- Ele não parece ser do tipo que vai muito à cidade. Eu andei perguntando por aí enquanto fazia compras, mas ninguém fala muito sobre ele. É esquisito. Ele é esquisito. - Vitória colocou o bolo em um prato e escolheu um pano de bolinhas para cobri-lo. - Você ainda vê ele à noite pela janela?
- Todos os dias. Pelo menos os dias em que eu lembro que também sou escritora e que preciso entregar um manuscrito. Aí fico com um olho na tela e o outro na janela do meu quarto. - Mari suspirou, exasperada. - Por que ele só sai à noite? A gente nunca viu o cara durante o dia! É muito estranho.
Vitória fez uma careta.
- Vê se toma cuidado, Mariella. Eu sei que se você não for lá, não vai ter sossego nunca. Então entrega o bolo, dá uma boa olhada nele e volta depressa.
- Relaxa. Não é como se ele fosse um ser das trevas ou algo assim, né?
- Você bem queria que fosse. - Vitória olhou para a amiga e sorriu. - Você acha que eu não conheço essa sua cabeça? Toda essa história só tá te deixando ainda mais inspirada para escrever o livro.
Mari arquejou.
- Isso é um absurdo! Eu simplesmente quero ser uma boa vizinha gentil.
- Conta outra. - Vitória colocou o prato nas mãos dela. - Anda, vai logo.
- Você vai ficar bem aqui sozinha?
- É claro que sim. Vou desenformar o outro bolo e sair por aí pra fotografar. Sério, Mari, esse lugar é lindo demais! Meu Instagram tá bombando com as novas fotos. Pensei em conhecer as outras cidades da região um dia desses.
- Isso aí - Mari disse, empolgada pela amiga. - Você tá aqui pra isso mesmo. Vai explorar!
Vitória sorriu toda radiante e desejou sorte com o vizinho.
Se munindo de coragem e muito carisma, Mari deixou o castelo e seguiu pela grama rasteira e as elevações suaves dos campos daquela região até a casa enorme perto dali.
Quando a sombra da mansão se agigantou sobre ela, Mari precisou respirar fundo e esperar um pouco antes de subir as escadas de pedra que levavam a uma varanda grande e portas duplas requintadas. Ela viu seu reflexo distorcido na maçaneta dourada reluzente. Seus próprios olhos castanhos a encaravam com apreensão, a pele com certeza mais pálida que o normal.
De uma vez, Mari tocou o interfone ao lado das portas.
Ela esperou. Um momento atrás do outro.
Se balançou para frente e para trás, batucou as unhas que precisavam urgentemente ser feitas na base do prato e brincou com a série de brincos e piercings dourados que tinha nas orelhas.
Um segundo se arrastando até o outro.
Mari estava presente a tocar o interfone de novo quando o som inconfundível de passos a fez ficar parada no lugar. As portas foram destrancadas com um click e, ao contrário do que ela esperava, uma senhora baixinha, magra e com um coque tão apertado que dava dor de cabeça só de olhar, a atendeu com as sobrancelhas franzidas.
- Posso ajudar?
Mari engoliu em seco e abriu um sorriso amplo.
- Oi! Eu sou a Mariella, sua nova vizinha. Eu moro no Castelo Cavalieri, bem pertinho daqui. - Como uma idiota, ela apontou para a mais que visível construção no topo da colina. - Nós somos os vizinhos mais próximos, então quis vir me apresentar. Eu fiz um bolo de chocolate.
E Mari o estendeu para a senhora mais rápido do que se estivesse segurando uma batata quente.
A mulher olhou para o prato coberto como se ela tivesse oferecido larvas. O olho esquerdo de Mari começou a pular e seu sorriso foi se desfazendo aos poucos.
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Um castelo de presente
RomanceMariella não esperava herdar um castelo medieval italiano da noite para o dia. Ela estava ocupada demais tentando criar o irmão mais novo depois da morte da mãe e escrever seu novo livro no tempo certo para ficar sonhando acordada com heranças, cast...
quatro
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