· 42 · O Pasquim

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A algazarra das corujas que se enfileiraram na mesa da Grifinória chamou a atenção de todos no Salão Principal, especialmente quando Umbridge decidiu ir averiguar de perto o que o jovem Harry Potter estaria tramando tão cedo, em pleno café da manhã. Havia uma pilha de cartas espalhadas e envelopes abertos, sobre os quais o trio de ouro, Fred e Luna, comentavam. 

– Isso agora é crime? – exclamou Fred em voz alta, quando a professora os questionou com seu tom falsamente infantil e meigo. – Receber cartas?

– Cuidado, Sr. Weasley, ou será que terei de lhe dar uma detenção? – a mulher ameaçou.

Ali perto, Emily assistia atentamente à confusão ao lado de Summerby e Cadwallader.

Uma coruja marrom pousou entre eles e, encarando com seus olhos enormes, aguardava o pagamento pela entrega realizada. Como os garotos estavam absortos em comentários irrelevantes sobre o jogo do sábado anterior, Emily foi quem pagou-a, colocando o exemplar perto do prato de um deles assim que o animal saiu voando pelo salão.

 – Ah! Obrigada. – Erick agradeceu, rasgando o embrulho pardo. – É o Pasquim. Tem umas matérias engraçadas de que gosto bastante. O que será que... Ah. – ele parou de folhear a revista e fechou-a. – Pode ler, se quiser.

Erick empurrou levemente a revista por cima da mesa na direção dela, com um ar apreensivo, antes de voltar a falar com William. Na capa havia uma foto de Harry sorrindo, com um título em letras vermelhas anunciando bem acima:

HARRY POTTER ENFIM REVELA: A VERDADE SOBRE AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO E A NOITE EM QUE VIU SEU RETORNO.

Então essa era a motivação por trás do chilique de Umbridge. Aquela montanha de cartas que causou o engarrafamento de corujas e que chamara sua atenção, certamente eram respostas de leitores ao que Harry havia contado em sua entrevista. 

Emily passou o resto do café da manhã aérea. Ler sobre os detalhes que ocasionaram a morte de seu melhor amigo não era nem um pouco agradável e como se já não fosse o suficiente, um calafrio percorria sua espinha todas as vezes em que apareciam menções à um dos Comensais ao longo do texto. 

Mas havia um lado positivo, ao qual ela tentou apegar-se. Alguns de seus questionamentos mais íntimos sobre as circunstâncias da morte de Cedrico haviam sido respondidos e a memória do garoto poderia finalmente descansar em paz, já que a matéria certamente convenceria aqueles que ainda duvidavam das palavras de Harry e do retorno de Voldemort.

– Para onde é que você está indo? – Fred perguntou ao se esbarraren antes da aula.

– Eu... – Emily parou abruptamente. Se perdera em pensamentos e estava caminhando até a estufa errada. – Não faço a mínima ideia.

– Leu a entrevista. – ele supôs. Ela assentiu e levou as mãos à nuca, massageando o lugar e enchendo os pulmões de ar. 

– Estou enlouquecendo, Fred.

Nah! Você sempre foi meio biruta... – ele ergueu o queixo dela com o indicador e riu. Emily saiu marchando com raiva. – Espere! Não me deixou terminar! 

– E nem pretendo!

– Quis dizer que você até que é doidinha sim... – ele alcançou-a e abraçou-a por trás, curvando-se o suficiente para apoiar o rosto entre a curva de seu ombro e pescoço – Mas eu gosto. Muito. – Fred beijou-lhe a bochecha e se afastou. Ele lançou outro beijo no ar, antes de correr para dentro da estufa, deixando-a sozinha com fogos de artifício explodindo no estômago.

A nova matéria do Pasquim foi o assunto mais comentado do dia, o que deixou a Alta Inquisidora incomodada a ponto de afixar enormes avisos por toda a escola, proibindo a leitura ou posse de exemplares, sob a pena de expulsão. Obviamente, a ameaça não surtiu o menor efeito. Continuaram a comentar sobre a entrevista e alguns mais atrevidos enfeitiçavam as capas e simplesmente as escondiam antes de serem revistados.

Fred e George (como era de se esperar quando se tratava dos dois) lançaram um Feitiço Ampliador na capa de um dos exemplares e penduraram na parede do Salão Comunal da Grifinória. Não satisfeitos, fizeram ainda com que aquela imagem gigante de Harry xingasse o Ministério e a professora Dolores durante boa parte da noite. 

Contudo, a tranquilidade que pairava sobre a escola voltou a ser abalada por volta de duas semanas depois.

Emily e Anabel haviam acabado de comparecer ao Salão para o jantar, quando ouviu-se uma gritaria histérica no Saguão de Entrada. Os alunos correram para o local e encontraram a professora Trelawney de cabelos bagunçados, com seus xales e cachecóis caídos desalinhadamente em volta dos ombros. Haviam ainda dois malões jogados aos seus pés e Umbridge contemplava-a com soberba e triunfo.

– E ela pode expulsar professores? – Emily questionou quando conseguiu encontrar um lugar entre Lee e os gêmeos, que evidentemente foram os primeiros a sair correndo na direção de toda a agitação quando esta teve ínicio.

– Parece que sim. – Lee confirmou sem tirar os olhos da confusão. – A vaca rosa tem prestígio no Ministério. Pode fazer o que quiser. 

– Eu duvido que Dumbledore vá permitir. Aliás, onde é que ele está? – Anabel questionou aflita e começou a buscar ao redor, como se o bruxo fosse instantâneamente se materializar ali.

– Anabel... – Lee cumprimentou e ela correspondeu com um aceno rápido. – Está melhor? Fiquei sabendo que...

Shh! Agora não! – Emily interrompeu desesperadamente e fuzilou George com um olhar acusador. – Algumas pessoas realmente precisam aprender a guardar as informações apenas para sí.

– Vai me contar depois? – Fred sussurrou para Emily quando os demais se distrairam.

– Você já sabe, Fred. – Emily discretamente mostrou-lhe o indicador e o mindinho da mão direita e ele assentiu, recordando-se.

Recentemente, Anabel havia feito uma triste descoberta acerca de certas aventuras de Francis, durante sua viagem no verão. Trair uma namorada que fora agraciada com o dom de possuir visões, certamente não era muito inteligente.

As grandes portas de carvalho da entrada se abriram e Dumbledore atravessou o saguão. Em uma breve troca de farpas, o diretor garantiu a permanência da professora Trewlaney nas acomodações do castelo e ela saiu apoiada pelas professoras Minerva e Sprout escada acima, com Flitwick guiando os malões flutuantes logo atrás.

E as reviravoltas pareciam não ter chegado ao fim, pois Dumbledore anunciou, à uma Umbridge completamente frustrada, que já havia providenciado a contratação de um substituto para o cargo de professor de Advinhação.

Em meio a névoa daquela noite escura, o som de cascos batendo contra o chão foram ouvidos por todos no local, seguidos de múrmurios de espanto com a figura que adentrara o castelo. Alguns tropeçavam ao abrir caminho porque não hesitavam em olhar maravilhados para aquele ser, avançando com imponência na direção do centro do círculo.

– Este é Firenze. – Dumbledore disse com satisfação ao apresentar o centauro para a assombrada professora dando passinhos para trás. – Creio que você o aprovará. 

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora