Amiga

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— Já decidiu o que vai fazer?

Olho para Ludmila.

Olhos castanhos apontados para mim feito os de uma águia.

Chamei minha melhor amiga para terminar de organizar as coisas do apartamento do meu pai. Ainda tenho dúvidas e receios sobre tudo, ainda não decidi, mas depois daquela conversa que tive ontem com o Soares de uma coisa eu tenho certeza, não quero que a empresa na qual meus pais lutaram tanto acabe nas mãos de um completo estranho.

— Eu não sei.

— É sério que você está pensando na possibilidade de se casar com um completo desconhecido?

— Eu fui morar com o Carlos por amor e olhe a sarjeta em que me enfiei, Lud.

Ela me lança um olhar coberto de pena, mas sabe as poucas e boas que eu passei nas mãos daquele monstro. A verdade é que eu passei bons anos da minha vida enfiada naquele relacionamento tolerando um bocado de coisa em nome do "amor" até que um dia percebi com desgosto que só eu era a pessoa que amava.

Depois que tudo isso aconteceu, me afastei dos homens, não quis mais me relacionar com ninguém, tentei seguir com a minha vida, também, foi apenas um pouco antes do diagnóstico de câncer do meu pai, não houve tempo para pensar em nada além do óbvio.

Ludmila é minha amiga desde a adolescência, são mais de vinte anos de amizade e altos e baixos dos quais temos partilhado com bastante respeito e dentro do possível, equilíbrio.

Os pais dela meio que obrigaram ela a se afastar de mim quando fui morar com o Carlos, mas isso nunca nos impediu de conversar via mensagem ou ligação. É incrível como todo mundo via quem ele era menos eu.

Ela é formada medicina e trabalha atualmente no Hospital de Clínicas de São Paulo, foi uma das únicas pessoas que me deu força e me ajudou com as questões de internação do meu pai com a vaga e tudo mais. No velório também já que eu não tinha tanto dinheiro, ela quem me emprestou todo o dinheiro há duas semanas para o enterro e velório.

— Eu entendo, mas sempre tem um jeito.

— Eu acho que dessa vez não.

Ludmila é loira, tem olhos verdes, é magra, mas baixinha, cabelos lisos e cumpridos, é uma mulher na casa dos trinta e cinco assim como eu, mas acredito que muito mais feliz com as próprias escolhas do que fui.

Poucas vezes na vida me questionei sobre meu diploma e sonho de trabalhar em uma grande editora como agora, se eu tivesse estudado administração assim como meu pai desejava provavelmente não haveria deixado ela gastar boa parte do dinheiro ou vender a empresa do jeito que ele vendeu.

Só que parece tão tarde também para lamentar sobre isso.

A empresa já foi vendida, meu pai está morto e eu não tenho tantas alternativas assim de recuperar a empresa.

O valor em dinheiro corresponderia a milhões que nem em sonhos eu poderia ter, nem mesmo o meu apartamento neste mesmo bairro há alguns quarteirões poderia pagar menos de 0,00000001% do valor da Sacramento.

— Você vir morar comigo...

— Nem pensar, ainda mais com aquele choco do Rodrigo!

— Não fala assim do meu irmão, ele é um fardo, ok, porém ele ainda lava os pratos e limpa a casa quando a Rosa não vai.

Rio.

Rodrigo se divorciou recentemente e está morando com a Lud até arrumar um lugar para ficar, ele tem um filho que mora com a ex dele, pelo que a Lud comentou comigo foi um divórcio amigável e o irmão dela saiu meio sujo na praça, traiu a ex-esposa com uma amiga dela.

Prometida Ao BilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora