ALGUMAS SEMANAS DEPOIS, o meu ataque de ciúmes já tinha passado. Mali'na não era mais vista ao lado de Neteyam. Ouvi boatos de que ele a tinha afastado com uma gentileza tão firme que beirava a frieza. A vitória deveria ter sido doce. Em vez disso, era um vazio.

E no centro desse vazio, estava o Ayon.

Ele se tornou minha sombra, me seguia pra todo lado. Nosso "namoro" era uma peça de teatro. Em público, ele estava perto o suficiente para ser considerado meu companheiro. Sentava-se ao meu lado nas refeições, andava comigo até os campos de treino.

Mas a verdade era um emaranhado feio.

Estávamos na beira do penhasco que dava para o vale dos banshees, um lugar que eu costumava frequentar para pensar sozinha. Agora, era "nosso" lugar.

O Ayon estava sentado na grama, tecendo um cordão de fibras brilhantes, um presente, eu sabia, pra mim. O sol da tarde iluminava seu rosto sério e dedicado.

Eu estava em pé, olhando para o vale, mas não via os banshees em seus ninhos. Meus pensamentos eram um turbilhão de relatórios atrasados para Yisa, da próxima verificação de rotina no corpo humano.

— Eu acho que o padrão de voo deles está mudando — Ayon disse, sem levantar os olhos do trabalho. — O bando mais velho está saindo mais cedo para caçar. Talvez esteja ficando mais difícil encontrar comida no norte.

A informação era inocente. Um simples comentário de um observador da floresta. Mas na minha cabeça de espiã, foi como um alarme. Padrão de voo mudando. Maior deslocamento para caça. Vulnerabilidade. Era exatamente o tipo de dado que Valentim pediria. Meu estômago deu um nó.

— É... interessante — respondi. — Você tem notado há quanto tempo?

Ele finalmente olhou para mim. Achava que meu interesse era genuíno.

— Uns dias. Posso acompanhar melhor, se você quiser. Podemos vir aqui ao amanhecer.

Amanhecer. Padrões. Dados. A oferta dele era uma armadilha perfeita. Eu poderia colher informações valiosas sem levantar suspeitas.

— Talvez — murmurei, desviando o olhar.

Ele se aproximou, deixando o cordão de lado e tocou em meu braço.

— Você parece distante hoje, Maeve.

Era a deixa. A parte da nossa dinâmica em que eu devia afagar seu ego, devolver um toque, talvez até um beijo rápido que acalmasse suas dúvidas e mantivesse a fachada intacta. Eu me virei para ele.

Foi quando uma voz cortou o ar.

— Maeve.

Kiri estava no topo do caminho que levava ao penhasco, ela não olhava para o Ayon. Seu olhar estava fixo apenas em mim.

O Ayon retirou a mão do meu braço como se tivesse sido queimado.

— Irmã — Kiri continuou. — A Tsahik pediu por você. Há... raízes que precisam ser colhidas na sombra, e ela acredita que suas mãos são as certas para isso. Agora.

Era uma mentira óbvia. Mo'at não me chamaria para uma tarefa de colheita espiritual com tal urgência.

O alívio que invadiu meu corpo foi tão intenso que quase me fez cambalear.

— Claro — respondi rápido demais, evitando o olhar confuso e um pouco magoado do Ayon. — Já vou.

Caminhei em direção a Kiri, sentindo o olhar dele em minhas costas. Quando passei pela mais nova, ela nem sequer olhou para o Ayon. Seu braço se entrelaçou no meu, puxando-me para longe do penhasco, do vale, dele.

Has llegado al final de las partes publicadas.

⏰ Última actualización: a day ago ⏰

¡Añade esta historia a tu biblioteca para recibir notificaciones sobre nuevas partes!

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYDonde viven las historias. Descúbrelo ahora