Capítulo 3

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Seul, Coreia do Sul. Atualmente.

Ouço as batidas na porta do meu quarto ecoarem e, antes que eu respondesse alguma coisa, a porta foi aberta pela minha tia. Ela sorri docemente para mim e se aproxima da escrivaninha, fazendo carinho no meu cabelo e observando os cadernos abertos em cima da escrivaninha.

Me aproveito daquele contato para suspirar, me sentindo confortável com o toque da mulher em meu couro cabeludo. Sorri mínimo quando ela se curvou para depositar um beijo no topo da minha cabeça.

Senti meu coração se aquecer com aquele ato. Minha mãe nunca havia feito nada parecido àquilo antes comigo. Notei que ela parecia inquieta quando seus dedos voltaram a afagar meus cabelos, apoiei minha cabeça em sua barriga, esperando que ela começasse a falar, o que lhe causava nervosismo.

— Sua mãe disse que queria que você fosse vê-la no feriado. — Sinto suas palavras me atingirem em cheio, engolindo em seco enquanto ela continua com a carícia.

Eu não quero ir.

A voz em minha cabeça grita para que eu responda alguma coisa, mas meus esforços são inúteis e a única coisa que eu consigo é um murmúrio em desaprovação.

— Eu disse a ela que você precisava de mais tempo até encontrar com ela.

Eu não precisava de mais tempo, eu só não quero vê-la.

— Eu posso... pensar sobre isso? — Perguntei, mordendo o interior da minha bochecha.

— Claro que pode. — Ela depositou mais um beijo no topo da minha cabeça, afagou meus cabelos antes de sair do meu quarto.

Senti um bolo se formar na minha garganta e meus olhos arderem. Eu não queria ver a minha mãe, mas aquela voz no fundo da minha mente me dizia que eu seria um péssimo filho se simplesmente ignorasse isso.

Esfreguei minhas mãos no meu rosto, me sentindo irritado.

Eu não tinha o que pensar. Ela não pensou duas vezes antes de me colocar em um avião e me mandar para outro país.

Eu não iria de jeito nenhum e eu sei que, tanto Isoko como Sakura, sabiam disso.

Depois do acontecimento de mais cedo, minha cabeça ficou mais perturbada do que normalmente já é. Talvez Sakura não conheça de verdade a irmã que tem porque ela vive repetindo coisas como: "Ela é um pouco complicada, mas eu sei que ela te ama" ou "Ela está passando por uma fase difícil com a separação do seu pai". Acho que essa "fase difícil" acontece desde que nasci.

Não consegui focar nos estudos durante toda a tarde e o fato de Jake ter ficado fora durante todo esse tempo fez eu me sentir em paz. Por outro lado, eu sabia que ele tinha ido para uma daquelas festas com os amigos deles e que voltaria tarde da noite — mesmo que tia Sakura quisesse acreditar que ele estava estudando na casa de Heeseung, eu sabia que estaria fazendo qualquer outra coisa que não envolvesse livros.

Minha estadia aqui tem sido agradável graças à Yujin e Jungwon. Eles tem me mantido fora de casa tempo o suficiente para esquecer que não pertenço a esse lugar e que, no futuro — mais próximo do que eu quero acreditar —, eu estarei exatamente onde deveria estar.

E eu deveria estar prestando atenção no filme que passava na televisão — eu teria que fazer um resumo para uma atividade da escola —, mas olhar as atualizações das pessoas no Instagram me parecia muito mais interessante.

A campainha tocou e eu escutei tia Sakura gritar da cozinha que estava indo abrir a porta. Observei-a limpar suas mãos no avental que usava envolta de sua cintura antes de tocar a chave e destrancar a porta.

CHRONOS. sunkiWhere stories live. Discover now