Acordo

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— Você está muito calada.

Estou analisando minha aliança dourada no anelar esquerdo.

É uma aliança fina e delicada que foi colocada no meu dedo há alguns minutos. Também coloquei uma aliança no dedo dele, não é a primeira vez que alguém coloca uma aliança no meu dedo ou troco alianças com alguém, só que isso foi feito de um jeito tão automático e sério que me fez refletir sobre os conceitos que formei ao longo dos anos sobre casamento.

Eu me acostumei muito com livros de romance em que a mocinha se casava por amor e no final tudo acabava bem, em parte o encantamento e a promessa de estar com alguém envolve toda essa magia, contudo, não dei sorte na vida real.

Na realidade beijei dois sapos e um monstro, agora tem esse que eu acho que não quero beijar tão cedo.

Estamos dentro de um carro rumo a um hotel para almoçarmos e bem, não quero pensar que terei que transar com ele hoje à noite porque eu não estou pronta, mas se for para ser assim, eu vou fazer.

Porque eu tomei todas as decisões por livre escolha e isso nunca me trouxe coisas boas, é a primeira vez na vida que permito que meu pai tome decisões por mim e se for ruim, ao menos não carregarei a culpa de que não cumpri com o juramento que fiz.

Eu sei que vai ser mais uma merda, porém, ao menos dessa merda eu não sairei perdendo tanto quanto da última vez.

— Estou cansada.

Eu não via o senhor Alcântara há mais de três semanas, depois da visita dele ao apartamento do meu pai e o café mais silencioso que já tomei na minha vida com alguém, ele meio que sumiu.

Seu advogado e eu nos reunimos dois dias depois de sua visita e ele não estava presente, ele leu todos os papéis que envolvem esse contrato que eu descobri que é de barriga de aluguel e quem também deixa claro que depois da dissolução do casamento ele me devolverá a empresa que era do meu pai e os bens que eu desejar.

Ouvi por duas horas a leitura desse contrato e disse a mim mesma que não poderia e nem iria voltar atrás.

Que trataria tudo com o máximo de frieza possível e que não me arrependeria porque preciso mais desse acordo agora do que quando só se tratava do juramento que fiz ao meu pai.

Quando assinei os papéis só estava aliviada de saber que estaria longe de São Paulo dentro de algumas semanas.

Não saí do apartamento do meu pai para pelos sete dias seguintes a assinatura do contrato, durante esses dias usei alguns reais do meu saldo na conta para trocar o meu chip de celular e fiz o cadastro no CPF do meu pai, sei que é errado, mas conviver com a insegurança de saber que o Carlos poderia me encontrar é complicado demais.

Isso me custou quase três anos de terapia e ainda assim não consigo esquecer o tamanho do estrago emocional que ele e a família dele fizeram na minha vida. Financeira e emocionalmente.

O pior de tudo é ter perdido algo tão importante no meio do caminho.

Depois que terminei de organizar tudo no apartamento do meu pai, já estava com um novo número e conseguiu um caminhão de mudança voluntária para levar todos os bens de doação para os locais onde ficariam, por fim, quando acabou todo o movimento, chorei um bocado ao ver todos os cômodos vazios, o apartamento do meu pai foi trancado por mim e depois voltei para o meu.

Estava atenta a tudo, paranoica e inquieta.

Essas últimas semanas resolvi tudo o que podia via internet e telefone, tenho conversado com a Lud por mensagem, mas ela se afastou. Não doei nada do meu apartamento e guardei os pertences dos meus pais nos meus armários, fui deixando tudo pronto para minha mudança.

Prometida Ao BilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora