Recém-chegado

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Observo as caixas com os pertences do meu pai.

Aqui alguns ternos e camisas sociais que ele usou nos últimos anos. Em outra caixa uma série de gravatas e cuecas de cores neutras, mais uma com sapatos muito bem engraxados, contudo, a caixa da qual sei que será impossível me despedir é a que tem nossos álbuns de foto.

Eu sei que isso é algo do qual nunca darei para ninguém.

Tive que vir até o antigo apartamento do meu pai para pegar seus pertences, o lugar está organizado e limpo, porém, não há nada mais aqui, a pessoa que deveria estar sentado em uma poltrona confortável na sala lendo um jornal impresso — mesmo nos dias de hoje. — não está mais neste plano.

Enterrei-o semana passada, não me assustei com as poucas pessoas, não tenho mais familiares e meu pai era filho único. Por parte de mãe nenhum no Brasil, todos moram na Espanha, mas meus avós ligaram de lá desejando os pêsames, mesmo que eu não seja próxima de nenhum deles.

Ainda não tive tempo para pensar em nada depois do velório e do enterro, mas sinto que de alguma forma meu pai estava em paz quando se foi, talvez isso me console, saber que ele sentia muita dor e que isso nunca mudaria pareceu egoísta demais da minha parte, e, portanto, decidi tentar dizer isso a mim mesma sobre esse momento difícil.

Chorei bastante, senti que não tinha forças, mas eu consegui.

Ainda contei com o apoio da Ludmila minha melhor amiga, ela esteve lá comigo resolvendo tudo em relação ao velório e sobre as questões mais burocráticas.

Escuto o som da campainha, combinei que a Francisca viesse hoje para pegar seus últimos pagamentos, ela também foi ao velório e ficou comigo durante todo o processo assim como minha melhor amiga, ainda nem tenho palavras para agradecer a ambas por todo o suporte e apoio.

Não é fácil quando não se tem mais ninguém da família para dar algum tipo de apoio ou palavra de conforto.

Saio do quarto e vou até a sala, ainda tem bastante coisa para organizar aqui, tem os quadros do meu pai, sua coleção de vinil, sua coleção de pinturas pessoais, sem falar que também preciso pensar sobre os móveis.

Abro a porta me esforçando para sorrir, mesmo a contragosto, mas não preciso de muito para continuar sorrindo, só que ao mesmo tempo sou tomada por essa surpresa confusa de rever a figura masculina enorme diante dos meus olhos.

— Olá, Rachel.

— Olá, Senhor Alcantara.

Acredito que seja meio impossível de me esquecer desse rosto.

Não gosto de lembrar daquele dia, mas depois que o meu pai faleceu o senhor Alcantara teve que me puxar para longe dele, as enfermeiras e o médico de plantão pediram que nós saíssemos do quarto, a Francisca também teve que sair, me vi sendo puxada para fora completamente desconsolada, mesmo que meu pai estava já em estado terminal, não havia necessidade de reanimação, porém, é procedimento do hospital que seja atestada a hora da morte e checagem da ausência de todos os sinais vitais.

Ele me levou para um canto naquele corredor e me colocou sentada em uma das cadeiras de espera, fiquei por momentos chorando em estado de choque, mas ele não saiu do meu lado, também houve um momento em que a Francisca me acompanhou até o banheiro para que eu lavasse meu rosto, depois disso, não o vi mais.

— Eu posso entrar?

— Ah, claro.

Eu entendo o caráter da visita.

Prometida Ao BilionárioWhere stories live. Discover now