008. INFORMATIONS

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— Hum, não sei — interrompi, recuando para a minha cadeira e pegando o pote vazio, brincando com a tampa. — É meio perigoso. E... não é fácil sair do complexo com frequência.

A verdade era que eu poderia trazer mais. Com meu conhecimento do terreno e meu corpo Na'vi, seria fácil. Mas cada amostra que eu trazia era uma traição.

Ethan percebeu minha hesitação e acenou com a cabeça, sem pressionar.

— Tudo bem. Só se for seguro. Não quero que você se meta em problemas por causa do meu hobby.

Seu "hobby". Era tão inocente. Tão distante da realidade sombria que orbitava aquele lugar. E era exatamente por isso que eu estava ali, fugindo para a sala dele sempre que podia.

Passar tempo com Ethan tornara-se meu refúgio humano. Enquanto no corpo Na'vi eu me agarrava à Ayon para evitar a complexidade de Neteyam, aqui, no corpo humano, eu me agarrava à normalidade de Ethan.

Ele era da minha idade, compartilhava o mesmo ar viciado da base, falava sobre coisas que não doíam: ciência teórica, memes terrestres antigos que ele tinha em arquivos, a comida horrível do refeitório.

Ele me ajudava a não pensar em Neteyam. A não pensar no frio que sentia no peito quando nossos olhos se encontravam e eu virava o rosto. A não pensar na dor confusa que os vídeos de Grace tinham plantado em mim. Com Ethan, eu podia rir de coisas idiotas, ficar impressionada com um slide de microscópio, e fingir, por algumas horas, que minha vida não era uma teia de mentiras prestes a se romper.

 Com Ethan, eu podia rir de coisas idiotas, ficar impressionada com um slide de microscópio, e fingir, por algumas horas, que minha vida não era uma teia de mentiras prestes a se romper

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TRÊS SEMANAS. Três semanas inteiras mantendo essa distância, alimentando esse vazio. Cada olhar que ele lançava, cada tentativa discreta de se aproximar, era uma agulha no meu peito. Eu via a confusão nos olhos dele, a saudade. E cada partícula de mim gritava para correr até ele, para desfazer a bagunça que eu mesma estava fazendo.

Mas eu não podia.

A cada dia que passava, ficava mais claro. O que eu sentia por Neteyam não era só amizade. Era um ímã no meu centro, puxando-me para ele contra toda a lógica, contra toda a missão, contra todo o futuro sangrento que me aguardava. E esse futuro... esse futuro não incluía ele me olhando com qualquer coisa que não fosse ódio. Se eu cumprisse meu propósito, eu mataria o pai dele. Se eu falhasse, Valentim me desmascararia, e o clã todo me veria como a traidora que eu era. De qualquer forma, eu perdia ele. E perder depois de ter tido, depois de ter conhecido o calor do abraço dele, o peso do olhar dele, a promessa silenciosa naquela caverna... isso seria uma morte em vida.

Melhor cortar agora. Melhor fazê-lo me odiar por uma razão pequena e cruel, do que por uma verdade monstruosa.

Eu estava na borda da clareia, fingindo observar o horizonte. Eu o senti se aproximar antes de vê-lo. Meu estômago embrulhou.

— Mimí, precisamos conversar.

A voz dele foi um golpe direto no meu coração. Mimí. O apelido que doía de saudade. Virei-me, forçando um sorriso irônico.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now