capítulo 8 - Rachel

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- Onde você estava? - Pergunto a Robert logo que ele entra em casa

- Estava esfriando a cabeça - Responde ele.

Achei que Robert estava diferente, ele não estava com um aspecto alegre e brincalhão como sempre, ele parecia preocupado

- Ok. Agora vamos, já está todo mundo no barco, já estamos atrasados

- Certo

Puxo Robert pelo meio da escuridão, a única iluminação que temos é a lua e alguns poucos lampiões distribuídos pelas ruas.

  Eu não precisava de nenhuma luz para chegar até o cais, sei aquele caminho de cor. Desde de pequena venho aqui, lembro de sentar na terra perto do cais e ficar olhando as pessoas carregarem aqueles barcos gigantes. Quando fiz dezesseis anos, a primeira coisa que fiz foi aprender a navegar e juntar dinheiro até conseguir comprar um navio.

- Finalmente - reclamou Alice quando nos viu

- Qual parte do "o príncipe sai às dez" vocês não entenderam? - Pergunta Chal estressado

- Estamos aqui, não estamos? - Respondo com outra pergunta, Chal revira os olhos

  Assumo meu lugar atrás do timão

- Podemos ir? - Pergunto a ninguém em
particular

- Bora - Responde Alice terminando de puxar a âncora, dou um sorriso para ela e para meus companheiros

- Espera! - Grita Robert, ele está saindo de dentro da nossa pequena despensa, meu amigo corre até mim e coloca um chapéu de pirata em minha cabeça - Agora estamos prontos

Todo mundo ri. Viro o timão fazendo o navio ir na direção que eu quero.

  Lembro da primeira vez que andei de navio, meu irmão tinha arrumado um dinheiro - não sei como - e falou que ia me levar na cidade de Panteliph para escolher alguma coisa. Ele aproveitou que um conhecido dele iria com o barco para lá e conseguiu duas passagens de graça. Foi nesse dia que eu decidi que quando crescesse, iria aprender a navegar, eu fiquei impressionada com a agilidade que o barco respondia aos comandos do seu capitão.

  Esse é o motivo para eu gostar tanto de navegar, o barco obedece seu capitão. Eu sinto que estou no controle, que a partir do momento que eu pegar no timão eu posso fazer com que o navio me obedeça, posso fazer com que todo mundo vá para onde eu os levar. Quando estou em um navio, sinto que eu tomo as decisões e que não estou sozinha.

  Bom, no momento eu realmente não estou sozinha, estou com meus amigos. Para esse plano infalível, veio o Robert, a Alice, a Mag e o Chal. Decidimos ir só em cinco, afinal, não é possível que cinco pessoas não consigam capturar um príncipe mimado desacompanhado.

Depois de uma hora, finalmente chegamos à cidade onde fica o castelo, cidade de Panteliph. Paramos o navio no porto da cidade e seguimos apé.

- Chal, você guia - ordeno

- Você é a líder, é você quem deveria guiar - retruca Chal descendo do barco

- Mas eu não conheço essa cidade tão bem quanto você - Argumento

Chal bufa e começa a andar, todos nós o seguimos.

- Jesus amado, essa taberna que o príncipe vai fica do outro lado do mundo? - Pergunta Robert, faz uns vinte minutos que estamos andando.

Já entramos na parte civilizada da cidade. As luzes dos postes estão acesas, a calçada é lisinha - diferente das de onde eu moro que são cheias de buracos -. As casas são de tijolinhos, uma colada na outra, a rua parece um arco-íris.

  Quase não tem pessoas transitando pelas ruas, é só alguns homens voltando do trabalho ou saindo das tabernas bêbados.

  As pessoas aqui na cidade de Panteliph não são arrastadas para a guerra nem para as minas, aqui as pessoas trabalham em suas próprias lojas, vendem seus próprios produtos e têm dinheiro suficiente para pagar funcionários.

- Calma Robert, já devemos estar chegando - Diz Alice

- Não - Resmunga Chal

- Não o que? - Pergunto

- Não, não estamos chegando - Responde
Chal

  Mas dez minutos se passaram, já passamos pela casa dos representantes. Robert aproveitou para tacar umas pedrinhas nas janelas de vidro, o garoto havia levado as pedras no bolso para esta ocasião. As casas dos representantes ficavam três ruas para baixo do castelo, nessa rua só tem casa de gente rica. Lindas casas com a frente de pedras, sacadas, gerador e quintais gigantescos.

- É ali - Diz Chal parando, ele aponta para uma taberna de onde vem uma música alta. A taberna fica na esquina de baixo da chamada Rua da nobreza.
Mag mexe as mãos em seu sinal de libras, "Finalmente" foi o que ela disse

- Esse príncipe deve gostar de uma festa - Diz Robert

- Cada um tem seus gostos. Robert gosta de olhos, Chal gosta de seguir as pessoas, e o príncipe gosta de festas - Comentei dando um tapinha nas costas de Chal quando passo por ele.

  Caminho em direção a taberna, meus amigos me seguem. Todos nós estamos sem nossas bandanas, pois o príncipe já as viu no castelo.

  Eu, Mag, Alice e Robert ficamos escondidos em um beco ao lado da taberna, onde certamente o príncipe passaria. Chal se posicionou em frente a porta da taberna, era ele quem ia nos avisar hora que o príncipe saísse.

  Alice e Robert trocavam carícias encostados no muro, Mag olhou para mim e colocou a língua para fora, como se estivesse vomitando, dei risada, mas não quis interromper o momento do casal. Decidi então bater um papo com Mag.

- Já beijou, Mag? - Pergunto. Mag faz a
leitura labial rapidamente e cora

  A adolescente assente com a cabeça, toda envergonhada

- Quem ? - Pergunto

- Miguel - responde ela usando o sinal das libras

- Tá podendo em - brinco com ela
Mag é linda, tem a pele morena, os cabelos pretos como carvão e olhos azuis que destacam em seu rosto. Quando sorri, as maçãs do seu delicado rosto ficam bem para cima por serem bem gordinhas.

  Ela é como uma irmã pra mim, minha irmã mais nova. A conheci logo que ela perdeu a audição em um acidente, ela tinha só quatro aninhos, desde então ela aprendeu a fazer leitura labial e a linguagem das libras.

  Um assobio ao longe me chama a atenção, demorou uns dois segundos para eu me lembrar de que esse era o assobio que eu e Chal tínhamos combinado para quando o príncipe saísse.

- Ele está vindo - informo aos outros
Vou para a frente do beco, pela luz na entrada eu consigo ver que o príncipe não está parecendo um príncipe. Ele está cambaleando, sua calça jeans está rasgada, as botas estão gastas, as mangas da camisa que um dia fora branca estão dobradas até os cotovelos e seu cabelo está bagunçado.

  O puxo para dentro do beco, ele me olha nos olhos, dá um sorriso malicioso que logo se transforma em uma careta, os outros acontecimentos são rápidos. O príncipe se inclina para baixo e vomita em minhas botas, depois ele me olha novamente e deixa seu corpo tombar para frente, segurei ele pelos braços para que não se esborracha-se no chão, Chal aparece e pega o idiota no colo.

- Nunca achei que seria tão fácil capturar um príncipe que luta tão bem - Comentou Robert enquanto andávamos rapidamente de volta para o navio

- Nunca achei que capturar alguém resultaria em ficar com as botas sujas de vômito - Digo

As ruas agora estão quase desertas, também, deve ser umas dez horas da noite.

Amor e Espadas Where stories live. Discover now