JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
— Ah, Neteyam, você simplesmente não entende, não é? — minha voz saiu mais ácida do que eu queria. Tentei me afastar, mas sua mão fechou em meu braço — Sempre pensando que pode resolver tudo com uma conversa.
Eu via a confusão se aprofundar nos traços dele. "Bom", pensei, com um amargor que me envenenava por dentro. "Fique confuso. É melhor do que saber a verdade."
— Maeve, o que está acontecendo? Por que você está agindo como se eu fosse um inimigo?
A pergunta dele era justa. E a injustiça do que eu estava prestes a fazer queimou minha garganta. Desviei o olhar, incapaz de encara-lo.
— Sabe, Neteyam — comecei, e as palavras saíram frias, como se outra pessoa as estivesse dizendo —, eu realmente não esperava mais de você. Pensei que podia encontrar alguém interessante aqui, alguém diferente. Mas no fim, só encontrei mais decepção.
Vi o impacto das palavras atingirem-no. Seus olhos dourados se arregalaram um pouco, a expressão séria rachou, revelando algo vulnerável e machucado por trás. Um triunfo perverso e doente agitou-se em mim. Funciona. Continue.
— Maeve... o que eu fiz? — a voz dele estava mais suave agora, quase quebrada. Era insuportável.
Eu me virei de corpo inteiro para ele, encarando-o com um falso desdém que eu mesma não sentia.
— Você sempre acha que é o herói, não é? — ataquei, reduzindo tudo que ele era. honrado, protetor, leal, a um clichê vazio. — Sempre tentando consertar, salvar, fazer a coisa certa. Sinto muito, Neteyam, mas eu não preciso de um salvador na minha vida.
Mentira. Mentira total. Eu precisava desesperadamente. Precisava que alguém me salvasse de mim mesma, do meu passado, do meu futuro. Mas ele não podia. E eu não podia arrastá-lo para o meu abismo.
A decepção nos olhos dele agora se misturava a uma compreensão dolorosa. Ele estava aceitando a narrativa falsa. Estava acreditando que eu era essa pessoa mesquinha e ingrata.
— Eu nunca quis ser seu herói, Maeve — ele disse. — Só queria ser seu...
Ele não terminou. Não precisava. E eu não podia ouvir. Se ele dissesse, eu desmoronaria.
— Pois é. Problema seu — cortei. Dei as costas.
Virar as costas para ele foi a coisa mais difícil que já fiz. Mas eu continuei caminhando. Senti o peso do olhar dele nas minhas costas, mas não o olhei.
A floresta ao meu redor perdeu a cor. O som dos pássaros sumiu. Tudo o que existia era o vácuo doloroso que se abria dentro do meu peito. Eu tinha conseguido. Tinha afastado ele. Tinha plantado o ódio onde antes havia... algo precioso.
E enquanto me afastava, engolindo o gosto amargo do meu próprio veneno, a única verdade que restava era a mais dolorosa de todas: eu o tinha perdido. E pior, eu o tinha feito me odiar. E funcionava tão bem, que agora parte de mim começava a odiar a mim mesma também.
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