JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
Mas eu não era ingênua. Via o modo como seus olhos me seguiam quando eu virava as costas. A maneira como ele sempre encontrava um jeito de estar no meu grupo, de caminhar ao meu lado nas trilhas. O toque casual no meu braço que durava um segundo a mais do que o necessário. Para ele, não era só amizade.
E eu... eu não corrigi. Não afastei. Porque a atenção dele era quente e não complicada. Porque fazia eu me sentir normal, desejada por um motivo simples. E, num nível sombrio que eu mal admitia para mim mesma, porque era uma distração. Enquanto todos os olhos do clã estivessem em Ayon e em mim, sussurrando sobre a possível união do caçador habilidoso com a guerreira estrangeira que se provou tão leal, ninguém olharia mais de perto para minhas marcas, para meus conhecimentos estranhos, para o medo específico que eu tinha dos céus.
Neteyam estava distante. Obrigado por seu pai a comandar grupos de exploradores, a mapear rotas seguras. Quando nossos caminhos se cruzavam, era um aceno rápido, um olhar carregado de algo que eu não tinha energia para decifrar. preocupação? Desapontamento pela minha proximidade com Ayon? A tensão da missão? Eu desviava o olhar.
O problema é que, desde que eu cheguei aqui na vila, Neteyam não saiu do meu pé e eu criei... certa normalidade com ele. Eu não gostava de admitir, porque admitir isso era admitir que eu realmente tinha me perdido dos meus objetivos, mas Neteyam, tinha se tornado meu amigo, ele era constante comigo. Treinávamos juntos, caminhávamos juntos, realizávamos tarefas juntos. Sempre estávamos juntos. E de uma forma ou de outra, eu sabia que isso só piorava as coisas no final.
A migração foi difícil. Dias exaustivos, noites sob abrigos precários, o medo constante de ver alguma nave no céu. Mas em meio a isso, surgiu um rumor novo: o de que Ayon, filho de um respeitado caçador, e Maeve, a órfã acolhida que lutava como uma das suas, estavam se tornando um par.
Eu ouvia os sussurros. Sentia os olhares das mulheres mais velhas, avaliadores e aprovativos. Via o sorriso de satisfação no rosto do pai de Ayon.
E eu deixava. Segurava a mão que Ayon estendia para me ajudar a subir um penhasco. Aceitava a fruta extra que ele guardava para mim. Ria de suas piadas.
Na nova caverna que serviria de lar temporário nas Montanhas Hallelujah, exausta e coberta de terra, Ayon se aproximou enquanto eu enrolava uma corda.
— Você deveria descansar — disse ele, sua voz suave.
— Todo mundo está cansado — respondi, sem levantar os olhos.
— É diferente. Você carrega o peso em dois lugares — ele disse, e por um segundo, achei que ele sabia. Mas então ele continuou: — Na mente e no corpo. Você luta contra inimigos que a maioria de nós nem enxerga ainda.
Ele estava se referindo ao planejamento, à estratégia. Não fazia ideia.
— Alguém tem que fazer — murmurei.
— Deixa eu te ajudar — ele ofereceu, e sua mão cobriu a minha na corda, impedindo meu movimento.— Com o que você precisar. Sempre.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.