Maeve cruzou os braços, mordendo o lábio.
— Então eu vou me preparar mentalmente. Rai'uk vai ficar ao lado quando eu acordar — ela disse.
Rai'uk inclinou a cabeça, mas não disse nada.
O Tenente Mora interveio:
— O chip no Rai'uk tem dois modos: localizador e emissor. Quando inserirmos você perto do clã, o chip emitirá um sinal de baixa intensidade que apenas os nossos receptores reconhecem, não é detectável pelo pessoal do clã. Rai'uk vai te deixar desacordada. Se ele traí-lo, a autodestruição do chip é automática.
Valentim assentiu curtamente.
— Tudo isso já está calibrado. Mas agora quero cobrir eventualidades. Se um adulto questionar demais, o que você faz? — perguntou, virando-se para Maeve.
Ela respirou fundo, como quem toma posse do próprio medo.
— Mostro ferimentos, choro, ajoelho se preciso. Mas nunca me afasto do roteiro que combinamos. Se um adulto for violento, procuro uma criança — eles têm menos desconfiança — e ganho a confiança dela primeiro. Crianças observam, cuidam uma das outras, e a opinião das crianças influencia os pais no dia a dia.
Um dos soldados riu, admirado.
— Inteligente. Isso ajuda no recrutamento de pequenos aliados.
A Liz permaneceu calada, as mãos sempre juntas no colo, como se as dedos se entrelaçassem para conter a ansiedade. Cada vez que Valentim batia a mão na mesa e o fazia de quando em vez para enfatizar um ponto, ela encolhia, as sobrancelhas se unindo num traço de medo.
Valentim apontou para a lista de contingências.
— E se eles identificarem discrepâncias? — perguntou o major Sanchez. — Se tiverem câmeras ou vigias próximos? Se alguém reconhecer sinais humanos?
— Temos uma equipe de cobertura — respondeu o Tenente Mora. — Dois pontos de observação, com drones camuflados e bloqueadores de RF. Se a situação escalar, entra a Unidade de Retirada: quatro homens em rota rápida pelo leito seco do rio. Eles têm ordens de não intervir a menos que haja risco de exposição da operação. Se precisarmos reduzir danos, extraímos você e apagamos os rastros.
Maeve franziu as sobrancelhas.
— E se tiver crianças que desconfiem de mim por eu falar diferente, por eu ter gestos humanos? — perguntou. — Como eu finjo ser nascida entre eles?
Rai'uk falou, a voz baixa.
— Não fale demais. Use gestos. Não toque em suas coisas sem pedir. Evite olhar fixo. Observe, repita e mostre respeito. As crianças vão testar. Se chorar com elas, elas aceitarão; se desafiar, desconfiarão.
— E pelo amor de tudo — interrompeu Valentim, com um tom mais áspero do que o necessário —, não fale de Eywa como se fosse reverência. Conhecimento superficial ofende. Se você não souber pronunciar algo corretamente, cale-se.
Maeve retrucou com sangue nos olhos, mas com suavidade:
— Eu sei o que fazer. Aprendi com Rai'uk. Sei quando falar e quando calar. Entre eles, eu observo.
O major Sanchez cruzou os braços, avaliando.
— Tempo de operação? — perguntou. — Quanto tempo você tem lá antes de precisar se comunicar?
— A princípio, quinze dias de convivência ativa — respondeu Valentim. — Três dias para estabelecer presença, dez dias para inserir-se na dinâmica das crianças. Isso é só pra ter certeza que não vão te matar, a missão total durará no mínimo meses, pode ser que se estenda pra um ano, no máximo dois. Se não tivermos resultados, consideramos a extração.
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PUPPET GAME ' NETEYAM SULLY
FanfictionJOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras. Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança. Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial. Criada entre cientista...
001. THE FIRST TEST. THE FIRST PLAN
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