O POR-DO-SOL NAS Montanhas Hallelujah tingia as nuvens de roxo e laranja, pintando a nova aldeia em tons quentes. O trabalho do dia estava diminuindo, e o meu grupo antigo de amigos se reunia ao redor de uma fogueira menor, preparando uma espécie de chá de ervas amargas que Tuk insistia em chamar de "festa".

Eu estava no telhado de uma das novas estruturas, ajudando Ayon a amarrar as últimas vigas de sustentação com cordas resistentes. Ele ficava em um lado, eu no outro, puxando e amarrando. Nossos movimentos haviam se tornado sincronizados nas últimas semanas. Ele dizia uma coisa, eu respondia com um comentário seco, ele ria. Era fácil. Era superficial. E todo o clã via.

De baixo, parados ao pé da escada de corda, dois pares de olhos nos observavam.

— O que? Maeve, você não vai vir pra nossa festa do chá?! — a voz de Lo'ak cortou o ar, carregada de um escândalo exagerado. Ele estava lá, de braços cruzados, olhando para mim de baixo para cima.

Eu parei de puxar a corda, erguendo uma sobrancelha para ele.

— Calma, meu filho. Eu tô ocupada agora — respondi, voltando ao nó.

— May, por favor! — Tuk entrou na jogada, sua vozinha aguda subindo até mim. Ela balançava a base da escada. — A gente vai contar histórias! Eu arrumei pedras brilhantes pra decorar!

Suspirei. Ayon, ao meu lado, deu uma risadinha baixa.

— Sua família é persistente — comentou, seu tom claramente achando a situação engraçada.

— Não é minha família — retruquei automaticamente. Não deveria ser.

Então, Lo'ak colocou as mãos na cintura e, com um sorriso malicioso que só ele conseguia fazer, gritou:

— Vamos, Mimizinha!

O ar congelou ao meu redor. Ayon olhou para mim, confuso com a reação. Mimizinha. Uma deformação doce e irritante do apelido que, até algumas semanas atrás, só uma pessoa usou. Um apelido que vinha carregado do carrinho compartilhado em uma snonivi, do peso de um colar de pedras amarelas, de um entendimento que não precisava de palavras. Um apelido que agora ecoava vazio e errado na boca do Lo'ak.

Meu rosto se fechou. A corda na minha mão ficou imóvel. Olhei para baixo, e meu olhar não era mais de irritação divertida.

— Se me chamar de Mimizinha de novo — falei, a voz baixa mas carregada de um aviso que ele conhecia muito bem — eu dou um nó na sua calda. E não vou desfazer.

Lo'ak não recuou. Seus olhos brilharam com a centelha do desafio. Ele tinha cutucado a fera e gostado da reação.

— Isso foi um sim?

Eu olhei para Ayon, que observava a troca com curiosidade. Olhei para a corda inacabada. Olhei para a expressão esperançosa de Tuk lá embaixo. A "festa do chá" era uma tolice, mas era um pedaço de normalidade, de calor familiar que eu tanto ansiara e que agora me assustava.

E, secretamente, era uma desculpa para não ficar ali, no telhado, sob o olhar aprovativo do clã, perpetuando um mal-entendido que eu mesma estava alimentando.

Soltei a corda.

— Foi — respondi, secamente. — Só me deixa terminar este nó.

Ayon pareceu um pouco decepcionado, mas acenou com a cabeça.

— Nós terminamos amanhã. Vá... pra sua festa.

Desci pela escada, evitando o olhar triunfante de Lo'ak. Quando meus pés tocaram o chão, Tuk se agarrou à minha perna, rindo.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYМесто, где живут истории. Откройте их для себя