008. INFORMATIONS

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NÃO VOLTEI PRA ALDEIA. Em vez disso, chamei Mìrutx. Quando ela chegou, senti um alívio covarde. Pelo menos com ela, não havia perguntas.

Voamos. Subindo acima das copas, em direção aos picos mais altos e solitários das Montanhas Hallelujah. O vento gelado do alto limpou o calor do rosto, mas não conseguiu alcançar o fogo de vergonha e dor que queimava por dentro.

"Só encontrei mais decepção."
"Não preciso de um salvador."
"Problema seu."

Elas giravam na minha cabeça. Eu as via saindo da minha boca, via o modo como atingiam Neteyam, como rachavam aquele muro de calma que ele sempre mantinha. Tinha funcionado. Exatamente como eu planejara, no fundo mais sombrio e desesperado da minha mente. Tinha conseguido transformar a conexão mais real que eu tinha neste mundo em cinzas.

Meu coração doía. As lágrimas que haviam ameaçado durante toda a conversa finalmente escorreram. Eu chorava em silêncio, meu corpo tremendo não de frio, mas da violência interna de ter destruído algo bonito para salvá-lo de uma destruição pior. A ironia era um gosto de sangue na boca.

Pousei o Mìrutx, e ela se aninhou contra umarocha. Desmontei e deixei-me cair no chão de pedra, abraçando os joelhos.

A solidão do lugar era absoluta.

A noite se arrastou e amanhecer veio devagar, tingindo as nuvens abaixo de nós de rosa e laranja.

Levantei-me, os ossos rangendo de frio. O sol nascente não trazia calor, só clareava cruelmente a paisagem da minha própria bagunça.

Não queria voltar. Queria ficar ali, congelada no tempo, presa entre a noite das minhas ações e o dia das consequências.

Respirei fundo, o ar frio queimando meus pulmões. Algumas feridas deixam cicatrizes. Eu tinha cravado a lâmina hoje. Agora, teria que aprender a viver com a cicatriz, e com a lembrança nítida e agonizante de como era a pele antes de ser marcada. Dei um último olhar para o vazio do vale, virei-me e subi no Ikran.

OS DIAS EM PANDORA tinham um ritmo próprio, um pulso profundo que vinha da terra e das raízes

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OS DIAS EM PANDORA tinham um ritmo próprio, um pulso profundo que vinha da terra e das raízes. Mas entre Neteyam e eu, o tempo não fluía. Estagnara. Congelara no momento em que minhas palavras cortantes e suas costas se virando para mim criaram um abismo silencioso.

Nossos olhares, quando inevitavelmente se cruzavam, não se encontravam mais. Ele parou de vir atrás de mim. Parou de tentar falar, de tentar entender. A mensagem, por mais cruel que fosse, foi recebida. Ele me deu o espaço que eu tanto fingia querer. E isso doía mais do que qualquer confronto. Porque significava que ele estava aceitando a versão falsa de mim que eu havia apresentado. A Maeve ingrata, mesquinha, que virava as costas para quem tentava ajudar.

Mas ele não me deixou completamente. Eu o sentia. Às vezes, na floresta, uma sombra discreta entre as árvores. Outras, uma silhueta observando de um galho mais alto enquanto eu treinava sozinha. Ele me seguia. Saber que ele ainda estava ali, vigiando de longe, era um alívio agridoce e uma tortura. Provava que eu ainda importava. E provava que eu estava causando dor a alguém que só tinha demonstrado cuidado.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now