— Ai, essa miçanga tá me machucando! — Layra reclamou quase imediatamente, quando Kiri apertou um pouco demais.
— Para de reclamar, Layra, tá parecendo até a Maeve agora — Kiri disse
— Eu tô achando que é você que não sabe fazer sem quase arrancar o cérebro das pessoas, Kiri — Layra rebateu, fazendo careta, mas permanecendo sentada.
Spider, vendo a atenção se desviar, ficou inquieto.
— Se vocês demorarem muito, o Norm vai ficar bravo. O eclipse está chegando, e ele quer que eu e o Layra estejamos no laboratório antes de começar.
— Calma, Spider — eu disse, ajustando uma das minhas novas tranças. — Elas não tão demorando tanto assim. Aproveita a paz.
A paz. Era isso que era. Aproveitei o silêncio momentâneo, o som calmante das mãos trabalhando no cabelo.
— Sabe... — comecei, olhando para as mãos no colo. — Eu queria namorar. Já tô me sentindo velha demais pra ficar solteira.
A declaração pairou no ar, mais pesada do que eu pretendia. Kiri parou por uma fração de segundo, então continuou a trançar o cabelo de Layra.
— Você deveria tentar algo com o Ayon — ela disse, sua voz neutra. — Ele vive atrás de você, dando mole o tempo todo. Bem... vocês vivem juntos e agindo como casal já.
— Nah, não gosto dele. Ele é legal, mas... se acha demais. É tudo muito óbvio.
Layra tentou ajudar, sua voz vindo de frente:
— Ah, não seja tão dura, Maeve. Às vezes, as pessoas têm camadas que precisam ser descobertas. Ele pode surpreender.
"Camadas." A palavra me fez pensar em Valentim, em Yisa, em mim mesma. Quantas camadas eu tinha? Quantas eram reais?
— Camadas? — repeti, um sorriso irônico se formando nos meus lábios. — Ele parece mais uma cebola, Layra. E, sinceramente? Não tô a fim de descascar isso.
A comparação foi tão absurda e precisa que uma onda de riso genuíno tomou conta da barraca. Layra riu tão forte que Kiri teve que parar para não puxar seu cabelo. Spider gargalhou, jogando-se para trás.
— Cebola! Por Eywa, Maeve! — Kiri conseguiu dizer entre risos
Eu ri junto, aliviada que a tensão tênue tivesse se quebrado em humor.
Eu queria namorar. Queria a simplicidade de um sentimento que fosse só meu, que não fosse parte de um plano ou de uma farsa. Só que, olhando ao redor, para os únicos rostos que me faziam sentir algo real, eu sabia que o problema não era encontrar alguém. O problema era que o único sentimento verdadeiro e complicado que eu tinha era justamente pelo único garoto que eu não podia ter, e que, ultimamente, parecia estar a anos-luz de distância, mesmo quando estávamos na mesma montanha. E fingir interesse por Ayon era apenas mais uma trança na teia de mentiras que meu cabelo, agora lindamente entrelaçado, parecia simbolizar perfeitamente.
Não, eu não estou apaixonada por ele, isso são culpa dos hormônios da adolescência. Eu não posso estar apaixonada por ele. Nem faz sentido eu estar apaixonada por ele.
A risada pela minha analogia com a cebola foi diminuindo, deixando um ar ainda descontraído, mas agora com a minha confissão pairando sobre nós. Spider se inclinou para frente.
— Então tá descartado o Ayon-cebola — ele declarou. — Mas a questão permanece, ó jovem solteira. Tem outros caçadores por aí. O Venti é bom com as mãos. O Ralu, meio quieto, mas tem um ikran lindo...
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PUPPET GAME ' NETEYAM SULLY
FanfictionJOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras. Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança. Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial. Criada entre cientista...
007. SCIENCE NERD
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