JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
— Ele te ensina o que mandamos ele ensinar. — continuou o homem, firme. — Não confunda sobrevivência com bondade.
Maeve ficou em silêncio por alguns segundos. A inocência infantil ainda reluzia em seus olhos, mas agora havia algo novo ali, um conflito interno que ela não sabia nomear.
— Mas ele me ajudou a aprender o idioma deles... e sempre me tratou bem. — disse, quase num sussurro. — Se todos fossem como ele...
Valentim soltou uma risada seca.
— Se todos fossem como ele, Pandora estaria vazia. — caminhou até uma das telas e fez um gesto, abrindo uma nova gravação. — Quer ver o que os outros "bons" fazem?
O vídeo mostrava um ataque antigo. Arcos, flechas, fogo. Soldados correndo. Maeve se encolheu um pouco na cadeira, mas não desviou os olhos.
— Esses são os mesmos que mataram cientistas, que destruíram nossa base. — disse ele, a voz mais baixa agora, quase hipnótica. — E sua mãe... Grace... — pausou, olhando direto para a filha. — Ela defendeu esses assassinos.
Maeve sentiu o estômago embrulhar.
— Ela... achava que eles eram o lado certo.
— E por isso morreu. — cortou Valentim.
O silêncio que se seguiu pareceu pesar toneladas. O som distante dos equipamentos preencheu o ar entre eles.
Valentim desligou as telas e voltou para perto dela, colocando as mãos sobre os ombros da menina. Seu toque era firme, mas a voz saiu suave, quase paternal.
— Você é muito mais inteligente do que ela, Maeve. Você entende que a compaixão tem limites. Que às vezes, para proteger o que é seu, é preciso eliminar o que ameaça.
Maeve respirou fundo.
— Mesmo se esse "algo" for... um povo inteiro?
Valentim a olhou, surpreso, não pela pergunta, mas pela coragem dela em fazer. Depois, sorriu de leve.
— Às vezes, é o único jeito de garantir a paz.
Ela abaixou o olhar. As palavras ecoaram na mente dela por longos segundos. A paz. Ele sempre falava sobre paz. Mas dentro dela, o que crescia não era paz, era um peso quente, sufocante.
Rai'uk nunca falara com ódio dos humanos. Mesmo preso, ele ainda acreditava em Eywa, na harmonia entre todos os seres. E isso confundia Maeve.
Mas quando olhava para Valentim, quando via o orgulho no rosto dele sempre que ela acertava um disparo, ou quando repetia as palavras dele sem gaguejar, tudo fazia sentido de novo.
Afinal, ele era o único que nunca a abandonou.
— Certo, pai. — disse, com um leve aceno. — Eu entendo.
Valentim sorriu satisfeito e passou a mão pelo cabelo da filha, como quem sela uma promessa silenciosa.
— É por isso que você é especial, princesa. Um dia, Pandora será sua.
Maeve apenas assentiu, sem perceber o quanto aquela frase a marcaria.
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