6. Era uma vez a 1° Guerra das Pipocas e algodões-doces que curam.

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Ao meu lado, Hoseok não para de gritar, e os movimentos exagerados que ele faz com os braços e as pernas quase me obrigam a ficar em posição de defesa o tempo todo. Sabe, para não ocorrer de ele me dar um tapa no rosto sem querer (como aconteceu alguns minutos atrás). Acontece que eu estou tão entretido num jogo idiota no meu celular, o qual baixei apenas porque me pareceu menos pior que assistir futebol, que não tenho como me defender das demonstrações de entusiasmo e raiva de Hoseok. Ele gosta de ser bastante expressivo. 

— AAAAAAAAH — ele solta um grito de novo, que mais parece um rosnado. 

Subo ligeiramente os olhos para a TV e vejo o replay da tentativa fracassada de um jogador do Flamengo de fazer gol. Reviro os olhos e os volto para a tela do celular, onde vejo que meu avatar morreu enquanto eu me distraía. Dessa vez, resmungo baixo. Odeio perder. 

— Não acredito! Tu viu aquilo!? Aaaah! Eu me recuso a acreditar! Me recuso! — Hoseok continua, se remexendo todo no chão e parecendo querer chorar. Assim como estive fazendo até agora, o ignoro. 

Estou prestes a apertar o botão Play Again quando escuto uma risada fraca. Instantaneamente viro a cabeça para espiar Jimin, porque o tom soa exatamente como a voz dele: suave, elegante, charmoso e tenuamente maquiavélica, como se ele estivesse sempre escondendo um toque de vilania em todas as suas expressões e, no entanto, não se importa em deixá-la transparecer. 

Me pego cativo nesse detalhe, em como ele é diferente — não só pelos motivos óbvios — de quaisquer pessoas que conheço. 

Seus olhos estão vidrados na tela da TV, e de vez em quando ele os mira para Hoseok — impossível não encarar quando Hoseok faz tanto estardalhaço —, rindo das reações dramáticas do meu amigo. Agora, Jimin está concentrado. Acompanho sua ação quando ele estende o braço para a vasilha redonda cheia de pipoca, quando ele enfia todo o punhado na boca, quando ele mastiga…   

Ele olha para mim, percebe que estou encarando e para de mastigar. Um rápido pensamento cruza a minha mente e eu não recuo. Seus olhos semicerram, então, de um jeito petulante, e ele volta a mastigar com vagareza. 

— Pensa rápido! — Jimin age mais ligeiro que meu raciocínio e de repente sou atingido por pipocas. Uma bate bem no olho esquerdo. 

— Ei! Por que você tá estragando comida?! — ouço Hoseok perguntar, surpreendentemente tirando o foco de seu jogo. 

É uma ação completamente natural quando pego a pipoca com raiva e a jogo novamente contra Jimin, que cai na risada. Ele literalmente cai no chão. Comprimo as sobrancelhas, incapaz de entender sua reação alegre. Eu não estava brincando! 

Eu nem queria que ele estivesse aqui! Foi Hoseok que o convidou, afinal. Claro que foi. Ele e Yoongi acharam que eu e Jimin éramos amigos e quando disse "Ei, vamos assistir o jogo juntos lá em casa?", ele estava incluindo Jimin também. E eu não me senti confortável. Me senti meio exposto, vulnerável. Como se Jimin conhecer meus amigos fosse o mesmo que estar diante de uma porta escancarada e convidativa para a entrada real na minha vida. 

Ele não devia fazer parte dela desse jeito se um dia vai embora para sempre. Não é justo. Isso me deixa com vontade de me vingar de alguma forma, por toda a sua inconveniência. 

É por isso que não me controlo e, quanto Jimin está distraído em seu próprio riso, encho minha mão de pipoca e depois jogo tudo contra seu rosto de boca aberta. Ele é pego de surpresa e tenta cuspir as pipocas mal-vindas que caíram direto para dentro de sua boca. Isso o deixa exponencialmente patético, e eu percebo que quero sorrir em vitória. Estou me divertindo. 

Yoongi, que esteve quieto e atento à partida desde que chegamos, começa a gargalhar das caretas engraçadas de Jimin, ao mesmo tempo em que Hoseok me fuzila com o olhar e tenta ser intimidador. 

ISSO NÃO É UM CONTO DE FADAS • 지국Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum