Deitou-se na câmara, e segundos depois abriu os olhos no corpo azul.
A respiração era mais leve, o ar de Pandora entrava como um soco de liberdade.
O chão úmido, o som dos insetos, o vento movendo as folha, tudo parecia mais real do que o laboratório frio e estéril.
Maeve correu.
Sem destino, sem controle.
Pisava forte, rasgando o chão de musgo com os pés. Quando parou, já estava na clareira de treino. Pegou o arco e começou a disparar.
Cada flecha cortava o ar com a força de um grito preso.
Uma, duas, três, a raiva ia se transformando em precisão.
Ela mirava nas árvores, nos alvos de madeira, e imaginava o rosto do pai em cada um deles.
— "Você vai, queira ou não"... — ela repetiu, entre os dentes cerrados. — Filho da puta...
Puxou o arco com tanta força que a corda roçou na pele, abrindo um pequeno corte. Mas ela nem sentiu.
Continuou atirando, até os braços tremerem.
— Você luta contra o vento. — a voz de Rai'uk ecoou atrás dela, calma, profunda.
Maeve abaixou o arco devagar, sem olhar pra ele.
— É o único inimigo que eu posso bater sem ser punida.
Rai'uk se aproximou. A luz azulada refletia nos traços marcantes dele, a expressão tranquila de quem via tudo, mas julgava pouco.
— Você está com raiva. — ele afirmou, não perguntou.
— Estou viva. É o suficiente. — Maeve rebateu, limpando o suor do rosto. — E antes que você pergunte, não, eu não quero falar sobre isso.
Rai'uk inclinou a cabeça, curioso.
— O homem de olhos frios... seu pai... ele a feriu?
Maeve riu, amarga.
— Ele não precisa me ferir. Ele só... me molda, entende? Como se eu fosse uma arma que ele pode apontar quando quiser.
O Na'vi se aproximou até ficar de frente pra ela.
— Uma arma não escolhe quem atinge. Mas você... você tem escolha, Maeve.
Ela o encarou, irritada.
— Não tenho. Ele decidiu por mim. Quer que eu me infiltre nos Omatikaya agora. Agora. — repetiu, sarcástica, com um riso incrédulo. — Como se eu fosse um robô programado pra obedecer.
Rai'uk cruzou os braços, estudando-a.
— Você tem medo.
Maeve virou o rosto.
— Tenho raiva.
— Raiva é medo que aprendeu a gritar. — ele respondeu, com a serenidade de quem sabia que ela odiaria ouvir isso.
Ela bufou, chutando uma pedra.
— Vocês Na'vi e essa mania de falar por enigmas...
— É assim que ouvimos o que o coração tenta esconder. — Rai'uk deu um passo à frente. — Você luta contra o seu próprio sangue. Parte de você é dele... e isso a envenena.
Maeve ficou em silêncio por um instante.
Depois soltou um suspiro trêmulo.
— Parte de mim é da Grace também. — disse, baixinho. — Mas ela me deixou. Todos me deixaram.
O Na'vi observou.
— Você carrega o peso de dois mundos. Um que a criou e outro que a teme. Nenhum dos dois entende o que você é.
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PUPPET GAME ' NETEYAM SULLY
FanfictionJOGO DE MARIONETES | O egoísmo dos homens revela suas sombras mais obscuras. Valentim nunca enxergou Maeve como uma criança. Desde o momento em que a sequestrou ainda bebê, ela foi apenas um experimento. Uma arma em potencial. Criada entre cientista...
001. THE FIRST TEST. THE FIRST PLAN
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