IV

221 24 4
                                    

Não esperei o dia amanhecer para ir até o Tio Chico. Levantei rapidamente da cama e calcei meus sapatos. O dia anterior foi tão corrido, que nem notei que fui dormir com a roupa tradicional, mas isso não importa.

Olhei para Enid, ela dormia tão calmamente que as vezes até me dava inveja de poder dormir tão bem assim. Mãozinha notou o meu despertar, então já estava disposto para tudo.

Pensei que eu fosse esperta o suficiente para acordar duas horas antes que o costume de todo mundo, mas para a minha infelicidade, a novata já não estava mais na cama. Fiz sinal para que Mãozinha não acordasse Enid.

Dei dois passos e ele já estava derrubando algo, fazendo barulho.

- Mãozinha! – Cochichei. – Ela não vai conosco. Não hoje. Preciso falar com o Tio Chico, e você virá junto. Preciso de você, você e ele são os únicos em quem posso confiar.

Mãozinha fez alguns gestos. Olhei para Enid na cama.

- Tá... E ela também, mas no momento, não quero a pôr em perigo.

Mãozinha fez um gesto meigo.

- Chega. – Cochichei para ele, franzindo o cenho. – Agora vamos.

Tio Chico, com a minha volta para Nunca Mais, voltou a morar na cabana. Disse que com ele por perto eu estaria mais segura, não concordei com ele, mas neste momento, preciso dele.

- Tio Chico. – Abro a porta rapidamente, causando um alto barulho. Olho em volta, nada mudou desde a última vez em que estive aqui. – Acorda!

- Mas em? O que? Onde? – Ele estava confuso, mas ficou de prontidão caso fosse outra pessoa. – Wandinha! Quanto tempo. Senti sua falta.

- Também senti. – falei tentando ser irônica, mas no fundo era verdade. – Não temos muito tempo até que a escola acorde. Preciso da sua ajuda.

- Me conte, o que te incomoda.

Contei tudo o ocorreu em menos de dois dias. Não deixei nenhum acontecimento passar, nem mesmo as almas do santuário. Tio Chico acredita em mim, ele sabe que eu não estaria inventando tais acontecimentos.

- Poderia repetir o que exatamente a novata estava cantando com o seu violoncelo? – Ele me questiona enquanto procurava algo em um de seus baús.

- Ela me corrigiu após, não sei pronunciar exatamente essa frase. – Falei, no fundo acreditava que isso não o ajudaria.

- Não faz mal, acho que consigo decifrar.

- "Vitus Shaitt lipsum vikrat op drein".

- Vitus Shaitt? Isso é outro idioma. – Ele continuou a procurar algo em seu baú, enquanto isso, ficou repetindo várias vezes essas duas palavras. – Nunca ouvi algo parecido. Pelo que me lembro, havia algo com uma língua anormal... Bingo.

- O que é isso?

Ele me mostrava um grande livro velho. Sua capa estava toda arranhada e empoeirada. Suas páginas eram negras como a escuridão.

- Esse livro tem décadas. – Ele assoprava a poeira de cima dele. – Nele, há várias histórias de antepassados, então creio que nele há algo parecido com essa língua. – Mãozinha, fica na retaguarda para que ninguém chegue.

Mãozinha fez alguns gestos de desgosto, mas logo ficou na janela, cuidando para que ninguém se aproximasse.

- Pode levar algum tempo até que achemos algo. – Tio Chico me encarou.

- Não há problema, só quero saber o que terei de enfrentar. Depois me viro com ela.

Ficamos exatas meia hora até que conseguíssemos achar algo naquele grande livro. E lá estava algo que eu procurava.

Vitus Shaitt - WandinhaWhere stories live. Discover now