capítulo 15 - Miller

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O navio da Rachel é bonito, preto por fora e madeira envernizada por dentro.
Saímos da cidade onde estávamos com cinco passageiros. Eu estava em pé ao lado da Rachel, observando ela conduzir aquele navio, ela parecia tão concentrada.

Ela tamborilava o dedo no timão, fazendo um barulho de metal, só então reparei que ela tinha uns quatro anéis, um em cada dedo

- Você gosta de anéis

Ela me olhou como se estivesse se esquecido que eu estava ali, seus olhos se voltaram para os anéis e depois voltou a se concentrar no trajeto

- São as únicas jóias que uso

Aqueles anéis são bem simples perto dos que minha mãe costuma usar. Um é só uma argolinha dourada, parecido com anel de compromisso; o outro é uma argolinha prata com glitter; o terceiro é aqueles anéis de coco, preto igual ao navio; o último é dourado e tem o formato de um x na frente.

- Você é comprometida? - Perguntei, ela me olhou sem entender. Rapidamente apontei seu dedinho mindinho usando o meu mindinho, não quero que ela pense que estou interessado nela, até porquê eu não estou

- Ah, não, não sou comprometida. Essa aliança era da minha mãe.

- E os outros?

- O prata eu ganhei do dono dessa correntinha dourada que você está usando. O preto eu comprei para comemorar que eu tinha conseguido algo que eu queria, meu navio. E o outro eu ganhei do Robert. Satisfeito, vossa curiosidade real?

- Sim - Respondi rindo um pouco, mas me lembrei de que tinha mais uma pergunta - Quem é o dono da correntinha dourada?

Ela me olhou de soslaio e fechou a cara

- Já te falaram que você faz muitas perguntas?

- Desculpa, não quis ser invasivo

Os passageiros desembarcaram e novos entraram, entre eles, estava uma senhorinha, ela puxava com dificuldade uma carriola cheia de sacos pretos. Corri até a senhora e peguei o carrinho da sua mão

- Eu levo, senhora

- Obrigada meu filho - Disse ela dando dois tapinhas no meu ombro e indo para dentro do barco

Puxei a carriola que estava muito pesada, como essa senhorinha consegue?

- Já perdeu as gordurinhas de hoje - Disse a Rachel quando eu voltei para perto dela depois de estacionar a carriola, ela tinha um sorriso travesso no rosto

- Aquele negócio é muito pesado! Como aquela senhorinha aguenta? - Usei as costas da mão para enxugar o suor que escorria na testa

- O povo aqui está acostumado a fazer isso desde criança, ninguém tem essas mãozinhas de bebê que você tem - Disse ela sorrindo, ignorei seu comentário.

Tirei a jaqueta, o sol tinha esquentado e estava muito quente, culpa desse clima louco, de dia faz o maior sol e de madrugada neva.

Eu estava cansado de ficar parado, então resolvi andar pelo navio perguntando se estavam todos bem e também procurar saber o que aquela parte do meu povo fazia.

- Oi, meu filho - Disse a senhorinha da carriola quando me aproximei

- Tudo bem com a senhora? - Perguntei

- A medida do possível

- Desculpe-me a intromissão, mas a senhora trabalha com o que?

- Eu recolho objetos e pedaços de móveis que as pessoas jogam fora e vendo. As coisas que eu acho em ótimo estado eu doo, os metidinhos dos regentes costumam jogar coisas novas no lixo - Disse a senhorinha um pouco irritada

Eu nem sabia que alguém poderia trabalhar com isso, para mim isso era coisa de lixeiro.

Duas outras pessoas falaram que trabalham em comércio, uma falou que trabalha na mina de outra cidade, três falaram que são faxineiros e um falou que é gari.

Era umas cinco horas da tarde quando a última leva de passageiros desembarcaram, estávamos em Panteliph, eu estava a uma distância muito curta de casa

- Coloca isso - Disse Rachel jogando um boné e um óculos para mim

Obedeci ela

- Se te reconhecerem já era!

- Então por que viemos aqui?

- A comida aqui é mais em conta. Esse é um dos motivos para essa ser a cidade mais povoada do reino inteiro

- Entendi

Rachel me arrastou por muitas quitandas e alguns mercadinhos l, ela não comprou muita coisa, mas voltou para casa sem um real no bolso.

- Você sempre vem aqui comprar comida?- Perguntei quando já estávamos no navio

- Sim

- Você vai dar essa comida para pessoas como aquele menininho de ontem?

- Também. Na verdade, para que a comida de para a maioria, vou fazer uma sopa. Faço isso uma vez por mês.

Minha barriga roncou ao ouvir a palavra sopa, eu estava morrendo de fome, e de noite uma sopinha cairia muito bem.

Amor e Espadas Where stories live. Discover now