· 21 · Amuleto

456 59 48
                                    

Dispensados ao fim de um período de Defesa Contra as Artes das Trevas, Emily demorou-se na sala um pouco, procurando por uma pena perdida. Quando desistiu de encontrá-la, correu para se juntar ao último grupo que deixava o local.

– Tem entregado trabalhos muito satisfatórios. É de fato uma bruxa talentosa, Srta...? – O professor Alastor Moody comentou em voz alta, ao vê-la passar por sua mesa.

– Carpenter. – acrescentou ao notar que era à ela que estava se referindo. – Obrigada, professor. – respondeu verdadeiramente lisonjeada.

– Imagino que tamanho talento deva ser um dom de família. Acertei? – Moody caminhou até ela. O som da perna de madeira preenchendo a sala, agora vazia.

– Acredito que não, professor. Meus pais não são bruxos. – ela corrigiu, apertando a alça da mochila, intimidada pela figura do homem. – É um engano comum.

– Oh, sim... Um engano. Nesse caso, perdoe-me. É que me lembra alguém, Srta. Carpenter. – ele tentou sorrir, mas os músculos de seu rosto pareciam ter se esquecido de como fazê-lo, o que tornou sua carranca contorcida ainda mais sombria. – Diga-me, seu aniversário deve estar se aproximando, não?

– Sim, senhor. É no fim do mês. – concordou incerta sobre a relevância daquela informação. Alastor Moody certamente não parecia ser o tipo de pessoa que faz questão de felicitar alunos em seus aniversários.

– É claro, imagino que sim... – acrescentou vagamente, pensativo.

– Há algo de errado, professor? – Emily arriscou.

– De maneira alguma. – ele tirou um frasco do bolso e virou todo o conteúdo nos lábios. – Se me dá licença, há outro lugar onde preciso estar. Passar bem. – ele saiu batendo o cajado contra o piso.

Na última semana de maio, a professora Pomona Sprout pediu à Cedrico que comparecesse ao campo de quadribol às nove da noite, ocasião na qual os campeões receberiam as instruções para o último desafio. Assim que voltou ao dormitório da Lufa-Lufa, Emily e Anabel o esperavam no mesmo lugar em que estiveram desde que saíra.

Emily não contou à Anabel sobre o que viu e ela tampouco sobre o que andava fazendo, ou com quem, andara fazendo. E já que agiam como se tudo estivesse bem entre elas, Cedrico achou que a melhor forma de evitar o estresse seria não incitar nada, ou teria que tomar partido. Além disso, Emily havia feito uma promessa ao garoto e não pretendia quebrá-la.

O aniversário de Emily chegaria em menos de dois dias, mas ela não parecia nem um pouco ansiosa. Longe disso, tentava à todo custo fazê-los esquecer da proximidade da data. O torneio, as aulas e até mesmo as novas manchetes sensacionalistas no Profeta Diário serviam de tópico para mudar de assunto. Qualquer coisa era válida.

– Vai adorar nosso presente. – George apoiou-se numa pilastra ao lado dela.

– Não. Sem chance. Até vocês? – ela fez uma cara penosa, implorando por compreensão.

– Hoje é seu aniversário. Deveria comemorar. – Lee disse.

– Exatamente. E deixe para ser mal agradecida depois de ver a surpresa que preparamos para você. Eu mesmo planejei tudo, cada detalhe. – Fred disse orgulhosamente. – Vai ser algo... Como você descreveria, maninho?

– Definitivamente notável. E você Lee?

– É bem... impactante, huh?

– O que é? – perguntou interessada.

– Uma surpresa. – os três responderam em uníssono com sorrisos travessos.

Mais tarde, Emily foi à Comunal se encontrar com Cedrico. Apesar de ter manifestado claramente a sua contrariedade em relação à uma festa, havia cedido ao esforço dele e chegaram ao acordo de reunir um pequeno grupo de pessoas para comemorar.

Quando foram finalmente deixados sozinhos, o garoto entregou-lhe um envelope. Dentro havia uma pequena foto de um gato adulto de pelagem preta se esticando, enfiando as garras numa goles e mordendo-a.

– Pra dar sorte. – Cedrico disse.

– Uma foto? – ela questionou sem entender como aquele animal magricela e arisco poderia trazer algum tipo de sorte. – Como um amuleto? Pra guardar na carteira?

– Não! Não é a foto! – ele riu com a expressão confusa dela. – É o gato. O gato é o seu presente!

Ela observou bem a figura mal humorada daquele animal. Olhou para Cedrico, que ainda sorria felicíssimo. Olhou uma última vez para o bicho e, reconhecendo o fundo da imagem, inspirou de olhos fechados.

– Você vai me dar... – fez uma pequena pausa, descrente das próprias palavras – Um gato?

– Não é um gato qualquer. Este adora quadribol.

– Cedrico Diggory. – ela apontou para um armário de vassouras no fundo da foto. – Não está tentando se livrar daquele gato esquisito que apareceu na sua casa, está? Aquele que quase destruiu as cerdas da sua vassoura no verão passado.

– Estou confiante de que vai ser uma ótima adição ao time, mal posso esperar pra te ver jogar pra valer! – ele abraçou-a fortemente. – Feliz aniversário! – saiu depressa para se reunir à outro grupinho antes que ela pudesse reclamar.

Minha vez! – Anabel cantarolou, mostrando uma sacola da Trapobelo e um pequeno embrulho do qual Emily retirou uma bússola de prata com desenhos e floreios incrustados na superfície. – o embrulho é do seu pai. Chegou pelo correio coruja hoje com a carta que deixei no seu malão.

– Obrigada. – Emily abraçou-a.

– Também tem isso aqui – ela colocou uma caixa de doces da Dedos de Mel em cima da mesa. – Francis me pediu para entregar, porque vai passar o resto do dia cumprindo detenção. Aliás, o resto do mês, se entendi direito.

– Por quê? O que ele fez? – Emily perguntou impressionada. Francis não era o tipo de cara que costumava se meter em detenções com frequência. De fato, duvidava que ele já tivesse enfrentado alguma antes.

– A mochila dele estava cheia de fogos filibusteiros durante a aula de Herbologia. Ninguém sabe como aconteceu, mas eles acenderam e tudo virou um caos. Quem estava lá, disse que nunca viu a professora Sprout tão zangada.

Emily conteve o sorriso bobo que ameaçou escapar. Tinha a leve suspeita do que realmente se tratava aquilo. Fez uma nota mental para se lembrar de agradecer aos autores de um presente tão atencioso depois.

À noite, prestes a ir se deitar, lembrou-se da carta que o pai tinha enviado e apanhou-a de dentro do malão.

Entre mensagens muito emotivas, votos de felicitação e declarações de puro orgulho, uma das frases chamou-lhe a atenção. No final daquela folha, rasbiscada com a caligrafia desajeitada do pai, lia-se:

"Para que sempre consiga encontrar a direção certa... Qualquer que seja o destino que está buscando."

The Castle On The Hill | Fred WeasleyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora