JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
O Tenente Mora distribuiu fichas com códigos e frequências. O cientista de jaleco entregou um laudo com os procedimentos médicos.
Maeve pegou a ficha, colocou no bolso e levantou-se.
— Obrigada — disse ela, e não era apenas formalidade. — Eu não vou decepcionar.
Valentim acenou, satisfeito. Liz, por trás do sorriso composto, deixou cair uma lágrima que ela limpou com a ponta da manga antes que alguém pudesse ver.
Quando todos começaram a se dispersar, o major fez a última observação:
— Se alguém na equipe tiver reservas morais, fale agora. A operação exige total execução.
Ninguém falou. A verdade era clara: já tinham falado. Todos ali tinham escolhido um lado.
Enquanto os passos ecoavam no corredor de metal e a sala esvaziava, Rai'uk ficou por mais alguns segundos, os olhos firmes sobre Maeve.
— Lembre-se — murmurou ele, quase inaudível — O seu povo não é apenas aquele que te criou. É também aquele que te aceita. Vá com olhos atentos e coração firme.
Maeve assentiu. Por baixo da jaqueta, o bolso onde guardara a ficha tremia ligeiramente com a sua mão. Ela amava Valentim e Liz; sabia disso com a clareza de uma coisa funda e não negociável. Mas também carregava uma fagulha de algo que não cabia em rótulos, uma conexão com a floresta, com Rai'uk, com Pandora.
A porta se fechou atrás dela; por fora, o mundo inteiro já esperava.
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FALTAVA APENAS ALGUMAS HORAS.
A sala de exibição estava escura, e a única luz vinha da tela flutuante, projetando o rosto de Grace em alta definição. Maeve sentou-se imóvel, as mãos cerradas no colo. Não era só ansiedade que fervilhava ali; era um ódio concentrado, que ela vinha alimentando desde a infância.
O vídeo já fora visto centenas de vezes, mas naquela noite cada palavra cortava como navalha. Grace, em 2152, falava com a voz cansada:
"...A irmã de Neytiri morreu, briguei com Parker e Valentim, mas sei que a culpa não é totalmente deles. Os nativos atacaram... e agora, eu perdi a confiança deles... Eu também estou grávida, que notícia maravilhosa." Grace ergueu os cantos da boca com uma ironia, tragou o cigarro e não tentou disfarçar a exaustão.
Maeve sentiu o ar faltar por um segundo. O som do vídeo era distante, como se viesse debaixo de água. Em sua cabeça reinava outra voz, a dela, que repetia:
— Eu vou destruir tudo que pode ter sido importante pra você um dia, mamãe.
A frase saiu como veneno. A tela parecia pequena diante daquele ódio que crescia. O trecho seguinte do vídeo só alimentou mais a chama:
"Não sei como me sinto exatamente em relação a isso... apenas sei que esse bebê não é bem-vindo. Espero que morra; se não morrer, não vai ficar comigo."