007. SCIENCE NERD

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O HELICÓPTERO CORTAVA O CÉU. Eu estava sentada no banco de metal, apertada entre Valentim e Liz, eu olhava pela janela. A paisagem abaixo não era mais apaisagem viva de azuis e verdes. Era uma cinza. Árvores tombadas como ossos gigantes, terra revirada e escura. Meu estômago embrulhou.

Liz sentiu a tensão irradiando de mim. Deu uma cotovelada suave no meu braço.

— Não fica com essa cara de enterro. Dá um sorriso — disse.

Virei para ela e fiz uma careta, um meio sorriso torto que parecia que meu rosto tava tendo espasmos.

— Que tal essa? Tá sorridente o bastante?

— Quase — ela resmungou, mas seus olhos estavam preocupados. — Relaxa. É rápido. Entra, resolve, volta.

Meus pés batiam um ritmo nervoso e incessante no piso metálico. Tic, tic, tic. Eu só queria sair dali. Respirar ar que não cheirasse a combustível e suor humano concentrado.

— Eu só quero ir embora, mãe — murmurei, sem tirar os olhos da destruição abaixo. — Este lugar é... errado.

— Eu sei — a voz dela foi mais suave. — Mas é necessário. Confia em mim. Vai ser rápido.

Valentim, que observava o horizonte com a calma de um almirante, interveio sem olhar para mim.

— Acalme os nervos, Maeve. É uma formalidade. Você volta para sua aldeia antes do pôr-do-sol. Foco no objetivo.

Objetivo. A palavra tinha um gosto diferente agora. Qual era o objetivo? Manter a farsa? Matar Jake? Sobreviver? Tudo ao mesmo tempo?

O helicóptero pousou com um solavanco final dentro de um complexo vasto e cinza, cercado pela construção de torres de vigilância e muros altos. O ar ao desembarcar era pesado, quente e carregado de poluição. A Base da RDA não era como o Posto de Comando, aquilo ia ser completamente diferente de tudo já visto.

Aquilo era a porra de uma cidade.

Caminhamos em fila: Valentim à frente, depois eu, no meio, com Yisa e Liz atrás.

Fomos conduzidos por corredores largos e iluminados por luzes frias. O som era um zumbido constante de máquinas, passos marcados, vozes em rádios. Cheirava a óleo e ozônio. Uma náusea subia na minha garganta.

A sala da General Ardmore era uma câmara estéril, com uma mesa de vidro e uma vista panorâmica para a zona de desmatamento. Ardmore levantou-se quando entramos. Ela era mais baixa do que eu imaginava. Cabelo grisalho preso impecavelmente, uniforme sem um amaçado, e um sorriso que não chegava aos olhos.

— Valentim. Um prazer, como sempre.

— General Ardmore. A honra é minha. — Valentim fez um gesto quase imperceptível, puxando-me para a frente. — Permita-me apresentar minha família. Minha filha, Maeve. Minha irmã, Lisa. E minha esposa, Liz.

Ardmore nos avaliou.

— Claro. Maeve, Lisa, Liz. Valentim falou muito sobre o trabalho de vocês. — Seus olhos pousaram em mim por um segundo a mais. — Especialmente sobre você, querida. Sua... adaptação ao ambiente nativo é notável.

Meu sangue esfriou. "Ambiente nativo." Ela sabia. Claro que sabia. Valentim lhes dera relatórios.Acenei com a cabeça, forçando meu rosto a não mostrar nada. Yisa e Liz murmuraram cumprimentos adequados.

— Estou muito contente com nossa colaboração renovada, Valentim — continuou Ardmore, voltando-se para ele. — Com seus insights e o acesso único de sua equipe, acredito que podemos acelerar significativamente a pacificação deste setor.

PUPPET GAME ' NETEYAM SULLYWhere stories live. Discover now