Depois de desperdiçar duas horas dentro de uma imobiliária famosa no centro da cidade, Cheng decidiu fazer uma pausa. A moça simpática que o atendeu no estabelecimento o exibiu algumas casas, kitnets e apartamentos disponíveis. Nenhum foi do agrado do universitário, especialmente as casas grandes por dois motivos bastantes óbvios:
1)Seus irmãos encontrariam uma maneira de ocuparem o espaço;
2) Seus irmãos encontrariam uma maneira de ocuparem o espaço;
A última coisa que ele desejava era se mudar do pequeno hospício em que vivia para um ainda maior. Principalmente se isso significasse Yanli grávida e planejando o quarto do bebê.
Definitivamente não, pensou frustrado enquanto andava a passos lentos até uma lanchonete pequena. A decoração era simples porém muito aconchegante e familiar, e ele gostou do lugar imediatamente. Sentou-se em um banco e gesticulou para que o garçom se aproximasse, logo após fazer seu pedido, decidiu checar as mensagens em seu celular. Obviamente havia muitas mensagens não lidas e ligações perdidas.
Pateta: Fala sério, você ainda ta bravo por causa daquela camisetinha cafona?
Cheng revirou os olhos.
Cheng: Antes fosse só pela camisetinha cafona seu maldito! Você sempre dá as minhas roupas para o seu namorado! Como se o mauricinho filho da puta do Wangji não tivesse dinheiro para comprar as próprias roupas!
Pateta: Eu já disse que ele esqueceu as roupas em casa.
Cheng: Ele sempre esquece. Porra, por que não dá logo as minhas cuecas para esse desgraçado com amnésia também? Aposto que ele vai adorar cheiro!
Pateta: Você sabe que a gente não faz por mal. Ele mora do outro lado da cidade. Fica ruim de ele ficar indo e voltando.
Cheng: que desculpinha xexelenta do caralho! Dane-se! Se eu vir o Wangji usando mais uma camiseta minha, eu vou quebrar as pernas dele e as suas também!
Pateta: O Zixuan vive usando as suas roupas e você nunca tentou quebrar as pernas dele!
Cheng: Porque a Yanli usa o trunfo da gravidez para me impedir. Só por isso.
Pateta: Nossa eu também acho um saco quando ela faz isso. E ainda vem com aquela cara de cínica.
Cheng: Ying não muda de assunto! Eu ainda vou socar você e aquele filhinho de papai desgraçado do Wangji, escreve o que eu to dizendo!
Pateta está digitando...
O moreno revirou os olhos e suspirando fundo, colocou o celular em modo avião. O garçom retornou trazendo o seu pedido e ele sorriu ao ver os pães caramelizados e a xícara de frapuccino. Quem poderia imaginar que procurar imóvel fosse dar tanto trabalho assim? Ele parecia ter corrido uma maratona e tudo o que tinha feito até então, além de passar duas horas dentro de uma imobiliária conversando com uma mulher bonita e amigável, tinha andado pela cidade observando os anúncios colados em postes e as residências com placas de aluga-se ou venda-se.
Ele comeu os pães suspirando satisfatoriamente. Aquilo deveria ser tombado como patrimônio nacional de tão gostoso que era. Em seguida, Cheng bebeu um pouco do café que havia pedido e sorriu.
Ele chamou o garçom com o dedo, e o rapaz voltou a se aproximar ainda que ligeiramente receoso. Cheng pediu mais alguns pães e dessa vez um suco para acompanhar, apesar de gostar muito de cafeína, ele se impôs o limite de apenas duas xícaras diárias.
O garçom assentiu e se afastou, retornando à cozinha para preparar o segundo pedido do jovem de jaqueta roxa.
☾
Quando ele voltou para casa, horas depois, felizmente descobriu que o cômodo estava vazio e suspirando aliviado, rumou em direção ao próprio quarto, onde se jogou na cama e apagou minutos depois tamanha a sua exaustão.
No dia seguinte, como de costume, levantou-se por volta das sete horas da manhã e foi tomar seu café da manhã, em seguida seguiu até a estação de metrô. Chegou na empresa meia hora depois aproximadamente e começou o seu dia infernal como estagiário.
*
—Você está com uma cara péssima. O que rolou agora? — Qing o seguiu pelo refeitório. A colega de classe tinha dois piercings na orelha esquerda, os cabelos soltos e vestia uma jaqueta preta.
Apesar do visual punk Wen Qing era, provavelmente, a criatura mais pegajosa que Cheng conhecia. Pelo menos com ele e com o irmão mais novo, Ning, calouro em medicina veterinária.
—Wei Ying nasceu há vinte e nove anos atrás e agora eu sou obrigado a ver o namorado desgraçado dele desfilando por aí com a minha camiseta autografada do Cobra Kai. — Desabafou envaidecido antes de respirar fundo e bufar na sequencia, chutando uma latinha de refrigerante que viu pela frente.
—Você sabe que eu não suporto o imbecil do seu irmão. — Ela disparou, respirando pesadamente. — Não posso ser imparcial nessa história.
Cheng fungou uma risada e assentiu compreensivamente.
—Não precisa ser. Pode xingá-lo. Aquele pateta filho da puta merece.
A melhor amiga apenas fungou uma risada. Os dois sentaram-se na mesa de frente um para o outro.
—E onde está o Ning? — Cheng quis saber.
Era de conhecimento público que Ning era o fã número de Wei Ying, e apesar das personalidades completamente incompatíveis – um sendo tímido a ponto de soluçar como a personagem de um dorama e o outro de constranger o próprio capeta com as coisas sujas e infames que diz – ele vivia o seguindo para cima e para baixo, juntamente de Nie Huaisang, também amigo de Cheng, mas que tinha um forte desvio de QI, já que assim como Ying, era propenso a fazer as maiores besteiras possíveis.
—Ele saiu com o Xue Yang. — Qing sorriu maliciosamente.
—Sério? — O Jiang perguntou surpreso. — Achei que ele estivesse saindo com o Xiao Xincheng...
—Eles abriram o relacionamento e o Yang correu para paquerar meu maninho e você sabe da queda que o Ning tem por ele.
Cheng assentiu, fungando uma risada.
—Na real, eu acho que eles vão ficar juntos. O Ning é amorzinho demais para ser só um peguete fixo.
—Que Buda te ouça. Eles são tão bonitinhos juntos e o maninho está tão feliz!
Eles se calaram, concentrando-se no lanche. O refeitório estava relativamente tranquilo naquela noite o que significava que Ying deveria ter faltado. Agora que decidiu ser o Presidente do Comite Universitário – apenas para infernizar os seus desafetos – ele passava boa parte com cantoria no refeitório e infernizando os demais colegas.
Cheng estava aliviado com essa constatação. Finalmente poderia desfrutar de um pouco de paz e uma folga, ainda que breve, do seu querido irmão.
—Ei, como foi na imobiliária hoje? — Qing perguntou curiosamente.
—Frustrante. Não me interessei por nada. — Ele suspirou revoltado. — Mas eu preciso me mudar com urgência. Estou a um fio de cometer uma loucura.
—Que pena. Se eu não dividisse a casa com o elenco da Família Buscapé, você poderia se mudar para lá.
O amigo sorriu, feliz com a oferta e assentiu em concordância.
YOU ARE READING
A Odisseia de dividir o apartamento
FanfictionJiang Cheng estava muito feliz pelos seus irmãos, sério. Não havia nada que ele amasse mais do que os ver felizes em seus relacionamentos.... Exceto, talvez, pela própria privacidade. Era egoísmo da sua parte? Provavelmente. Mas era fato - ele preci...