009. MISTAKES MADE

Start from the beginning
                                        

A pergunta dele sobre o tiro foi o estopim. A lembrança do meu ódio canalizado, da precisão mortal, daquele olhar de Neteyam... tudo transbordou. Não era raiva contra o Ayon. Era raiva contra tudo. Contra a Mali'na, contra Neteyam, contra mim mesma, contra Valentim, contra a missão, contra o mundo inteiro. E precisava de uma saída. De uma válvula de escape.

Me virei de repente. Ele estava mais perto do que imaginava. Seus olhos, gentis e um pouco confusos, se arregalaram ao ver a tempestade no meu rosto.

Não pensei. Agi.

Meu corpo se moveu por puro instinto de fuga. Pela necessidade desesperada de sentir algo que não fosse ódio ou ciúme doentio. De provar para mim mesma que ainda podia sentir outra coisa, mesmo que fosse falsa, mesmo que fosse um roubo.

Meus dedos se enterraram nos ombros dele, puxando-o para mim com uma força que fez ele perder o equilíbrio por um segundo. E antes que qualquer som de protesto pudesse sair da boca dele, a minha estava sobre a dele.

Beijei-o com toda a raiva que não pude despejar na Mali'na. Com o ciúme que me corroía por dentro. Foi duro, possessivo, quase violento. Meus lábios se moveram contra os dele não com ternura, mas com uma fome destrutiva. Meus olhos estavam fechados, mas por trás das pálpebras, não via o rosto do Ayon.

Via o rosto de Neteyam.

Via a curva da boca dele que não sorria mais para mim. Via os olhos dourados que me haviam visto quase cometer algo monstruoso. E, num ato de pura covardia e alucinação, eu fingi. Fingi que os lábios sob os meus eram mais firmes, que as mãos que hesitavam em tocar minhas costas eram mais largas, que o sabor era diferente. Beijei o Ayon, mas na minha cabeça doente e possessiva, estava reivindicando, punindo, conquistando o que não era meu. Estava tentando apagar a Mali'na, apagar aquele sorriso que não era para mim, com a força bruta de um contato que não significava nada.

E beijei. E beijei. E beijei. Como se pudesse sugar dele a calma que eu não tinha. Como se pudesse transferir a minha fúria para dentro dele.

Quando finalmente me afastei, foi por falta de ar. Meus lábios estavam dormentes, meus pulmões queimavam. Abri os olhos.

O Ayon estava paralisado. Os olhos dele, muito abertos, estavam vidrados em mim, mas sem foco, como se ele tivesse sido arremessado para outra dimensão. A boca dele estava levemente entreaberta, vermelha da força do meu beijo. Ele não respirava. Estava em estado de choque.

Ele pestanejou, devagar, tentando voltar ao presente.

— Maeve... — a voz dele saiu rouca, um sopro. Ele tocou os próprios lábios com a ponta dos dedos, como se não acreditasse no que tinha acontecido. — Que... que foi isso?

Mas eu já não estava ouvindo. A onda de fúria tinha passado, deixando apenas o vácuo gelado da vergonha e o gosto amargo da minha própria traição. Traí o Ayon, usando-o como um boneco. Traí a mim mesma, fugindo para uma fantasia doentia.

Olhei para ele, para o choque e a admiração ainda estampados em seu rosto – ele tinha gostado, o idiota, mesmo daquela violência – e senti nojo. Nojo de mim por ser tão quebrada.

Sem dizer uma palavra, virei-me e entrei correndo na floresta, deixando-o sozinho na beira do riacho, ainda tremendo com o que, para ele, tinha sido sem dúvida o melhor beijo de sua vida. E para mim, tinha sido apenas a prova de que eu estava me perdendo completamente, e levando qualquer um que chegasse perto junto comigo.

 E para mim, tinha sido apenas a prova de que eu estava me perdendo completamente, e levando qualquer um que chegasse perto junto comigo

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: a day ago ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now