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Carla Maraisa


- Merda de despertador - Resmungo jogando o relógio no chão.

Viro para dormir mais um pouco e mesmo com o relógio no chão, ele continua tocando, me deixando totalmente irritada. Sento na cama e pego ele do chão, tirando a pilha nervosa e jogando para qualquer canto do quarto.

- Assim você não toca mais.

Olho para a janela e vejo a manhã chuvosa que se instalou nessa manhã de sábado, provavelmente vou ficar em casa o dia inteiro. Levanto da cama e faço linha higiene matinal, antes de descer as escadas para fazer o meu café da manhã, já que Tina não vem no fim de semana.

Quando estou passando pelo corredor, vejo a porta do quarto de Marília meio aberta e eu me aproximo para ver se ela está bem, mas não encontro a loira e fico preocupada, até que eu escuto barulhos de panelas no andar de baixo, fazendo eu descer rapidamente.

- Bom dia, senhora arrogante - Falo entrando na cozinha - Eu ia fazer o café da manhã.

- Eu já disse que eu tenho nome - Ela responde sem me olhar.

- E eu já disse que gosto de te ver irritada - Dou de ombros e me aproximo dela - O que você está fazendo?

- Bolo de chocolate.

- Eu gosto de bolo de chocolate.

A loira não responde e eu me aproximo mais dela para ver como está saindo a sua receita e pela primeira vez em dias, Marília não se afasta, apenas continua fazendo o nosso café da manhã.

- Minha mãe fazia bolo de chocolate para mim - Falo pegando um pedaço de chocolate em cima da pia - Acho que é o único bolo que eu gosto.

- Você pode parar de roubar os ingredientes? - Ela pergunta brava - Eu nem fiz a cobertura ainda.

- Tecnicamente não é roubo porque fui eu que comprei.

- Mas eu que estou fazendo o bolo - Marília responde irritada e vai para o outro lado da cozinha.

Não consigo deixar de rir do jeito esquentadinho dela e eu fico parada admirando a loira cozinhando, mesmo que em grande parte do tempo ela estava amaldiçoando a minha existência.

Quando vou ir perturbar a loira mais uma vez, um dos meus funcionários que cuidam dos cavalos entram em casa, provavelmente para falar sobre a compra da nova ração dos cavalos.

- Dona Maraisa, posso conversar com a senhora? - Ele pergunta entrando na cozinha - Sobre a compra.

No momento que eu vou responder, vejo Marília derrubando um talher no chão, chamando a minha atenção. A loira está com o olhar assustado, se tremendo pelo medo do homem.

- Marília... - Me aproximo dela devagar - Calma, não fica assim.

- Você vai me vender para ele, não vai? - Ela pergunta com a voz embargada.

- O que?

- Não me vende para ele, por favor - Ela pede segurando no meu braço - Homens tentam me machucar, você não, por favor, não faz isso.

- Eu não vou te vender - Nego com a cabeça - Você vai ficar aqui.

Marília me segura com força, como se estivesse pronta para grudar em mim caso alguém tentasse tirar ela da casa. Fico olhando para a loira, ainda desacreditada que ela está tão próxima de mim e eu percebo que ela não tem medo de mim, não igual tem das outras pessoas.

- Dona Mara- O homem tenta me chamar.

- Você pode sair? - Peço sem me virar para ele - Por favor.

O Leilão || Malila.Where stories live. Discover now