Perdas

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Passo pelas portas largas ignorando as vozes que me dizem para ficar desesperada.

Porque sei que isso não é algo que me levará a lugar algum.

Eu tenho evitado tanto pensar nisso, tenho me agarrado a fé e a força que me prende aos sentimentos de melhora que me vêm quando me lembro do meu pai. Ainda que aos seus olhos eu seja a filha rebelde que nunca correspondeu as suas expectativas.

Eu sei que todos esperam que num momento desses devido ao tempo em que seu ente querido está sob os cuidados paliativos, se reaja com mais tranquilidade, só que este não é o meu caso.

Não mesmo.

Ainda não deixa de ser surreal pensar que hoje o meu pai está internado num hospital público de São Paulo dependendo do dinheiro do governo enquanto há menos de sete anos atrás, ele e eu estávamos fazendo uma viagem juntos pela Grécia e desfrutando de hospedagem em um hotel caro de Atenas.

Fiquei meio agitada quando me receberam na recepção, a assistente social foi contando sobre a piora que ele teve, eu ouvia em silêncio sobre tudo o que já sabia, só que dentro de mim foi como apertar um botão que fez com que um zumbido infernal soasse no meu ouvido e ficasse por momentos numa caixa do vazio tremenda.

Pelo choque de saber que não o visitarei novamente, pela dor que isso me causa, mas porque enfim, é o meu pai.

É a única pessoa que tenho viva na terra para chamar de meu.

Sigo pelo corredor atenta a linha amarela, é para lá que tenho ido nos últimos dois anos desde o diagnóstico de câncer de fígado do meu pai e é onde ele fica internado para o tratamento da doença.

Ele não gosta que eu o acompanhe então tenho gastado até meus últimos recursos para pagar a uma acompanhante durante suas internações para as sessões de quimioterapia. Sei também que esse tratamento é um adiamento do inevitável, que segundo os médicos, não há mais nenhuma projeção de que ele melhore.

Eu tenho me preparado tanto para esse momento, dito a mim mesma que terei que enfrentar isso, mas dói tanto imaginar por mais que pareça egoísta da minha parte querer que ele fique.

A verdade é que eu nunca parei para imaginar o tamanho da dor que o meu pai tem sido submetido com o tratamento, ele já passou por duas cirurgias e nenhuma das duas trouxe muitos avanços, sei que ele já está em fase de metástase, o câncer afetou a vesícula e se espalhou por outros órgãos.

Não sei como as minhas pernas obedecem, minhas mãos soam frias e tento afastar as sensações de frio na barriga enquanto caminho até a ala onde ele está internado. Fecho e abro as mãos depressa dizendo a mim mesma para respirar fundo e não acabar desmoronando diante dele.

Ele está pouco consciente e não terei muito além de poucas horas com ele para me despedir.

Essa palavra me incomoda muito mais agora.

Odeio despedidas.

Foi assim com a minha mãe, com minha única irmã e agora será com ele.

Será que eu vou aguentar?

Estar diante disso só me faz desejar ter um pouco mais de tempo, mesmo que eu saiba que não terei mais tempo com ele nessa vida.

Eu e o meu pai somos aquele típico clássico de qualquer filme clichê onde o pai e a filha têm uma relação maravilhosa, até que em certo ponto da história a filha decide seguir seus próprios passos que ao ver do pai não são os corretos, então, o pai afasta-se da vida da filha como punição pelas decisões dela.

Prometida Ao BilionárioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora