E então, num movimento lento, virei o braço. Meus olhos nunca deixaram os dele, mas meu braço, meu ombro, minha intuição de anos de treino, se reorientaram. A flecha não foi para a Mali'na. A tensão no arco se liberou com um barulho seco.
Thunk.
O som foi perfeito. Um impacto limpo e profundo.
Eu ainda olhava para Neteyam. Só então, lentamente, desviei meu olhar para o alvo de madeira, a trinta metros de distância, do outro lado da clareira.
A flecha de treino estava cravada. Não na borda, não em um anel qualquer. Estava exatamente no centro do alvo. O coração da madeira.
Um silêncio caiu sobre nossa parte da clareira. Mali'na piscou, confusa, seguindo a trajetória da flecha. Neteyam não se moveu. Seus olhos ainda estavam em mim, mas a expressão havia mudado. A percepção tinha dado lugar a algo impenetrável. Ele não sabia, não podia ter certeza... mas ele sentia. Sentia que aquele tiro não era para o alvo. Que a precisão brutal daquela flecha carregava a intenção violenta que ele tinha visto nos meus olhos.
Baixei o arco com uma calma que era a maior mentira que eu já performara. Meu coração batia como um animal preso numa gaiola. A raiva ainda latejava nas minhas têmporas.
Virando-me para Mali'na com um sorriso que não chegava perto dos meus olhos, disse, com uma voz anormalmente estável:
— Precisão é tudo, não é? Um deslize, um foco errado... e você erra o que realmente importa.
Minha frase era inofensiva. Um conselho de treino. Mas o olhar que lancei para ela, não era. Era um aviso. Um demarcação de território feita de puro ódio.
E então, como se nada daquilo tivesse acontecido, como se meu sangue não estivesse cantando por violência, peguei outra flecha. Desta vez, olhei diretamente para o alvo de madeira. Respirei, soltei.
Thunk.
Ao lado da primeira.
Virei-me e caminhei para a longe. Deixei Neteyam, Mali'na, a mensagem estava dada, para quem soubesse ler. E para mim mesma, a lição era clara: o perigo que eu representava não era só para Jake Sully. Era para qualquer um que chegasse perto daquilo que, num acesso de loucura possessiva, eu tinha decidido que era meu.
E o mais assustador? Foi fácil. Apontar, quase atirar, e depois disfarçar com perfeição. Foi a coisa mais fácil que fiz o dia todo. Isso sim era um treinamento que tinha entrado na minha alma.
Agora, eu precisava de barulho pra abafar o rugido dentro de mim, de algo frio pra apagar o fogo no meu peito.
O riacho era pequeno, escondido entre raízes gigantes. A água cantava baixo sobre as pedras. Respirei fundo, tentando expulsar a imagem da Mali'na tocando Neteyam, mas ela só ficava mais nítida. Os dedos dela. O sorriso dele. A passividade dele.
Foi então que ouvi passos atrás de mim, leves, hesitantes.
— Maeve?
A voz era do Ayon. Calma, um pouco preocupada. Normalmente, a presença dele era um alívio, uma coisa simples. Agora, era só mais um ruído. Mais uma pessoa invadindo meu espaço caótico.
Não me virei. Continuei olhando para a água, os punhos cerrados ao meu lado.
— Não quero conversar, Ayon.
— Você saiu da clareira que nem um Palulukan raivoso. O que aquele tiro foi, Maeve? — Ele se aproximou, parando a meu lado. Conseguia sentir o calor do corpo dele, a tranquilidade dele que me irritava profundamente. Por que ele não estava furioso? Por que ele não sentia essa coisa preta e venenosa dentro do peito?
BINABASA MO ANG
PUPPET GAME ' NETEYAM SULLY
FanfictionJOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras. Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança. Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial. Criada entre cientista...
009. MISTAKES MADE
Magsimula sa umpisa
