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× 𝕋𝕒𝕞𝕚𝕣𝕖𝕤 𝔾𝕦𝕖𝕣𝕣𝕒 × ℕ𝕒 𝕞𝕖𝕤𝕞𝕒 𝕤𝕖𝕞𝕒𝕟𝕒

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× 𝕋𝕒𝕞𝕚𝕣𝕖𝕤 𝔾𝕦𝕖𝕣𝕣𝕒 ×
ℕ𝕒 𝕞𝕖𝕤𝕞𝕒 𝕤𝕖𝕞𝕒𝕟𝕒

Sinto uma fisgada no pescoço. Minha musculatura está toda tensa, a minha lombar tá fodida e não consigo mexer os braços sem ter a sensação que estão pesados a ponto de cair.

— Foco, Tamires. Bora, bora – O personal assovia. Tenho vontade de estalar o pescoço, mas se eu fizer é capaz de tensionar mais e ter outras fisgadas — Foco! Vamo.

Um. Dois. Três. Quatro. Soco o saco de pancadas, minha força se perde pelo meio. Cinco. Seis. Sete. Oito. Amanhã é dia de atender de novo o casal na terapia. Minha força volta. Nove. Dez. Onze. Doz...

— Ou! Tamires! Ou! Para! Vai lesionar a porra do bíceps desse jeito – Ele puxa o saco da minha frente e por pouco não acerto o soco no rosto dele, mas seu reflexo é bom e ele desvia a tempo — O que tá acontecendo, porra?

Nego com a cabeça — Quero fazer um treino livre hoje.

Ele me olha e parece analisar a situação. Me conhece e sabe que se não deixar eu vou continuar do meu jeito, então ele assente com a cabeça e passa instruções que não ouço nenhum pouco.

Somos eu e o ringue agora. A adrenalina tá em alta no meu corpo e eu soco o saco. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Paro e respiro. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Tiro os fios de cabelo que grudam na testa. Onze. Doze. Treze. Catorze. Quinz...

— Ei! Ou! – Um assobio me para.

Não é o personal.

— Você vai acabar se lesionando se não der uma pausa – Zé pula pra dentro do ringue.

— Sai daqui. Me deixa em paz – Estalo a língua, prendendo a luva com mais força. Uma fisgada no meu pescoço é mais intensa que a anterior e eu faço uma careta.

— Não deixo – Ele é firme. Para na minha frente, do lado do saco de pancadas e me encara com a mandíbula trincada — Não quero que se machuque.

Não respondo. Só volto a socar o saco de pancadas, com ainda mais força do que antes. Se ele quiser ficar aqui, que fique então. Só não é problema meu se um dos socos desviar e quem acabar apanhando seja ele.

— Tá bom, quer assim? Vai ser assim – Ouço ele dizer. Com uma destreza que eu não teria, ele puxa o saco de pancadas mesmo em meio aos meus inúmeros socos e chutes e começa a segurá-lo, igual o personal normalmente faz — Agora ajeita essa coluna, Tamires. Alinha os pés e os ombros. Agora.

O tom dele muda completamente. Não é um cara que não quer que eu me machuque e ao mesmo tempo não é um grosso idiota. É justamente o que não devia ser, porque fica aqui assegurando que eu não me machuque mesmo que eu esteja fazendo tudo errado.

Ficamos em silêncio por um tempo. Meu corpo grita, tudo dói, em todo lugar tenho fisgadas. Mas continuo. Não sei se tô aliviando, se tô piorando e dando murro em ponta de faca, se meu corpo entrou num automático maluco e não para até que eu caia de exaustão, mas ele continua aqui. Ajeita o saco de pancadas a tempo quando eu faço o movimento errado e ele percebe que ia me machucar. Segura com todo jeito mesmo que eu esteja forçando ao máximo. Não sai do lugar.

