4

93 8 13
                                    

Eu queria muito que as coisas dessa fic aqui fossem inventadas mas como vcs podem ver no vídeo KKKKKKKK eh tudo real

-------------

Lavo as louças que usamos no café da manhã na pia com calma, estranhando a sensação de rotina que me toma neste gesto. De repente me sinto adaptada, quase prevendo o espaço a minha volta, decorando os detalhes. Levantei no mesmo horário que ontem, e o café da manhã foi ao mesmo estilo extremamente nutritivo que Kabul pregava. Mas André desta vez não me fez companhia, treinou, e entrou na mata levando apenas um facão e um chapéu de pescador. Já era mais tarde, e então ele retorna de surpresa, me indicando que talvez não tivesse ido desenterrar mais barris de cocaína, já que isso levava praticamente o dia inteiro.

Ele atravessa a porta e eu o assisto caminhar pela casa através da visão periférica, aos poucos ele sai do campo onde enxergo e suspeito que foi guardar seu facão. Eu balanço alguns copos que acabei de enxaguar e começo a enxaguar os outros. Marcelo está varrendo folhas no quintal pela milésima vez e não faço ideia de onde pode estar o Pixador. Isso ajuda a pegar o espírito da estadia aqui, mas me assusta ao mesmo tempo.

- Pega, menina.

Me assusto ao ouvir a voz de André bem ao meu lado. Não me viro, apenas olho de esguelha enquanto ele deixa duas coisas sobre a bancada metálica da pia: duas folhas enormes de babosa e um coco marrom fechado. Meus olhos meio receosos rolam pela figura dele, com um pouco de curiosidade e um pouco de cuidado. Me sinto uma gatinha encolhida perto dele, ainda que resista para não ser.

- Que isso? - pergunto, notando que hoje ele parece bem menos exausto do que de costume. Usa sua corrente dourada e o cabelo médio, de um castanho profundo, fielmente repartido ao meio, e muito bem aparado nas arestas.

Ele dá de ombros e mexe no coco como se o conferisse.

- É pro cabelo. Bate o bagaço do coco com a babosa que vira shampoo - ele explica bem prático e rígido, gesticulando com as mãos no próprio cabelo. Eu, que raras vezes comia comida orgânica ou tinha contato com qualquer coisa natural na selva cinza de São Paulo, fiquei surpresa por ele saber esses truques, que para mim são coisas de avó. Ele é gentil, no fim das contas - Faz bem, fica brilhando -

Fico em silêncio, encarando as plantas no balcão, quando penso em agradecer é que ele já está se afastando e indo em direção a porta.

- André - chamo com um pouco de pressa. Me arrependendo de ter chamado logo em seguida. Ele para no meio do trajeto rumo a porta, se vira por completo e me encara. Eu não faço idéia do que dizer, ou de como dizer, mas encontro as melhores palavras que podia - Muito obrigada - lhe dou um meio sorriso tímido.

Ele dá de ombros e aparenta não dar a mínima pra isso.

- Termina o seu serviço que eu vou te levar pra conhecer uma pessoa.

Leva mais alguns minutos, mas eu enfim consigo terminar o que faltava fazer. Saí da casa usando as roupas mais confortáveis que encontrei, mas que me mantessem livre de mosquitos. Encontrei André sentado lá fora, ele levantou-se da cadeira branca e deixou seu livro de lado ali por cima, dobrando a página onde tinha parado. Eu não tinha reparado até agora que André lia livros, mas parando para pensar, tinham alguns bem empoeirados dentro do quarto onde eu estava dormindo.

Ele me olha e então limpa as mãos na calça, quase como um gesto apaziguador. Ele estava meio... Ansioso?

- O que você tá lendo? - pergunto apontando discretamente para o livro largado na cadeira de praia onde nos sentamos juntos no outro dia.

- Sniper Americano - ele diz simples, piscando lentamente. Só agora nessa claridade específica eu percebo o tom de mel dos seus olhos castanhos.

- O livro do filme?

SANTOS, art. 33Where stories live. Discover now