Capítulo XI

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Em cima daquele homem eu só conseguia pensar que eu não precisava de nada mais. Como se aqueles belos olhos fossem minha salvação, o meu passe livre para viver minha vida longe de todos os meus problemas.

Ele me beijava de uma maneira tão incrível. Antes eu me sentia um pouco aflito com sua proximidade, mas agora eu sentia que éramos íntimos.

— Eu gosto muito de você — Disse-me entre um beijo e outro. As borboletas em meus estômagos estavam bem agitadas. Como não estariam? Desde o primeiro momento que o vi quis aquele momento, aquele ato de paixão e de desejo.

— Eu também —. Digo beijando o seu rosto. E então pela primeira vez vejo ele sorrir, não como da vez que sorriu quando assistia ao filme, dessa vez foi de verdade, senti que sua alma estava tão leve que poderia flutuar por aí. Seu sorriso era lindo, assim como ele, vê-lo feliz me deixava completamente bobo. Eu aproveitava tudo, o cheiro de sua pele, o seu toque, sobretudo o seu beijo.

Ele ainda me segurando deita-se e eu permaneço sob o seu corpo. Apoio minha cabeça sobre o seu peito, ele faz carinho em meu cabelo e nas minhas costas. Beijo seu pescoço. O silêncio conversava por nós dois, era tudo tão mágico. Como em um sonho bem distante da realidade, uma realidade em que não existia dor, não existiam problemas existia apenas ele e eu.

— Dorme aqui comigo — Falou me apertando ainda mais em seu abraço. Tudo o que eu queria era dormir com ele por mais uma noite, estar com ele me deixa seguro, sei que ele se sente ainda mais seguro quando está comigo.

— Claro — Eu sei como as coisas funcionavam em uma paixão, os mecanismos eram diferentes em cada caso de amor, entretanto possuía algumas similaridades, como um desejo súbito e intenso que não para até que ambos os amantes estejam juntos despidos de qualquer roupa ou de qualquer sentimento de vergonha um do outro. Mas eu sabia que com o Michael eu deveria ser bem mais cuidadoso, afinal ele era como um campo minado, eu deveria saber onde pisar. Eu não queria fazê-lo sofrer, seja qual fosse a causa.

Íamos devagar, sem pressa, apenas desfrutando de prazeres menos intrusivos e carnais. E isso era fantástico, embora eu não negue que eu desejava ao seu corpo, afinal ele era muito atraente. Mas eu jamais forçaria qualquer coisa.

— É a primeira vez que não me sinto vazio em bastante tempo, a primeira vez que sinto algo bom dentro de mim, mas eu senti também medo — Enquanto eu falava, eu sentia o seu tórax vibrar. Me atentei ao que ele falava.

— Por que sentiu medo? —

— Medo de que você não quisesse o que eu queria — Achei aquilo tão fofo, eu não conhecia aquele seu lado sentimental, mas estava disposto a conhecer, a desbravá-lo na verdade.

— Eu quis, desde o primeiro momento —

— Ainda assim eu senti medo. Acho que estou tão acostumado com o fato de que dá errado na minha vida, que às vezes esqueço que eu tenho sentimentos e que eu posso me apaixonar, mas tenho medo de me enganar e que tudo dê errado. Acho que eu não consigo recomeçar —

— Você deve ter sofrido muito nessa vida. Mas as feridas um dia saram, ficam as cicatrizes, mas a dor um dia passa, as lembranças vem e voltam constantemente, mas a dor ficou para trás —

— Eu não estou com dor agora — Entendi o que ele quis dizer, com todas as palavras, além das palavras, além da sintaxe e da semântica. E isso me fez entender que o fazia bem, assim como ele me fazia.

— Quando você estiver pronto para me contar o que lhe ocorreu estarei pronto para ouvir — Passei meus dedos entre os seus fios dourados e macios, depois dei-lhe um beijo em sua testa.

— Houve uma pessoa que amei um dia, que me lembra muito você, mas não quero que pense que gosto de você apenas porque se parecem. Eu gosto de você porque é doce, porque me faz sentir novamente o meu lado humano e isso é tão bom —

— Quem foi essa pessoa? —

— Meu sobrinho. Eu o amava mais do que qualquer outro tio ama o seu sobrinho, quando ele chegou ao mundo o peguei em meus braços e ele sorriu para mim. Isso faz tanto tempo eu era tão jovem ainda e tinha a tudo e a todos. Quando ele cresceu, corria pela casa da minha mãe com seus longos cabelos cacheados que ele puxou de sua mãe, meu irmão não estava mais feliz com o seu filho, era o seu primeiro e seria o seu único. Ele o amava demais, um filho que nascera de uma paixão, não poderia ser mais belo? Meu sobrinho era bom, ele sempre foi um bom garoto, sempre doce e sorrindo, minha mãe cuidava dele eles passavam a tarde toda assistindo desenhos e brincando no jardim. Ele gostava de brincar comigo, saíamos para andar de bicicleta juntos pelo bairro. Quase não me deixou ir embora quando decidi me alistar no exército, ainda me lembro do dia em que estava chorando pedindo que eu não fosse. Mas eu era jovem, eu precisava satisfazer muita coisa que eu pensava que precisava, quando tudo o que eu precisava era estar com minha família. Ele tinha sete anos quando eu fui embora, e foi assim que o vi pela última vez. E em menos de dois anos, enquanto eu escrevia uma carta para minha mãe informando que eu estava bem eu recebi uma ligação da minha mãe. Alguém havia o atropelado, alguém da Klan, ele havia morrido na hora, no mesmo local. Depois que soube da notícia meu irmão ficou desnorteado, o trauma foi tão profundo que ele se matou poucas horas depois. Estava chovendo naquele dia no deserto, algo bem raro de se acontecer. Eu saí caminhado pela chuva e caí no chão e desabei. Parte de mim havia morrido, parte de mim havia apodrecido e parte de mim sangrava sem parar. E quando eu pensei que minhas perdas iriam parar por ai, minha mãe morreu antes mesmo que eu pudesse lhe abraçar depois das tragédias que nos ocorreu. E foi assim Miguel que eu fiquei sozinho nesse mundo, foi assim que me partiram em mil pedaços. Foi assim que me tornei essa pessoa —

Amor além das fronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora