Chegadas

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Eu não achei que viajaríamos em um jato particular, mas tentei esconder minha surpresa ao chegar no aeroporto e me ver indo para a pista.

De todas as formas, isso em algum momento do meu passado aconteceu diversas vezes, acho que só me desacostumei por isso eu não pensei que ele iria alugar alguma aeronave para a viagem. Foi até bom porque eu pude ler boa parte do meu livro num canto sozinha, sem intervenções ou barulhos, sei que num voo comercial isso não seria possível.

Ontem foi o dia do meu casamento no cartório e só.

Foi uma formalidade na qual precisei passar, contudo, também fui surpreendida com a ausência do meu novo marido. Me senti meio trouxa por ter de alguma forma pensado que ele iria para o quarto a noite.

Soube através de uma mensagem formal — parecendo que era de um robô — que ele não viria por volta das 20:35. Eu havia tomado um banho e vestido uma camisola de seda que tenho já há um tempo, havia passado um hidratante e perfume, acabou que o resto da minha tarde após meu casamento forçado se resumiu em um almoço sozinha, eu dormindo, eu acordando e tomando banho, esperando-o e depois jantando sozinha de novo.

Eu sei que estou mais aliviada porque ele não foi, mas como dei minha palavra e sei que devo engravidar e dar a ele seu tão desejado herdeiro, quis ficar o máximo disponível. Já tem um tempo que eu não sei o que é ter um contato com um homem, mas com certeza imagino que não seria tão diferente do que sempre foi para mim.

Meu celular despertou às 06:00 da manhã em ponto, depois me vi tomando outro banho e colocando uma calça de moletom branca e uma camiseta de cor cinza, as 07:00 eu já estava pronta, as 07:05 ouvi o som do cartão passando na tranca eletrônica e logo em seguida, bem diante dos meus olhos, boca de fumaça estava me procurando, calça de brim — habitual. — camisa social preta e óculos escuros.

Peguei minha pequena mala e minha mala de mão, então o segui em silêncio até o elevador, ele estava com uma cara que nem o óculos escondia, não precisei de muito esforço para notar que ele havia passado a noite bebendo e quem sabe acompanhado?

Bem, não era da minha conta.

Evitei contato visual, me mantive calada, mesmo que de alguma forma fosse incomodo concluir aquilo. Porque não esperava que ele fosse ser desses homens fiéis e leais, ora, não Alexander Alcântara, um homem como ele jamais entenderia sobre isso, contudo, eu ainda achei que de alguma forma ele seria no mínimo discreto quanto a isso.

O carro nos levou até o aeroporto e o trajeto foi silencioso.

Ele se manteve distante por toda a viagem.

O ouvi conversando com uma das comissárias de bordo, a voz baixa e longe de qualquer arrogância, educado até, isso me deixou de diversas formas chateadas, foi como quando ele se apresentou a Lud e beijou a mão dela.

A mim restou o apelido de sorriso de cavala.

E isso continua não sendo engraçado dito por ele.

A pequena tripulação me tratou muito bem, pedi um chá e biscoitos porque fiquei com receio de enjoar, eu estava ainda cansada devido a correria das últimas semanas, pensando bem, estou, então depois que li, acabei adormecendo, acordei com a comissária de bordo me avisando sobre o pouso, que eu deveria colocar o cinto.

Agora estamos em um outro carro, esse é um Chevrolet de luxo, ainda não entendo muito bem de carros, mas esse só pela elegância sei que é caro. Entre algumas lidas de parágrafo observo a metrópole, San Diego.

A cidade é cercada por uma costa, é belíssima, marcada por prédios altos e construções bastante pitorescas.

Ouso olhar para o lado, Alexander Alcântara está mexendo no celular, estou tentando ler mais uma página do meu Caetés, Graciliano Ramos, acho que já é a terceira vez que leio nos últimos dois anos.

— Minha mãe preparou um rápido brunch para nós dois, nada muito formal, meus irmãos estarão lá assim como meu pai.

— Está bem.

— Como passou a noite?

— Ótima.

— Bom.

Eu imagino como foi a sua, mas não é da minha conta.

Ainda não discutimos como será isso, achei que ele queria da forma tradicional e quebrei a cara, agora estou começando a pensar que talvez ele deseje de fato uma barriga de aluguel original, uma inseminação artificial ou algo do tipo.

Será que ele é gay enrustido?

Não, não, não vou ofender os gays assim.

— Você leu a minha mensagem?

— Sim.

— Então por que está brava?

— Eu não estou brava.

— Está sim!

— Não, não estou — respondo tranquilamente. — O que você faz na sua vida particular não é da minha conta.

— Você achou que eu voltaria para o seu quarto? — ele indaga com certo desdém.

Continuo a olhar para a página do meu livro dizendo a mim mesma para ignorá-lo, eu não vou deixar que ele me perturbe por conta disso, estou fazendo a minha parte, se ele não deseja cumprir com a dele, problema dele.

— Ah, Rachel, achou mesmo? — ele questiona mais perto ainda cheio de desdém.

Sinto o cheiro de uísque, ah, eu sabia!

— Saí de perto de mim com esse bafo de cachaça para lá, cachaceiro — faço uma careta e movo a mão mandando-o afastar. — Além de ser um boca de fumo ainda é um boca de álcool.

Olsen dá uma risada no banco da frente, Alexander fica me olhando sob as lentes escuras com cara de quem comeu e não gostou.

— O Pacote completo vem com o que mais? Duas puta e um baralho?

Olsen sufoca a risada, ele continua a me encarar todo sério, sei que tem raiva do que eu falei, mas não sou obrigada, não fumo, bebo socialmente, não me prestaria a esse papel, não mesmo.

— O que está insinuando? — questiona entre dentes. — Quem acha que é para me encher de cobranças? Eu por algum acaso falei dessas sobrancelhas de espantalho?

Olsen para de rir, me sinto ligeiramente atacada pelo jeito odioso que ele fala a respeito da minha aparência, ok, estou dizendo coisas sem pensar, mas não precisava que ele falasse logo das minhas sobrancelhas.

— Me desculpe, eu não vou mais falar a respeito dos seus hábitos — é o que eu digo.

Ele não diz mais nada, vira a cara para o lado.

Sinto vontade de chorar, mesmo que eu esteja sendo meio que infantil em diversos sentidos.

É uma ferida de infância, mas bem, vou cuidar disso mais uma vez, afinal de contas eu quem comecei.

É bom que eu vou começando a entender de uma vez por todas que não importa quem esse homem é, o que faz, com quem está, quais vícios tem ou não, não é da minha conta.



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Prometida Ao BilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora