JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
Eu tentava chegar perto dos filhos do Toruk Makto sem parecer forçada. Neteyam, principalmente. E, ao mesmo tempo, evitava Neytiri. Aquela mulher me dava calafrios. O tipo de pessoa que olha dentro de você como se soubesse exatamente o que você está escondendo.
Logo eu começaria os treinos para o Iknimaya. O tal ritual. Se eu quisesse um ikran, eu precisava passar por ele. E eu queria. Precisava. Ninguém aqui ia me ver como fraca.
Jake me colocou para treinar com Neteyam. Não porque ele fosse "o mais jovem a conseguir um ikran". Mas porque queriam alguém me vigiando. Alguém da idade "certa" para ficar por perto e garantir que eu não fizesse besteira. Ridículo. Como se eu fosse deixar eles me verem tropeçar.
Acordei mais cedo naquela manhã. Sempre melhor chegar antes, estar pronta antes. Caminhei até a máquina e me conectei ao meu corpo azul.
Assim que meus olhos se abriram no avatar, ouvi vozes. Confusas, abafadas. Meu coração acelerou. ataque? Uma armadilha?
Peguei minha faca pendurada no galho onde eu dormia e virei rápido, instintiva, agressiva. A lâmina quase tocou a garganta do invasor.
Era Neteyam.
— Bom — ele disse, como se nada tivesse acontecido. — Bom reflexo.
Meu pulso tremia levemente, mas meu olhar ficou frio.
— Idiota. Eu poderia ter te matado.
Ele sorriu. Aquele sorriso arrogante, de quem acredita que nunca vai perder. Recuei a faca. Não seria inteligente matar o primogênito do Olo'eyktan logo no começo.
— Às vezes você precisa reagir rápido aqui — ele disse. — Pra uma recém-chegada, você está indo bem.
— Eu não acabei de chegar — respondi seca.
Ele ignorou.
— Vamos treinar.
Revirei os olhos, mas segui atrás dele. Ele falava sobre o Iknimaya enquanto caminhávamos pela floresta. Eu ouvia, mas observava mais do que prestava atenção. O jeito que ele andava. O jeito que ele analisava o ambiente. Eu não gostava dele. Não porque fosse ruim, mas porque era bom.
E eu não aceitava ficar atrás de ninguém.
Ele parou e se virou pra mim.
— Você sabe lutar?
— Sei.
— Que tipo?
— Corpo e armas.
Ele me encarou como se tentasse medir algo em mim.
— Me mostra.
— Com ou sem arma?
— Sem.
Peguei a faca e a joguei pro lado. Ele fez o mesmo. Por um segundo, só o som do vento entre as folhas. Meu corpo ficou firme, atento. Ele me estudava. E eu estudava cada movimento dele.
— Pronta? — ele perguntou.
— Sempre — eu disse. E eu estava. Porque eu ia provar que ninguém aqui era melhor do que eu.
Nem mesmo Neteyam.
Eu comecei com um golpe rápido no rosto dele. Direto, certeiro, como fui treinada. Mas ele desviou como se fosse fácil. Senti o calor da frustração subir na minha garganta, mas engoli.
Não ia dar a ele o prazer de ver isso.
Tentei de novo, dessa vez nas pernas. Uma varredura baixa, pra derrubar. Ele saiu do caminho como se tivesse previsto o movimento antes mesmo de eu pensar nele.
Claro. O filho perfeito do grande líder. Tudo naquele rosto gritava "eu treino isso desde que aprendi a andar".
Minha expressão deve ter vacilado por um segundo, um milímetro de desagrado. Mas segurei. Eu sempre seguro.
Continuamos. Eu atacava, ele desviava. O chão irregular tentava me trair, as folhas escorregavam sob meus pés, mas eu me adaptava. Eu sempre me adapto.
O sol atravessava as folhas e iluminava nossas sombras, cortando o ar pesado entre nós. Cada golpe era mais do que treino. Era guerra silenciosa. Ele tentando me ler. Eu querendo arrancar aquele ar seguro dele.
Em algum momento, não sei quando, a luta virou uma simples luta. Eu atacava rápido demais pra parecer humana. Ele respondia rápido demais pra parecer justo.
Até que paramos.
Estamos no chão, ofegantes. Eu por cima dele, joelho cravado firme, mãos prontas. Ele olhando pra mim como se esperasse... reconhecimento? Respeito?
Ridículo.
Minhas mãos tremiam pelo esforço e pela adrenalina, mas minha voz, quando saiu, foi firme. Eu teria vencido. Só precisava de mais tempo. De mais técnica pandoriana. De mais silêncio interno.
Eu me afastei primeiro. Levantei, respirei fundo, deixei o suor escorrer pelas têmporas sem limpar. Ele levantou logo depois, respirando pesado também.
Nós dois de pé. Dois predadores tentando descobrir quem sangra primeiro.
— O segundo passo é o arco, você sabe o básico? — Neteyam perguntou, e eu quis acertar um flecha no meio do seu rosto.
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