JOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras.
Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança.
Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial.
Criada entre cientista...
Ela sabia que ainda amava o pai. Que obedeceria, mesmo contrariada.
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A SALA DE REUNIÃO cheirava a metal e café frio. As luzes brancas ressaltavam o brilho das telas e o ar condicionado zumbia baixo.
Além de Valentim, Liz e Maeve, cinco soldados em uniformes escuros ocupavam as cadeiras mais próximas da mesa e dois cientistas completavam o círculo. Mapas, fotos e esquemas técnicos estavam espalhados sobre a mesa, presos por pesos de metal.
Valentim andava de um lado para o outro, as mãos atrás das costas. Parou diante da tela principal e puxou os olhares.
— Hora da última revisão — disse seco. — Maeve, você quer começar?
Ela assentiu.
— Quando eu acordar — respondeu ela, firme — vou procurar alguém do clã. Se tiver sorte, eles me acharão primeiro.
Um dos soldados, Tenente Mora, juntou as mãos no colo e começou a marcar pontos no mapa com a caneta.
— Vamos repetir o ingresso. Você sai da cápsula caída em duas trilhas possíveis: Ponto Alfa, perto da Garganta do Sul; ou Ponto Beta, adiante do curso do rio. O que prefere? — ele perguntou, olhando para Maeve.
Maeve olhou diretamente para o mapa, então para Rai'uk, que estava no canto, em pé, com a expressão imóvel, e escolheu.
— Ponto Alfa. É mais perto do deslocamento das crianças do clã e tem opções de cobertura. — ela respondeu. — Se for preciso, eu consigo me esconder entre as raízes das árvores flutuantes até alguém aparecer.
Valentim sorriu de leve, satisfeito.
— Certo. E o discurso?
Maeve bateu os dedos sobre a mesa, recitando com a precisão de quem já ensaiara mil vezes.
— Vou dizer que não lembro de nada, que fui atacada e desmaiada. Vou afirmar que minha "mãe" — Liz, no discurso — morreu e meu pai me mantéu escondida até que ele acabou morrendo por uma doença e eu fui atacada por um Palulukan. A narrativa inclui cicatrizes e marcas falsas que comprovem o ataque. Não vou entregar detalhes que não me peçam. — Ela fez uma pausa, olhando cada rosto. — Se questionarem sobre meus pais, repito: meu pai cuidou de mim. Não marco datas, não dou nomes de pesquisadores.
O cientista de jaleco pigarreou e explicou a parte técnica, apontando para os esquemas.
— As lesões serão simuladas por inflamações locais e um campo neurológico breve que reduz sensibilidades — disse ele. — O processo dura cerca de trinta minutos: anestesia, sequências de microlesões superficiais. O médico vai provocar cortes controlados. As fotografias serão coerentes com um ataque por garras, nada que indique tecnologia humana.
— E sobre a sincronização? — a voz do outro cientista soou mais preocupada. — A janela de sincronização do avatar exige estabilidade emocional. Se a paciente estiver extremamente estressada, a taxa de rejeição sobe.