caia no sono. Também não percebo quando o faço, mas de repente estou sendo acordado por batidas tímidas na porta. 

— Jungkook — é a voz do meu pai. — Se já estiver acordado, estou te esperando lá embaixo. — Ouço seus passos se distanciando do quarto e depois descendo a escada. 

Não sinto mais sono; contraditoriamente, me sinto mais exausto. 

Sento na cama e passo as mãos pelo rosto. OK, eu já sabia que isso iria acontecer em algum momento. Meu pai não fala comigo desde aquele dia; não está nem mesmo conseguindo me olhar nos olhos. Me pergunto se é vergonha, ou se é outra coisa. Eu estaria mentindo se dissesse que o silêncio e a ausência dele não estão me matando; no entanto, não é como se nossa relação já não fosse vaga e distante antes. Estar em casa com ele é como estar sozinho. Ou — pior, até — como estar dividindo um espaço com um estranho. 

Levanto e vou até o banheiro para passar água no rosto e escovar os dentes. Quando desço, ainda com a calça moletom que usei para dormir e nada cobrindo o tronco, meu pai está sentado em uma das cadeiras da mesa de jantar, distraído enquanto balança um copo de vidro vazio. 

Quando me ver, ele larga o copo na mesa e se levanta. Não penso no que vai fazer, porque meu pai é sempre muito previsível, e eu já sei para o que ele me chamou aqui. 

Só não contei com esse abraço. 

Ele envolve os braços em meus ombros e me aperta contra seu corpo, como se quisesse transmitir uma mensagem através desse aperto. Isso é novo, um pouco esquisito — não me lembro da última vez em que meu pai me abraçou —, mas não hesito em envolvê-lo com meus braços também. Talvez ele esteja precisando disso tanto quanto eu.  

— Me desculpa, filho — é o que ele diz, entre o abraço. — Eu decepcionei você, não foi? Estou com tanta vergonha… 

Não digo nada, nem mesmo quando ele se afasta para, pela primeira vez depois de um tempo, olhar para mim. 

Não por muito tempo. Ele abaixa a cabeça. 

— Eu não… Eu… — Espero, paciente, sem tirar os olhos da expressão constrangida dele. —  Eu soube que sua mãe vai casar. 

Não me surpreendo; eu sabia. Estou tão esgotado dessa situação, que não consigo me compadecer com os olhos lacrimejantes dele. Só quero que essa conversa acabe logo. 

— Não consegui me controlar. Eu ainda tinha esperança de que ela ainda fosse, você sabe… — Ele tira as mãos dos meus ombros e dá um passo para trás. Ainda não voltou a olhar para mim. — Sinto muito, filho. Você não merece isso. 

ISSO NÃO É UM CONTO DE FADAS • 지국Onde histórias criam vida. Descubra agora