JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
Valentim respirou fundo, pensativo. Ele olhou pra mim como quem realmente estava tentando entender minha dor, não controlar, não manipular, não corrigir.
Entender.
— Eu não estou bravo — ele disse, finalmente. — Só quero que você não carregue isso sozinha. Você é parte de nós. E não importa quem mais exista lá fora. Isso não te tira daqui.
Eu fechei os olhos, engolindo um nó quente.
— Eu não quero ela como mãe — eu repeti, mesmo sem ninguém ter sugerido isso. — Eu odeio ela. Odeio. Porque se ela teve outra filha... então talvez ela tenha escolhido ela. Não eu.
A voz que saiu de mim era muito menor que eu queria. Yisa colocou a mão no meu ombro. De leve. Sem forçar.
— E isso dói — ela disse. — A gente vê.
Valentim deu outro passo, mas hesitou, como se estivesse com medo de me tocar e piorar.
— Maeve... ninguém aqui vai deixar você sozinha nisso — ele disse, ainda suave. — Não importa quem foi Grace. Não importa quem é essa outra garota. Você é minha filha. E nada muda isso.
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ACORDEI COM O barulho de um grito.
Não um grito comum. Era daquele tipo que arranha o peito e arrasta algo dentro de você junto.
Eu saltei da cama antes de pensar, o coração disparado. O chão estava gelado sob meus pés enquanto eu atravessava o corredor quase no escuro, seguindo o eco desesperado da voz que, por algum motivo, eu já tinha certeza que conhecia. Como se tivesse ouvido outras vezes que a minha memória se esqueceu.
Quando virei o corredor principal, encontrei um aglomerado de militares e técnicos.
Valentim estava no centro. Postura rígida. Braços cruzados. Mandíbula travada.
Yisa e Liz ao lado, ambas com expressões duras demais pra serem normais.
— O que tá acontecendo? — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.
Valentim se virou devagar, e quando os olhos dele encontraram os meus, senti aquele gelo familiar, o mesmo que sempre apareceu quando ele decidia que eu não devia saber de algo.
— Maeve — ele disse, sem elevar o tom. A calma dele sempre era pior que raiva. — Volte para o seu quarto. Agora.
— Pai, eu ouvi...
— Não é assunto seu. — cortou. — Yisa, leve ela. E fique com ela. Porta trancada.
A última frase foi pra Yisa, mas os olhos estavam cravados em mim. Ele não estava pedindo. Nunca pedia.
— Mas o quê? Quem gritou? — minha voz tremeu antes que eu conseguisse controlar.