VII | Fim

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" O que você foi 

não vai acontecer de novo".

- Bukowski


PRETO

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PRETO. MEU VESTIDO É PRETO, tão curto quanto aquele que usei no coquetel.  

Eu não era mais a garota esculpida da alta sociedade, agora há uma mancha em mim. Eu gostei disso.

Olho para o vestido que havia escolhido há semanas atrás para esse dia, era uma representação do que eu era, do quanto mudei.

Meu peito liso está exprimido no tecido, criando um bom volume. Meu cabelo macio está solto, as mechas lisas caiam na costa.

Logo após esborrifar o perfume no pescoço escuto meu telefone tocar. Uma mensagem.

Cheguei.

Pego o antigo vestido, aquele que tinha um zipper o cortando até a virilha. 

No quintal, faço uma fogueira e atiro o tecido nas chamas.

Pego o cigarro que havia roubado de Alex e começo a fumar.

Não há mais volta. Havia destruído a ponte, quem eu era estava perdido para sempre.

— Meus Deus! Giulia!

Camille joga água no fogo, deixando apenas cinzas e fumaça.

— O que você tem na cabeça?! O que aconteceu com a menina criados de modo aristocrático?! — Ela grita com o rosto vermelho de fúria.

Meus olhos pinicam.

— Morta! Ela está morta! Tão profundamente morta que nem os vermes da terra podem encontrá-la!

Ela fica um tempo olhando para minha face no escuro.

— Estou decepcionada com você, não imagina o quanto... — Ela respira fundo, cansada. — Eu te considerava como uma filha, mas agora... Mal consigo olhar para o seu rosto.

A culpa abocanha meu coração, mas havia chegado longe demais.

— Eu não me importo, eu sinceramente não me importo.

Então, dou as costas para ela uma última vez.

****

Enrolo o espaguete no garfo e enfio na boca. O som de talheres e conversas consumiram o silêncio que havia entre nós.

Giro a taça de vinho suavemente, meus dedos cintilavam com as joias caras, todas foram presentes de Alex. Sempre me recusei a usá-los, mas agora, eles eram um lembrete do que eu havia sobrevivido.

Limpo os lábios que continham resquício de molho de tomate.

— Você está deslumbrante. — Ele diz, permeando seus olhos escuros em mim, como fez a noite toda.

Enrico está deliciosamente vestido em um terno azul marinho, o cabelo está perfeitamente ajeitado. Isso arranhou levemente minha determinação.

Dou um sorriso tímido após suas palavras, a excitação toma meu corpo quando observo uma pontada de esperança em seus olhos.

Machucar.

Essa forma de defesa está encrustada profundamente em meu sangue, Enrico me machucou, agora precisava revidar.

Ele vai sangrar.

— Eu deveria ter escolhido um lugar mais reservado. — Falo, enrolando mais macarrão no garfo.

— Podemos sair daqui.

Assinto.

Olho para taça de vinho quase intocada, precisava fazer isso sóbria. A bebida poderia ser um problema.

Permito que Enrico passe o braço ao redor da minha cintura enquanto caminhamos pela noite fria da França, fogos de artifícios explodem no céu com as cores da bandeira do país. 

Chegamos em um modesto hotel. No pequeno cúbico havia apenas uma cama de solteiro e escrivaninha.

Acomodo a garrada de vinho cheia no criado mudo.

Enrico me ataca, seus lábios se chocam com os meus. Talvez, ele possa sentir a morte se aproximando de mim.

Não luto, apenas me entrego àquele fogo avassalador que consome meu corpo.

— Por favor, por favor... Não vá. — Ele implora.

— Você quebrou meu coração. — Sussurro. — Você quebrou meu coração.

— Gia... Gia... Gia...

Ele me aperta em seus braços com tanta força que sinto minha costela doer.

O fim machuca, mas as lembranças do começo destroem.

— Se você fosse outra pessoa, quem seria? — Pergunto.

— Seria o cara que lhe entregaria flores, seria o cara que te abraçaria em meio aos terrores noturnos. Seria o cara que faria o certo por você.

Seria

Seria

Seria

Mas nunca é. 

A vida já havia nos despedaçado, estávamos longe demais para encontrar a redenção. Eu pelo menos estou. 

Por quê?

Por que não poderíamos ser certos um para o outro?

Por que os traumas tinham que destruir qualquer chance de felicidade?

Meu celular apita. Uma mensagem chega.

Torre Eiffel 22 horas.

Faltava quinze minutos e não estava longe do lugar, poderia ir a pé.

Dando um último olhar para o homem que quebrou meu coração e vou embora, deixando tudo com ele, menos o vinho.


Assassinato em ParisWhere stories live. Discover now