Equívoco

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Por insistência de Qing, o universitário concordou em se encontrar com o dono do restaurante Liebing. Tudo o que ele sabia sobre Lan Xichen se resumia a três coisas: A primeira era que ele estava ganhando notoriedade na cidade, como um dos melhores cozinheiros locais, ganhando competições e até dando entrevista na televisão; A segunda era que, o Lan mais velho era absurdamente educado, do tipo que inclusive fazia Cheng se sentir constrangido sempre que deixava um palavrão escapar. Ele tinha a aura de um anjo.

A terceira coisa é que Xichen era um homem bastante reservado. Ele nunca tentava invadir o espaço pessoal alheio, algo que Cheng percebeu nos quatros encontros arranjados por Ying. Só o fato de ele não tentar puxar conversa fiada era motivo o suficiente para ele simpatizar com o mais velho, ainda que apenas um pouco.

Por que um pouco? Apesar de tudo, ele continuava sendo um Lan e pior ainda, irmão mais velho do descerebrado do Wangji.

Os dois não eram apenas abissalmente diferentes um do outro, como também viviam em mudos totalmente opostos. Xichen era formado e realizado profissionalmente; Cheng estava concluindo a faculdade e estagiava em um banco e quando sobrava tempo, trabalhava como barista no café do irmão mais velho. Ainda não conseguira abrir o próprio negócio... Era um pouco intimidante, em comparação com o outro homem, Cheng se sentia um moleque!

Isso se intensificou ainda mais quando ele adentrou o restaurante. Era tão bonito e elegante, que por um momento, questionou-se se não estava muito malvestido. Usava uma camiseta social e uma calça jeans rasgada.

—Jiang Cheng, você veio!

Cheng piscou os olhos, concentrando sua atenção no dono da voz simpática e despreocupada que o chamava. Ele forçou um sorriso e caminhou na direção do Lan, que sorriu para ele enquanto retirava o chapéu de cozinheiro. Ele gesticulou para que o Jiang o seguisse e assim o universitário o fez, sem reclamar.

—Fico feliz que você tenha aceitado conversar comigo. — Começou o mais velho, que estava sentado de frente para ele. Cheng meneou a cabeça, esforçando-se para soar simpático e não um velho rabugento como de costume.

—O desespero nos leva a lugares inesperados. — Cheng dramatizou e Xichen reprimiu uma risada, balançando a cabeça em concordância. —Me desculpe se eu soar inconveniente, senhor Lan, mas por que você iria querer dividir o apartamento com um colega de quarto?

—Não me chame de senhor Lan. Não sou tão velho assim.

Cheng sentiu as orelhas e as bochechas esquentarem-se diante do olhar do mais velho e ele tentou ignorar isso, concentrando-se no seu pequeno interrogatório, afinal de contas, era no mínimo curioso que um homem como ele precisasse de ajuda para quitar as dívidas de um apartamento. Sempre achou que os Lans fossem uns tremendos filhinhos de papais e uma parte sua não queria estar errada, ou provavelmente seria obrigado a se desculpar com Wangji.

—Foi mal. É força do hábito.

Xichen assentiu, encarando atentamente o homem a sua frente, e então pegou o copo de água que havia sobre a mesa e o levou até a boca dando um generoso gole antes de respirar fundo.

—Você deve ter uma visão muito equivocada sobre mim e sobre o Lan Zhan.

Os olhos de Cheng arregalaram-se levemente e ele sentiu o rubor aumentar ainda mais. Como ele havia adivinhado? Céus... Será que ele sabia ler mentes ou coisa parecida?

Ele resolveu se fazer de sonso. Não iria se entregar gratuitamente e admitir que tinha os julgado mal, ele era orgulhoso para caralho.

—O que você quer dizer com isso?

Xichen riu secamente. A boca dizia uma coisa, mas os olhos exoticamente lilases admitiam outra. Ele apenas meneou a cabeça.

—Eu sei que você acha que nós não passamos de dois playboys cheios de dinheiro, Jiang e você está certo. Nossa família realmente tem muito dinheiro. É tanto dinheiro que faria qualquer um vomitar, porque é obsceno.

A Odisseia de dividir o apartamentoWhere stories live. Discover now