III

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Aquelas palavras não saiam da minha mente. Era como se vagassem por vontade própria pela minha cabeça.

Sentada em frente à minha máquina de escrever, novamente eu não conseguia pensar em uma continuação para aquela história.

- Uau, meu vídeo foi novamente repercutido. – Enid comemorava, falando em voz alta o desnecessário. – Sabe, ainda acho que você deveria criar uma conta no Tiktok. Essa rede é demais!

- Não. Já me sinto estranha mexendo naquele bagulho de mensagens. – Lembrei da mensagem ao qual eu havia recebido antes de deixar Nunca Mais. Alguém está de olho em mim, mas quem?

- Que sem graça. – Enid estava deitada em sua cama, com as pernas balançando para cima. – Não quer nem ao menos gravar uma dancinha comigo?

- Estou pensando, Enid. Me deixe. – Digo séria. – E não peça pro Mãozinha, ele já está estranho demais esse ano.

- Que sem graça. Quer saber, vou pedir pra Sarah, talvez ela curta isso. – Enid se levanta e caminha em direção a porta. – Afinal, você a viu?

- Boa pergunta. – Desde do que ela me disse, não a vi mais. Ela apenas me largou, se levantou e caminhou para algum lugar da escola, sem ser vista mais. Já fazem 4 horas desde o ocorrido. – Quer saber? Vou procura-la.

- Vai? – Enid sabia que eu não ia com a cara de Sarah, Mãozinha contou a ela.

- Não, vou fingir. – Não fui sarcástica dessa vez. – Quero dar uma vasculhada pela escola. Faz tempo que não vejo mais a escuridão total dela.

- Bem, há câmeras, então tome cuidado.

- Não me importo. Aquela velha enrugada sabe que ando por aí sem permissão. – Encaro Enid através do ombro. – Não tenho medo dela.

Me retiro do quarto, caminhando sem qualquer iluminação pelo corredor. A escuridão sempre será a sua melhor proteção.

Ando por alguns corredores, parando em alguns lugares. Eu preciso pensar melhor, mas nada aqui me faz ter raciocínio. Ando pela escuridão até tê-la coberta pela luz da lua. Observo o meu redor. Nada. Olho de longe para a estátua de Edgar Allan, segurando seu livro. Aquele santuário secreto me trazia algumas lembranças.

- Seus enigmas são péssimos. – Falo para mim mesma.

Antes que eu pudesse sequer dar um passo, a estátua se move.

Sem entender nada, me aproximo dela. Observo novamente. Ninguém saiu dela, ninguém entrou. Então como ela havia se movido sozinha? Não se ouviu nenhum estalar de dedos, nem sequer uma força para empurrá-la.

A estátua não se fecha, fica parada esperando seu fechamento. Observo adentro do santuário. O que quer que a tenha feito mover, estaria esperando lá embaixo. Desço sem me importar com o que me espera.

Junto a escuridão, o silêncio é o meu melhor amigo. Não se ouviu nenhum barulho, nem ao menos o barulho de algum roedor. Ao descer por completo, observo algumas pequenas mudanças, mínimas para olhos normais. Alguém andou mexendo nos livros, os trocando de lugar.

Caminho em direção a esses livros. Não há nada neles de especial para que alguém os tenha trocado de lugar, ao menos se..., alguém os tenha plagiado. Ao passar a mão por uma coluna inteira desses livros, uma visão acontece ao tocar em um totalmente branco, uma cor totalmente anormal para essa coleção de livros.

A visão não é sobre o futuro, e nem sobre o passado. É sobre o agora, o presente. Há alguém nessa sala, mas não em corpo, e sim em alma. Sinto sua presença. Quem quer que seja, está conversando com outra pessoa. Na verdade, com outra alma. São duas almas. Elas param de conversar após notar minha presença, a minha visão.

Vitus Shaitt - WandinhaWhere stories live. Discover now