— Você sabe... A mandíbula humana é uma das mais fortes do reino animal, mas nem por isso você tem que apertar os dentes assim – Me diz, passando a língua pelos lábios. Tenho a sensação de que ele segura um sorrisinho.

É instântaneo. A minha cara de brava se desfaz. Igual aconteceu no dia do jogo no Allianz, mas agora comigo.

Por um segundo, me permiti achar nossa relação leve. Ignorando tudo. Todo o resto. Terapia de casal, divórcio, tensões gerais. Nós dois no mesmo ambiente, é... leve.

O segundo passa e tudo volta. Com intensidade. Acabo de desferir mais três chutes.

— Você não tem esse direito, sabia? Não tem – Desabafo e ele baixa a cabeça, assentindo muito de leve.

— Eu sei – Murmura — Mas não consigo ficar longe de você.

Sei lá. Parece que eu sou uma bomba e que vou explodir. E a julgar pelo quanto a sensação é intensa, eu devo ser a bomba de Hiroshima e Nagasaki, desculpa aí.

— Você não tem esse direito – Repito, me sentindo como uma daquelas fontes que quando é furada, tudo que tem dentro jorra. Basta sair uma palavra que todas as outras que também tão engasgadas vão embora junto — Não pode ficar fazendo isso. Não pode me procurar pela cidade, não pode pedir ajuda dos seus amigos pra me encontrar, não pode ficar muito tempo olhando fotos minhas, não pode me cercar, não pode ficar flertando comigo o tempo todo, não pode querer saber se tenho ou não outra pessoa, não pode agir como se se preocupasse comigo lutando, ok? Você não pode. Não tem esse direito.

Ele pressiona os lábios e sai de trás do saco pra vir pra mais perto de mim. Minha respiração tá acelerada e ou o suor tá ardendo meus olhos ou eu tô muito maluca e quero chorar.

— Sei o que parece, mas... acredita em mim, ok? Não tenho intenção de ficar com ela – Ele assopra. Coloca os braços na cintura e eu tenho de novo a percepção de que é mesmo um cara reservado, porque enquanto a maioria na academia vem com poucas roupas, ele está até de casaco — Tô fazendo a terapia por causa das crianças. Ela fica jogando na minha cara que tem os filhos no meio e... É complicado.

Assinto devagar.

— Pra mim é mais ainda.

— Não queria que você se sentisse assim – Sei que ele engoliu seco porque o pomo de Adão acaba de se mexer — Eu só... te observo de longe há tempo demais. Quis chegar perto, tentar.

Pisco os olhos. Eu estava certa. Ele realmente já tinha me visto aqui.

— Achei que pela primeira vez na vida podia fazer o que eu queria, sabe? Sem ser o que eu devia fazer ou o que era o certo pro momento.

Não digo nada. Não sei se estamos tendo uma conversa silenciosa ou se ele toma a decisão sozinho, mas tô toda suada quando ele começa a se afastar e as fisgadas continuam acabando com a minha raça.

Deve ser a primeira vez que me sinto tão perdida em anos. Mais que perdida, me sinto sozinha. E dói. Dói mais que a dor no corpo que tive o dia inteiro.

Oiiii gente, tudo bem por aí? Espero que sim!

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Oiiii gente, tudo bem por aí? Espero que sim!

Não apareci por aqui ontem porque tive um dia beeeeem corrido, mas a meta desse aqui continua sendo 150 comentários e eu devo aparecer por aqui amanhã antes do almoço se já tiver sido batida.

Se eu fosse vocês ficaria muuuuuuito atenta com isso que ele disse no final 👀 é um indício dos motivos do divórcio e do que ele espera ter num próximo relacionamento. Sei que estão curiosas para saber sobre 🫶

Até amanhãaaaaa

𝐒𝐄𝐂𝐑𝐄𝐓𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐒𝐔𝐀 | 𝐙𝐄 𝐑𝐀𝐅𝐀𝐄𝐋Where stories live. Discover now