Capítulo XXI

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Em um dia de sol eu estava lavando o meu carro, até que para um carro em frente a minha casa, dele descem duas pessoas, um homem e uma mulher, o homem trajava roupas de padre, enquanto a mulher de meia idade usava roupas formais.

— Bom dia — O padre falou ao se achegar, fiquei curioso sobre o que raios eles queriam comigo, Miguel estava no trabalho.

— Bom dia! — Retribui a cordialidade.

— Suponho que seja o Sr. Michael Neumann —

— Quem deseja saber? —

— Alguém que confessou seus pecados e precisa de seu perdão. — Naquele instante fiquei extremamente curioso em saber quem seria essa pessoa e quais seriam esses pecados, uma leve desconfiança me veio à mente.

— Foi o senhor ou foi a senhora? Não os conheço, podem ser mais específicos —

— Foi o meu marido, ele deseja conversar com o senhor, é um assunto que apenas a vocês diz respeito, apenas viemos aqui pois ele está incapacitado. —

— Então vocês dois vêm aqui dizem que alguém precisa falar comigo, mas não falam o porquê. Acho que eu preciso saber a razão. —

— É sobre sua família — Fiquei desnorteado com a notícia, eu já imaginava do que seria o assunto — Esse homem quer conversar com você meu filho — O padre falou.

— E onde ele está? —

— No hospital, em seus últimos dias nessa terra, aqui está o endereço, por favor pense a respeito, ele não tem muito mais tempo. — Depois disso ambos se foram deixando um papel com o endereço escrito e minha cabeça cheias de dúvidas.

Fui para dentro de casa sentei-me no sofá, senti meu coração disparar, minhas mãos tremiam. Aquele sentimento de ódio voltara, a tempos mascarado e escondido. Os bons dias ao lado do Miguel fizeram me esquecer de que havia ainda sentimentos sombrios em meu coração. Desejo de vingança. Decidi que não iria esperar nenhum segundo a mais, por anos esperei para estar cara a cara com essa pessoa. Ela não morreria antes que me visse.

Tomei um banho, vesti uma roupa formal, depois peguei meu carro e dirige para o hospital, eu sabia qual hospital era esse, pois foi nele que minha mãe e meu sobrinho faleceram. O mundo é mesmo feito de ironias.

Estacionei, fiquei olhando aquele prédio, a dor parecia emanar de suas paredes, suas janelas eram ainda mais ilusórias do que as janelas de uma prisão, os prisioneiros podiam fugir, os ali presos não. Quando adentrei na recepção, meu coração batia tão forte que achei que sairia pela minha boca.

Conversei com a recepcionista, mostrei o pequeno pedaço de papel, ela pediu para que eu me sentasse, não demorou muito o mesmo padre que batera em minha porta minutos atrás apareceu.

— Venha comigo, meu filho. Fico feliz que tenha atendido ao pedido de um moribundo. —

— Não estou aqui por ele. —

— Lembre-se de que o perdão é a mais dura batalha no coração de um homem, mas a mais dolorosa das vitórias. —

— Doloroso é perder alguém que você ama, todo o resto é fácil. — Rebati. Andamos pelos infindáveis corredores, até que finalmente chegamos em um quarto, onde muitas pessoas estavam reunidas ao redor de um leito, homens, mulheres e crianças, todos com o rosto preenchido com uma tristeza profunda.

Amor além das fronteirasWhere stories live. Discover now