capítulo 11 - Miller

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  Nós estávamos andando em silêncio, minha curiosidade está me matando! Quero tanto saber qual é seu nome, o apelido "piratinha" que criei em minha cabeça para se referir a ela é bom, mas não quero ficar chamando ela assim, necessito saber seu nome verdadeiro.

- Qual é o seu nome? - Perguntei não me
aguentando de curiosidade

- Sabia que não ia dar certo escrever trouxa na minha testa - Disse ela séria como sempre

  Olhei para ela sem entender

- Você falou que iria fazer um retrato falado nosso quando você saísse daqui. Acha mesmo que sou trouxa a ponto de te falar meu nome?

- Você tem razão, piratinha

  Realmente ela estava certa. Eu não iria falar o nome dela, nem fazer o retrato falado deles, mas se fosse alguém que realmente fosse fazer isso, ela falar o nome dela só ia facilitar as coisas para achá-los

- Não me chama de assim - Ela parecia
brava.

  De repente o apelido "Piratinha" ficou muito mais interessante.

- Então como te chamo, piratinha?

- Não precisa me chamar de nada!

- Tá bom... piratinha - Ela me olhou com uma cara de quem iria me matar se eu abrisse a boca novamente, ela estava tão fofa, suas sobrancelhas franzidas, as bochechas estufadas e um biquinho.

  Nós andamos mais um pouco, até que uma menina começou a correr em nossa direção, quando chegou perto, a menina começou a fazer sinais com as mãos, a piratinha respondeu com outros sinais. Deduzi que elas estavam falando em libras.

  A menina abraçou a piratinha e saiu andando para o lado oposto do nosso.

- O que vocês conversaram? - Perguntei

- Pedi para ela avisar os outros que você estava comigo - Respondeu ela retomando a caminhada

- Por que vocês falaram em libras?

- Ela é surda

- Hum

- Por aqui - Disse ela virando em uma rua a direita - estamos quase chegando, vossa curiosidade real

- Eu tenho um nome, sabia?

- Sim, vossa obviedade real

- Então por que não me chama pelo meu nome?

- É mais legal te chamar de vossa qualquer coisa - Ela sorri debochadamente.

  Ao longe vi uma mina de carvão gigantesca, o local era barulhento, o ar poluído coçava meu nariz. Eu não fazia a menor ideia da existência daquele lugar

- Chegamos - Informou ela

- Por que você me trouxe aqui? - Perguntei

- Para te mostrar como funciona

  Ela me puxou pelo braço e me arrastou para dentro daquela mina. Lá dentro, quase cem por cento dos funcionários são mulheres. As mineradoras batiam suas marretas sincronizadamente, enquanto outras iam e vinham com carrinhos de carvão.

- Lembra daquela mulher grávida? - Perguntou, fiz sim com a cabeça - Você perguntou por que ela não trabalha, você realmente acha que tem condições dela trabalhar aqui naquele estado?

- Não... - Respondi meio culpado pela besteira que tinha falado

- Aquela mulher certamente tem um marido, afinal ela não fez três filhos sozinha, provavelmente este marido está na guerra, servindo sem receber um tostão e às vezes nem volta vivo. A mulher deve trabalhar nesta mina, ganhando dois reais por hora, e obviamente não está indo por conta do bebê que está para nascer.
"Seu filhinho maior, que deve ter uns sete anos, daqui a três anos vai ser arrastado para a guerra. A vida aqui é assim."

  Como eu não sabia disso? Como meu tio não me falou sobre isso? Por que meu tio não faz nada para mudar isso? Será que meu tio sabe de tudo isso? Era constrangedor uma pessoa qualquer estar me explicando como funciona a vida no meu próprio reino.

  Eu costumo dar voltas na minha cidade a noite, para ver como anda as coisas, passo em algumas lojas que ainda estão abertas, converso com algumas pessoas que estão andando pelas ruas, mas eu nunca me identifico, sei que se eu falar quem sou todos vão ficar sem graça e responder aquilo que eu quero ouvir. Só que nem sempre o que queremos ouvir é o que devemos ouvir.

  Eu nunca tinha pensado que o que acontece na cidade onde moro é diferente do que acontece no resto do reino. Pelo visto, não conheço nada sobre o lugar que um dia eu deveria comandar.

Amor e Espadas Where stories live. Discover now