Capítulo VIII

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Para mim o restante do dia foi inteiro destinado a achar uma resposta que fizesse o mínimo de sentido sobre as coisas que ele disse na noite passada.

Ele estava estranho, mas nisso era normal, já que ele era estranho. Mas sua estranheza era talvez o seu maior charme. Esse seu ar misterioso, me fazia ficar por horas querendo saber mais sobre ele.

Ele era um homem de poucas palavras, e de menos ainda sorrisos, não sabia nem se ele era capaz de sorrir, pensei em perguntar, mas fiquei com medo de sua reação, ele certamente poderia me estrangular.

Durante todo o dia parece que ele estava querendo manter-se afastado de mim, pois em momento algum ficamos próximos novamente, ele sempre estava fazendo algo, sem falar que ele passou a tarde fora.

Quando chegou a noite já estava caindo, ele entrou pela porta e depois subiu diretamente ao seu quarto, sem nem sequer falar comigo.

— Esse cara é mesmo doido —. Murmurei. Logo em seguida vou até a cozinha para pegar alguma coisa na geladeira. Quando a fechei ele estava lá na cozinha, parado me olhando. Eu tomei um grande susto.

— Você parece uma alma penada —. Digo e ele continua sério.

— Só vim perguntar o que vai querer para o jantar —.

— Qualquer coisa, eu nem estou com tanta fome assim —. Digo em seguida vou subir ao meu quarto para tomar banho.

Quando desço novamente as escadas, ele estava sentado a mesa, com algumas coisas em cima da mesa.

— Eu pedi pizza, se quiser outra coisa é só falar —. Falou.

Me sentei bem a sua frente, ele comia sem vontade, como se estivesse cheio, mas o que me incomodava mesmo era o seu silêncio. E o fato de o tempo todo ele olhar pela janela.

— Está esperando alguém? —. Questionei.

— Quem eu estaria esperando? —.

— Não sei, você fixa olhando a cada 10 segundos para a janela, pensei que estivesse esperando por alguém —.

— Não há ninguém por quem eu espere —. Falou em seguida parou de comer e foi para a sala de estar. Às vezes me dava vontade de sair correndo daquela casa. Ele parecia ter umas quinze personalidades e era incrível como em cada uma delas ele era extremamente evasivo e esguio.

Depois que terminei de comer eu fui lavar a louça que era pouca coisa, ele mais uma vez chegou de surpresa na cozinha quando olhei para trás ele estava lá, de braços cruzados.

— O que foi? —.

— Não precisa lavar a louça, você está em recuperação esqueceu? Tem que repousar —.

— Só estou lavando essa louça nada demais, não quero incomodar mais do que já estou incomodando —.

— Você não está incomodando, por que acha que está? —.

— Não sei, você fica sempre... Esquece —. Digo, lembrando do que eu tinha decidido mais cedo, que não iria deixar me iludir ainda mais.

— Eu o quê? —.

— Nada Michael —.

— Não, com certeza é alguma coisa, você ia falar algo, mas depois desistiu —.

— Não era nada importante —.

— Eu acho que era sim importante —.

— Só estou pensando em algumas coisas, mas nada que envolva você —. Digo mentindo.

— Está com medo? —.

— Por que eu estaria com medo? —.

— Talvez porque não concluiu o que você queria falar, ou talvez porque você não está olhando diretamente nos meus olhos —.

— Só estou pensando se você já está aborrecido com minha estadia aqui, ontem você estava me abraçando, e hoje simples você está mais esguio do que nunca —. Pela primeira vez ele sorriu, mas não foi por felicidade, com certeza estava rindo do fato de eu ser ridículo.

— Não me importo com sua estadia aqui, pode ficar o tempo que precisar —.

— Será mesmo? —. Questiono.

— Por que não? —.

— Por que você parece estar incomodado comigo —.

— Eu não estou incomodado com você —. Fala voltando a ficar sério.

— Está sim —.

— Por que acha isso? —.

— Você sabe o porquê, não precisa nem me perguntar —.

— Não sei do que está falando —. Decido permanecer em silêncio, depois de lavar a louça subo para o meu quarto. Ele fica apenas me olhando ali sentado naquela cadeira.

Me deitei, apaguei as luzes, tudo ficou escuro, a única luz vinha do poste lá de fora. Fiquei pensando na conversa que acabamos de ter lá embaixo. Ele era mesmo um maluco, mas era um maluco muito atraente.

De repente a porta do meu quarto se abre, ele estava lá parado me olhando, ele caminha bem devagar e vem até onde estou e sentasse ao lado da cama. Ele estava olhando para a porta, parecia querer dizer algo, mas não conseguia. Então ele se levantou e já ia saindo quando eu me levante de impulso e o segurei pelo braço e lhe dei um abraço.

— Desculpa eu fui rude com você —. Ele falou.

— Tudo bem, não aconteceu nada —.

— Já está indo dormir? —. Ele perguntou-me.

— Na verdade não —.

— Quer assistir alguma coisa? —.

— Pode ser —. Ele fez um carinho no meu cabelo, foi tão rápido, mas isso mexeu completamente comigo, foi tão incrível.

Fiquei pensando tanto nisso, mesmo depois de ter assistido todo um filme, não consegui parar de pensar nele. De vez em quando eu o olhava, ele estava mais calmo, menos tenso, porém concentrado.

— Você quer sorvete? Tem na geladeira —.

— Quero sim — Ele já ia se levantando para ir pegar, mas eu digo: — Pode deixar eu pego —. Ele sentou-se e eu fui até a cozinha. Abri a geladeira e havia um pote bem grande tirei e coloquei sobre a pia, depois fui tentar alcançar duas taças na parte mais alta do armário, para isso fico na ponta dos pés.

Foi quando ele chegou por trás e alcançou para mim. Fiquei em choque, senti o seu corpo tão perto do meu. Fechei os olhos e senti ele se aproximando ainda mais envolvendo os seus braços no meu corpo. Sinto o seu nariz tocar meu pescoço bem devagar. Seguro seus dois braços bem forte, fazendo com que ele fiquei ainda mais próximo a mim.

Tudo parecia ter parado no tempo, o seu toque me transportou a outra dimensão, em uma realidade paralela em que apenas existia o seu corpo em conexão com o meu. Aquele abraço, aquela proximidade era tudo o que eu queria, era tudo o que eu esperava.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora