— A Terra tá morrendo, meu amor, não recebeu o memorando? — ela disse sarcástica.
— Se você não parar, eu te jogo do lado de fora do laboratório sem máscara.
Ela parou e se virou, um sorriso falso esticando seus lábios.
— Nossa, sobrinha linda da minha vida, pra que tanta agressividade? Eu sou sua tia preferida.
— Você é minha única tia.
— Tanto faz. — o sorriso sumiu, substituído pela seriedade habitual. — Você tem que aprender a se acalmar, okay? Eu sei que ninguém te contou sobre a nova leva, mas você precisa se acostumar.
O sangue pareceu parar nas minhas veias.
— Você sabia?
— É claro que eu sabia — ela disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— E por que nunca me contou?!
— Porque você surtaria.
— Eu não surtaria!
— Você tá surtando agora.
Eu respirei fundo, tentando controlar o tremor que ameaçava tomar conta de mim. Encostei na parede fria do corredor, sentindo o metal através do macacão.
— Talvez só um pouco — admiti, minha voz saindo em um sussurro áspero.
Yisa se aproximou, seu olhar intenso.
— Você não pode surtar, tá legal? Vai estragar todo o plano. Toda a operação. — Ela baixou a voz, mas as palavras eram afiadas. — Essa é a missão da sua vida, cenourinha. Não importa o que os Na'vi, ou Jake Sully, ou até aquela vozinha confusa dentro de você esteja dizendo. Você precisa focar aqui. No presente. No que você foi designada a fazer.
As palavras dela eram um martelo batendo na mesma tecla de sempre. Mas o som agora era diferente. Tinha o ruído de fundo de foguetes e florestas queimando. A dor na minha cabeça aumentou, uma pressão agonizante entre os meus pensamentos que colidiam.
A floresta e seu povo estavam se amarrando em mim. E cada laço era uma corda no meu pescoço, puxando-me para uma direção, enquanto as mãos de Valentim e Yisa me puxavam para a outra. Eu estava sendo esquartejada viva.
A respiração fugiu do meu controle, ficando superficial e irregular. As luzes do corredor pareciam pulsar.
— Tia Yisa... — a voz saiu quebrada. — Eu não sei se consigo lidar com tudo isso.
Por um instante, o rosto duro de Yisa pareceu rachar. Uma sombra de algo parecido com pena, ou talvez só o cansaço de anos lidando com uma arma defeituosa, passou por seus olhos. Ela fechou a distância e colocou uma mão em meu ombro. Um toque afetuoso, como se tentasse me ancorar.
— Você é forte, cenourinha. Eu vi você superar coisas piores. Você vai enfrentar isso também.
Era mentira. Nenhum treinamento, nenhuma simulação, nenhuma punição do Valentim foi pior do que a sensação de ter meu coração dividido ao meio. Mas as palavras dela, foram a única coisa que eu tinha para me agarrar.
Fechei os olhos, tentando bloquear o dilúvio. As imagens do incêndio, do rosto de Neteyam na caverna, do bracelete de Gaia no meu pulso, dos olhos de Valentim.
— Eu só preciso de um momento. Para processar.
Yisa deixou sua mão no meu ombro por um segundo a mais, então retirou.
— Eu estarei aqui quando você estiver pronta — ela disse, e pela primeira vez, soou menos como uma ameaça e mais como um fato triste. — Lembre-se, Maeve. Você não está sozinha nisso.
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PUPPET GAME ' NETEYAM SULLY
FanfictionJOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras. Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança. Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial. Criada entre cientista...
007. SCIENCE NERD
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