Capítulo 1 - Miller

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  Em frente ao espelho, finalizo o nó da minha gravata e, me coloco a caminho da sala de reuniões. A pauta da reunião de hoje é "A falta de eletricidade nos vilarejos mais distantes do castelo".
O engraçado, é que até segunda de madrugada - a última vez que sai deste castelo -, os vilarejos estavam completamente iluminados. Aí de um dia para o outro, está faltando eletricidade? Aposto que isso é só mais uma desculpa para desviar dinheiro dos cofres públicos.

  Meu tio provavelmente cortou a luz desses vilarejos. Agora ele vai alegar que precisamos de outra usina hidrelétrica, então vai escolher um dos vilarejos mais pobres para montar sua usina, assim mais de oitenta pessoas vão ter que se mudar para a capital onde tudo é mais caro.

  Queria poder fazer algo para ajudar essa gente, para ajudar meu povo. Mas estou de mãos atadas, não posso fazer nada enquanto meu tio não me passar sua coroa - o que ele não pretende fazer tão cedo.

Cumprimento os criados pelos quais passei durante meu trajeto até a sala de reunião, passo em frente a cozinha e o cheirinho de bolo faz minha barriga roncar.

- É bolo do que, dona Marta ? - Pergunto entrando na cozinha e dando um beijo na bochecha da baixinha mais fofa do palácio

- O seu preferido, bolo de aipim - Respondeu nossa cozinheira sorridente

- Hummm, parece bom ... mas não vai ter aumento de salário - Brinquei com ela

- Vish dona Marta, o patrão descobriu nosso plano - Falou Eziel do outro lado da cozinha. Eziel é o nosso cozinheiro

- E esse doce, é do que ? - Perguntei enfiando o dedo na panela que ela mexia

- Para de ser lombriguento garoto ! - Falou ela dando um tapa na minha mão , fingindo estar brava - Vai, rapa fora daqui - Ela bateu o guardanapo na perna me expulsando, nós rimos e eu saí correndo voltando para o meu caminho

Entrei na sala e me esborrachei na minha cadeira

- Tudo bem, garoto ? - Falou uma voz que parecia vir do além, dei um pulo pra trás quando Chal apareceu no fundo da sala - Calma, não sou assombração
Ele veio até mim ,me levantei e dei um abraço nele

- Tava parecendo - Falei rindo - Você não estava na guerra ?

- Acabei de voltar

- Aah, entendi

Chal é meu grande amigo, ele trabalha no palácio desde que eu tinha dez anos, mas então ele foi mandado para a guerra. Ele é o mais próximo de um amigo que eu tenho.

- Como anda a vida? - Perguntou Chal se sentando ao meu lado

- Normal - Falei dando de ombros

- Eo coração ? - No rosto dele brotou um sorriso malicioso

- Tá batendo, graças a Deus - Digo tentando me livrar do assunto
Vozes e passos ecoam atrás da porta, Chal se põem de pé em um instante e volta para seu posto ao lado da porta dos fundos.

Meu tio e seus seis regentes entram na sala rindo, cada um toma o seu lugar na grande mesa. Endireito minha postura.
Meu tio se senta no trono que tem em uma das pontas da mesa retangular, eu estou sentado na outra ponta. Sentado à minha direita, tem o senhor Malec (regente do setor alimentício). À minha esquerda, está sentado o senhor Flocks (regente do setor elétrico ). O braço direito do meu tio, Senhor Martini (regente do exército), está sentado à sua direita. Na esquerda do rei, está sentado o senhor Song (regente do setor financeiro). Entre Malec e Martini, está sentado o senhor Clark (regente do setor da saúde). E, entre Flocks e Song, está sentado o senhor Filt (regente do setor da educação).
Quando a seção risada acaba, eles parecem finalmente me notarem.

- Meu querido sobrinho,você está aí - Afirma meu tio tamborilando os dedos na mesa

- Pois é - Digo erguendo as sobrancelhas e reviro os olhos

- Meu príncipe, estávamos comentando de que já está na hora de você se casar - Diz Filt

- Que novidade, alguém comentando sobre a minha vida - Murmurei, tenho quase certeza de que ninguém escutou

- Então sobrinho , o que acha da ideia?- Pergunta o rei

- Não tenho uma pretendente - minto , a verdade é que tenho mais pretendentes do que cueca. Ok, estou exagerando, mas todas as filhas de todas as pessoas na alta classe sonham em casar com o príncipe. Sem contar as princesas de outros reinos, que como diz meu tio "poderiam render uma bela aliança".

- Minha filha é sua pretendente , Alteza - Diz Song

- A minha também - Clark e Malec dizem em coro

- Senhor Malec , a sua filha não tem quatorze anos ? - Pergunto

- Idade suficiente para casar - Réplica o rei de imediato

Os sete homens ficaram me encarando como se quisessem que eu decidisse nesse exato momento com quem iria me casar.

- Eu ... - Tento parecer calmo e decidido, mas embaixo da mesa minha perna chacoalha para cima e para baixo em um tic nervoso - Eu vou preparar um baile. Nesse baile, irei escolher minha esposa. Os convites chegaram em breve

  O sorriso dos representantes vão de orelha a orelha, todos ansiosos para me apresentarem suas filhas - apesar de eu já conhecê-las -. Fico imaginando um deles ostentando seus status "Eu sou representante do setor tal, e minha filha é a rainha".

- Podemos começar a reunião ? - Pergunta meu tio, todos nós assentimos.

★★★★★★

  Faz uns dez minutos que estamos aqui discutindo se fazemos ou não outra usina hidrelétrica - o que eu acho que não deveríamos fazer, mas sou o único que acha isso -, até que os alarmes soam, interrompendo nossa reunião. Os regentes entram em pânico, se levantam e começam a tatear as paredes à procura de uma passagem secreta para o abrigo. Mantenho uma máscara de calmaria, mas por dentro estou fervilhando de preocupação e medo. Meu tio continua sentado em seu trono, parece estar entediado.

  Os quatro guardas que estavam dentro da sala começam a sair, Chal segura a porta para que eles corram rumo a confusão.

  Gritos e tiros ecoam pelos corredores e chegam aos nossos ouvidos, isso só trás mais pânico.

- Chal! - Grito em meio a gritaria - Você fica - O soldado me olha esperando as próximas ordens - Leve meu tio e os outros para o abrigo

  Meu leal soldado assente e fecha a porta com força, então tateia uma das paredes até achar um tijolo solto, ele empurra o tijolo e uma passagem secreta se abre. Os regentes correm para dentro da passagem, o rei é o último a entrar. Com apenas um olhar, Chal me chama para ir junto, nego com a cabeça, o soldado relutante entra na passagem e a tranca.

  Olho em volta à procura de uma arma, encontro perto da porta dos empregados um pequeno tambor cheio de espadas, pego uma espada e vou rumo ao ataque rebelde.

Amor e Espadas Where stories live. Discover now