capítulo 20 - Rachel

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- Agora conta! - Falei assim que fechei a porta

- Qual é o sobrenome da Mag?

  Minha paciência com ele estava se esgotando, respirei fundo e respondi:

- Mag Victoria Marley

- Marley?

- Sim

- Ela mora com os pais? - Essa foi a gota d'água

- Mais que droga de interrogatório é esse?

- Responde! - Gritou Chal

  Pelo canto do olho vi que Miller estava na sala, ele assistia a cena bem atento

- Sim, ela mora com os pais - Respondi no mesmo tom

  Ele ficou quieto, não consegui decifrar sua expressão

- Você pode pelo amor de Deus me explicar o porque disso? - Perguntei impaciente

- Quando eu era pequeno, tinha uns dez anos, eu morava por esses lados e os soldados me arrancaram dos meus pais e da minha irmãzinha, eu nunca mais os vi.

- E o que isso tem a ver com a Mag?

- Ela... ela parece a minha mãe e tem o
mesmo nome que minha irmãzinha

  De repente me lembrei de uma foto na casa dos Marley, um garotinho de cabelos cacheados e lindos olhos azuis, a Sra. Marley comentou que o garotinho era filho dela e que era idêntico ao pai, mas eu nunca o vi.

- Qual é o seu sobrenome?

- Marley, Chalmet Marley

- Você é o garotinho da foto... - Falei como se agora tudo fizesse sentido

- Eles ainda lembram de mim? - Perguntou Chal com uma carinha de cachorro abandonado

- Claro! Claro Chal, até hoje tem uma foto sua em cima da mesa de estar

- Você... você poderia me levar até lá?

- Claro! - Respirei aliviada e um pouco culpada por ter pensado tanta besteira- Chal por que você não me contou antes? Eu poderia ter te ajudo a encontrar sua família

- Eu não costumo falar muito desse tipo de coisa...

- Dessa história nem eu sabia - Disse Miller se aproximando

- É garoto, você não sabe de tudo - Comentou Chal

  O clima ficou pesado e constrangedor, atormentado pelo passado sombrio de cada um, afinal todos nós trazemos alguma bagagem do passado, pode ser boa ou não.

- Acho bom a gente voltar lá para fora, devem estar precisa de ajuda - Disse Mille quebrando o silêncio

- Claro - Respondi indo em direção a porta, Miller está logo atrás de mim

- Miller, posso falar com você? - Perguntou Chal

- Sim - Miller voltou para o meio da sala

- Vou nessa - Falei saindo da sala e indo direto ajudar a Alice.

★★ Miller ★★

- Pode falar - Falei assim que Rachel saiu

- Você gosta dela? - Perguntou Chal com um sorriso malicioso no rosto

- Dela quem? - Perguntei me fazendo de sonso

- Da Rachel - Respondeu Chal com cara de óbvio

- Claro que não, de onde você tirou isso?

- Não mente pra mim, garoto

- Não estou mentindo

  Tentei mais uma vez me convencer disso, me convencer de que eu não ficava louco quando ela jogava aquele cabelo dela e seu cheiro de sabonete e lavandas se espalhava pelo ambiente, me convencer que meu coração não disparava quando ela chegava perto, me convencer de que eu não pensava nela literalmente vinte quatro horas por dia.

  Eu a conhecia a pouco tempo, mas ela conseguiu me abalar no dia que colocou uma espada no meu pescoço. Ela me enlouquece com sua postura de marrenta e seu jeito de tratar todos como família.

- Ok, eu estou mentindo - Confessei, eu não ia conseguir esconder isso dele

- Sabia - Disse ele rindo - Por que você não investe?

- Não posso

- Por que?

- Estamos no meio de uma revolução, meu tio é louco, tenho medo do que ele pode fazer e se algo... - Cerrei os punhos tentando afastar meus pensamentos negativos e meus pesadelos

- Olha garoto, seja lá o que você acha que vai acontecer, pode acontecer com você assumindo esse sentimento por ela ou não. Dois momentos felizes não valem mais que um triste? Não seria melhor amar e perder do que nunca ter amado?
" Essa vida é muito curta garoto, precisamos aproveitar cada momento, cada sentimento. Estou falando isso por experiência própria"
Chal poderia ter razão, mas meu cérebro não ajudava, ele insistia em pensar negativo. Já faz uns quatro dias que ando tendo os mesmos pesadelos.

- Agora vamos, ela deve estar precisando da sua ajuda - Disse Chal dando um tapinha no meu ombro antes de sair.

★★★★★★

  Parei perto de uma árvore e fiquei observando os movimentos das pessoas. Estar ali me ensinou que não é preciso muito para ser feliz, aquelas pessoas por exemplo, não tinham muito, mas conseguiam ser felizes com o pouco que tinham. Claro que eles procuravam coisa melhor, o que é normal, mas eles valorizam o que tem.

  Uma gritaria seguida de uma correria tirou-me dos meus pensamentos. Crianças passavam por mim, correndo e gritando por suas mães. Agucei os ouvidos e pude ouvir o trotar de cavalos. Já imaginando o que era, corri na direção onde Rachel estava antes.

  Avistei-a no meio da multidão. Ela olhava para os lados, procurando alguém. Nossos olhos se encontraram, e consegui perceber o medo neles.

  Quando cheguei até ela, Rachel agarrou minha mão e começou a puxar-me para longe da multidão.

- Só corre! - Ordenou ela

  Ela me puxou para dentro da escola, mesmo sem entender o que estávamos fazendo ali, não perguntei nada.

  Rachel tateou a parede até achar um tijolo solto, empurrou-o, e então a parede se transformou em uma grande escadaria. Eu a segui até o final dos degraus, onde se tinha um cômodo com uma cozinha improvisada, banheiro e quarto.

- Não sai daqui por nada! - Disse ela antes de disparar de volta para a escola.

Amor e Espadas Where stories live. Discover now