JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
— Achou que eu não ia saber que a Kiri é filha da Grace? — perguntei, braços cruzados, enquanto pisava na área que só eu e Rai'uk podíamos ficar.
Ele estava largado em cima de uma árvore como sempre e, quando me ouviu, pulou lá de cima sem pressa nenhuma.
— Eu sabia que você ia descobrir. — disse ele, como se isso fosse um detalhe qualquer.
Meu sangue ferveu.
— Então por que não falou antes?
Rai'uk deu alguns passos até ficar perto o bastante pra me encarar. Eu odiava quando ele fazia isso, como se quisesse medir minha força pela minha respiração.
— Porque eu não queria que você soubesse que tem uma irmã.
Senti meu estômago virar. Engoli em seco.
— Ela não é minha irmã. — respondi rápido, quase automático.
— É sim.
— Não é. — falei mais alto do que pretendia. — Se o Lo'ak estiver certo, ela nasceu do avatar da Grace. Eu nasci da Grace humana. Isso não é a mesma coisa. — digo com ódio. — Então para com essa história.
Ele apenas ficou me olhando. Não tinha julgamento ali, só... certeza. Isso me irritava mais ainda.
— Maeve, ela é sua irmã. — repetiu ele, dessa vez mais calmo, quase paciente. — De carne, consciência, memória. Isso não muda só porque vocês nasceram de corpos diferentes.
Respirei fundo. Não adiantava. Dentro de mim, estava tudo doendo.
— Ela viveu com uma mãe Na'vi. Na vila. — minha voz escapou mais baixa, mais sincera do que eu queria. — Eu cresci numa base militar. Assistindo telas. Dormindo em cápsulas. Sendo... isso aqui. — abri os braços, como se aquilo explicasse tudo. — Não coloca a gente na mesma frase como se fosse simples.
Ele se aproximou mais um passo. Meu corpo ficou tenso.
— Simples nunca foi. — ele respondeu.
E por um segundo, eu senti vontade de quebrar alguma coisa. Ou de chorar. Ou os dois.
Mas eu só virei o rosto.
— Ela não é minha irmã. — repeti, mais fraco, como se estivesse tentando convencer a mim mesma.
Rai'uk colocou a mão no meu ombro. Não pesada. Não suave. Só... presente.
— Você pode negar quanto quiser. Isso não muda o que é.
Eu não respondi. Se eu falasse mais alguma coisa, ia desmoronar. E eu não ia dar esse gosto pra ninguém.
Virei as costas e saí, mesmo sentindo o coração batendo no meu pescoço, como se tentasse escapar.
Eu não tinha irmã.
Eu não tinha ninguém.
E se aquela verdade existia... eu ainda não estava pronta pra ela.
¡Ay! Esta imagen no sigue nuestras pautas de contenido. Para continuar la publicación, intente quitarla o subir otra.